Crato (CE): Cordel ambiental pode ser utilizado em sala de aula

"Fiquemos todos alerta ao que está acontecendo. Nosso planeta morrendo, sangrando em veias abertas. Nossas chances são incertas, talvez, já não haja cura. A realidade é dura e pode ser fatal". É assim que os cordelistas Paulo Ernesto e Paulo de Tarso chamam a atenção da população para as questões do aquecimento global e sobre a destruição da natureza.

Juntos e através da internet, eles escreveram um cordel sobre o tema, que atualmente preocupa as autoridades ambientais e é amplamente discutido em todo o mundo. A preocupação fez com que os dois escritores buscassem alternativas para tentar conscientizar crianças, jovens e adultos a respeito da emissão de gazes poluentes e quanto aos reflexos da ação do homem com relação a natureza.

Lançado recentemente na X Bienal Internacional do Livro do Ceará, que aconteceu em Fortaleza, o cordel "O aquecimento global tá destruindo a natureza" já está à disposição das autoridades do poder público regional para ser incorporado como ferramenta didática e objeto de estudo nas escolas da rede pública de ensino. Até agora, uma instituição particular do Crato já demonstrou interesse em adotar o folheto como material educativo em suas salas de aula.

Diante da simples e direta linguagem dos versos e da relação da temática com os nordestinos, que atualmente vivenciam uma das piores secas dos últimos 50 anos, a expectativa é que haja uma forte compreensão do cordel, que relembra grandes tragédias ambientais ocorridas.

Para os escritores, o tema tem grande relevância. O cordel "O aquecimento global tá destruindo da natureza" mostra que as ações por parte da humanidade em busca do controle da situação são valiosas e sem elas, o planeta está exposto a um colapso ambiental. O folheto repassa uma mensagem que deverá ser refletida nas próximas gerações, que podem pagar um preço alto pelos danos causados à natureza, além de tentar incentivar as boas práticas de conservação do meio ambiente.

"A região Nordeste tem uma ligação muito forte com a poesia e, principalmente, com o cordel, por ser uma arte genuinamente sertaneja. Assim, a gente espera criar uma identificação com o público e passar a nossa mensagem que acredito ser válida", disse Paulo Ernesto.

Elaborado na Academia dos Cordelistas do Crato, instituição com 21 anos de atuação e que, mesmo diante da modernização das tecnologias da comunicação, ainda utiliza o processo gráfico antigo, através da tipografia e xilogravura, o cordel está sendo apresentado aos futuros gestores públicos municipais, para que eles analisem a proposta de tratar do assunto nas escolas.

A expectativa é que, a partir do próximo ano, todos os estudantes tenham acesso às informações contidas no folheto. Para simplificar o processo de adesão, os escritores Paulo Ernesto e Paulo de Tarso dispensaram todo e qualquer tipo de remuneração ou lucro sobre a autoria. Eles fazem apenas Uma exigência: que seja paga a impressão dos cordéis, trabalho feito na Academia dos Cordelistas.

"O aquecimento global tá destruindo a natureza" foi escrito à distância pelos dois cordelistas, estando um no Crato e outro em Tauá, no intuito de promover a visibilidade da literatura de cordel e divulgar a arte.

Ainda em 2006, os poetas participaram de um festival de versos que estava sendo realizado em nível nacional. O tema ganhou notoriedade e o título foi votado e selecionado como o segundo melhor entre os concorrentes, dentro de uma das etapas do julgamento.

Elemento cultural
Atualmente, a maioria dos cordelistas escreve de forma simples e autêntica, mas com conhecimento de causa. A arte é analisada como elemento cultural. Os temas mais abordados pelos autores são a política, ética, religião e críticas sociais a sistemas públicos, além de biografias e criação de histórias cômicas.

No Cariri, empossados na Academia de Cordelistas do Crato existem 20 sócios. Mas, o número de poetas escritores chega a ser superior a 200, em estimativa extraoficial. Anualmente, a média de produção é de 100 títulos. No Crato, a tradição do cordel está relacionada à figura de Elói Teles Morais, que durante 35 anos manteve um programa diário de poesia popular.

Na década de 80, foi profetizada a morte do cordel, mas, devido à iniciativa dos poetas, a literatura permanece mais viva e atuante do que antes. Hoje, há projetos de incentivo à cultura regional que contemplam a arte.

Mais informações
Academia de Cordelistas do Crato
Praça Cel. Filemon Teles, S/N
Crato - CE
Telefone: (88) 3523.3947

YAÇANÃ NEPONUCENA
REPÓRTER 

Fonte: Diário do Nordeste

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