Quadra de chuvas reduziu em 52% no registro do ano

Os produtores rurais vivem a expectativa de previsão climática para 2013. O Ceará enfrenta uma das piores secas dos últimos 50 anos e o setor agropecuário ainda apresenta forte dependência de chuvas para a produção agrícola e manutenção do rebanho. O quadro atual de prejuízo no campo, perda total da lavoura de sequeiro, morte de animais e o nível dos reservatórios que está reduzindo a cada mês revelam a necessidade de que o Estado tenha boas precipitações no próximo ano.

De acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia (Funceme), a média de chuva verificada de janeiro até ontem, em todo o Estado, foi 427,8mm, isto é, menos 52,7% da média do período. Neste ano, a média da quadra chuvosa (fevereiro a maio) foi de 349,4mm, um índice inferior de 51,2 em comparação com a média histórica para esses quatro meses.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com base em análise de temperatura das águas superficiais do oceanos Pacífico e Atlântico à altura da Linha do Equador, em outubro passado, revela a manutenção de um padrão desfavorável ao regime de precipitação das regiões Norte e Nordeste do Brasil. As condições climáticas, entretanto, podem sofrer alterações nos próximos meses. O quadro atual é de neutralidade em verificação à oscilação de temperatura das águas superficiais do Oceano Pacífico equatorial e do Atlântico em consonância com informações da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).

El Niño
O INPE aponta que há uma tendência de El Niño de baixa intensidade, mas desde setembro passado a evolução desse fenômeno climático desacelera. "No Atlântico, a previsão dos modelos indica a manutenção de um padrão desfavorável ao regime de precipitação das regiões Norte e Nordeste do Brasil", segundo informações do site do Inpe, atualizadas em 22 de outubro passado.

A Funceme somente vai divulgar a primeira previsão oficial para a quadra chuvosa (fevereiro a maio) na segunda quinzena de janeiro de 2013, entre os dias 22 e 23. Antes, no próximo mês, haverá uma reunião técnica na Paraíba ainda com data a ser definida para análise dos indicadores atmosféricos. Participam desse encontro meteorologistas dos Estados nordestinos, do Inpe e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

A reunião de dezembro vai analisar as condições de temperatura do Oceano Pacífico e do Oceano Atlântico, a formação e localização da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que é o principal fator determinante de ocorrência de chuva no Ceará, além de pressão atmosférica e dos ventos. "Esse encontro permite uma primeira avaliação das condições climáticas, troca e análise de informações entre diversos órgãos do setor", observa a meteorologista da Funceme, Dayse de Morais.

Atualmente, a temperatura do Oceano Pacífico e do Oceano Atlântico na altura da Linha do Equador está neutra. "O sistema permanece neutro, sem caracterização de efeitos El Niño ou La Niña, no Oceano Pacífico Equatorial", explica Dayse de Morais. "Em janeiro, esperamos ter uma definição de um desses sistemas", adiantou.

Para o prognóstico, três fatores são acompanhados com mais atenção, pois têm fortes influências na determinação da quadra invernosa no Ceará: as temperaturas dos oceanos Pacífico, Atlântico e a ZCIT.

Tendo por parâmetro a Linha do Equador, quando a temperatura superficial do Oceano Pacífico Equatorial está mais aquecida ocorre o efeito El Niño, que tende a provocar chuvas fracas e irregulares no sertão cearense. Se ocorrer o contrário, isto é, a temperatura do Oceano Pacífico Equatorial estiver resfriada, verifica-se o fenômeno La Niña, que favorece a ocorrência de precipitações no Ceará.

Utilizando o mesmo parâmetro, a Linha do Equador, a temperatura do Oceano Atlântico vai definir quadro de dipolo positivo (temperaturas mais elevadas no Norte e resfriadas no Sul) e Dipolo negativo, que é o inverso (mais frias no Norte e mais quentes no Sul). Para o Ceará, a ocorrência do dipolo negativo, isto é, águas mais quentes no Sul, é favorável, pois tende a manter a ZCIT sobre o Estado, provocando chuvas regulares e intensas no período.

Neste ano, ocorreu um fato curioso. Durante a quadra invernosa, verificou-se o efeito La Niña, que a princípio seria favorável para que houvesse um bom inverno. Entretanto, a formação de um dipolo positivo fez com que a ZCIT fosse deslocada acima da Linha do Equador, fazendo chover sobre o oceano, e não sobre o Estado.

Há de se observar ainda que os fenômenos La Niña ou El Niño têm duração mais prolongada (dois, três meses), enquanto que a formação de dipolo positivo ou negativo caracteriza-se por mudanças mais rápidas, de curta duração. Essas modificações podem alterar as previsões climáticas e foi o que ocorreu neste ano quando, segundo os modelos da Funceme, havia uma probabilidade maior (40%) para que as chuvas ficassem na média histórica que é de 715mm, e 25% acima. Abaixo da média eram 35%, mas ao final da quadra observou-se a seca.

HONÓRIO BARBOSA
REPÓRTER 

Fonte: Diário do Nordeste

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