Plano Real faz 18 anos; desafio é o desenvolvimento

Se você tem menos de 30 anos de idade, provavelmente, não deve guardar na memória um período em que os preços aumentavam mais de 1% ao dia. Nos supermercados, o barulhinho das máquinas remarcadoras provocava uma corrida das donas-de-casa para estocar produtos e corroía, da noite para o dia, o salário dos trabalhadores. Tempos difíceis, de inflação galopante, na casa de mais de 1.000% ao ano.

Atualmente, o temido dragão da inflação faz parte apenas do imaginário da população. O mérito por essa vitória coube ao Plano Real, que hoje atinge a maioridade ao completar 18 anos, data que marca ainda a troca da antiga moeda do País, o cruzeiro real, para o real.

Não há como negar que a iniciativa configurou-se como o mais bem-sucedido entre os planos de estabilização da economia adotados no Brasil. Trata-se do mais longevo da história do País nos últimos 40 anos. Ao contrário de seus antecessores, como os planos Cruzado e Collor, o Real apresentou sustentabilidade e vida longa, mesmo diante de fortes ataques especulativos, incertezas políticas e crises econômicas externas pelo caminho. Ao longo de sua trajetória, independente do governo que estivesse à frente do Palácio do Planalto, o combate à inflação foi perseguido e a tão sonhada estabilidade monetária alcançada.

Fim de um ciclo
"Vamos lembrar sempre que o Plano Real encerrou um ciclo de taxas de inflação elevadas, que travavam o desenvolvimento socioeconômico do País, sobretudo pelo lado social", destaca a economista Eloísa Bezerra. Foi, também, segundo ela, graças a ele, que muitas pessoas passaram a ter acesso a bens e serviços, o que antes era quase inviável. "Esse acesso veio por meio da estabilidade econômica, que gerou melhoria de renda, mais oportunidade de emprego, dentre outros benefícios", emenda a especialista.

Portanto, uma data, reforça o também economista Lauro Chaves Neto, que deve ser comemorada a cada ano a mais de estabilização econômica. "Afinal, essa conquista já tem a participação de quatro presidentes da República: Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luís Inácio Lula da Silva e, agora, Dilma Rousseff", lembra.

Agora é possível planejar
Além de por um ponto final na cultura de indexação, outro legado, destaca Lauro Neto, foi a recuperação da capacidade de planejamento tanto para as empresas como para as famílias.

"A cultura de indexação, onde a inflação passada é repassada automaticamente para os preços, perpetua a inflação. Já a falta de condições mínimas de planejamento, em um patamar de inflação mensal acima de 15% ou 20%, representava um gargalo para o desenvolvimento das empresas e melhoria na qualidade de vida das famílias", fala.

Sem contar, acrescenta Eloísa Bezerra, as melhorias nas condições de crédito no País, o que ajudou a impulsionar o mercado interno e garantir taxas de crescimento econômico maiores para a nação.

Passadas quase duas décadas, o Real, avaliado como um plano de estabilização monetária, obteve 100% de sucesso. Entretanto, argumenta Lauro Neto, "a estabilidade não foi suficiente para desencadear um processo de desenvolvimento do País". Ainda existem muitos desafios a superar. Será preciso avançar na saúde, na educação e na infraestrutura para colocar o Brasil nessa trajetória.

ANCHIETA DANTAS JR.
REPÓRTER 

Fonte: Diário do Nordeste

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