A força do Interior

Lissandra Costa Carneiro, 33, apropriou-se do Cariri e vai ficando por ali, entre Barbalha, Juazeiro do Norte e Crato. Só deixa a região para passar as férias na terra-mãe, Fortaleza - distante sete, oito horas de carro ou 30, 40 minutos de avião. Ela e o marido se mudaram há quatro anos, atraídos por novos empregos. Construíram uma casa em Barbalha, empregaram-se em Juazeiro e se divertem no Crato.

Matricularam os dois filhos em um semi-internato, descobriram “restaurantes bacanas” para os lados da serra e comemoram a expansão do Shopping Cariri: “Eram dois cinemas, vão ser quatro”. A (qualidade de) vida acolá não é ruim. Ao contrário, “é outra. Aqui é mais tranquilo”, afirma Lissandra.

A funcionária de uma distribuidora de sorvetes faz parte de uma estatística que revela aumento de 17,6% na população residente em Barbalha, entre 2000 e 2010. Os dados do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene-BNB) mostram ainda que, em uma década, mais pessoas se estabeleceram em Juazeiro (17,8%) e no Crato (16,0%). E assim em Sobral (21,2%), Quixeramobim (21,4%), Quixadá (15,7%), Tauá (7,3%). Lissandra é também parte de uma história de mudanças no perfil socioeconômico do Interior do Ceará. “O Interior começa a ganhar dinamismo”, especialmente municípios de médio porte, observa Wellington Damasceno, gerente do Ambiente de Estudos, Pesquisa e Avaliação do Etene-BNB.

O mundo brasileiro deu voltas. Houve a estabilidade econômica com Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) e os passos adiante com Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010). Investimentos em infraestrutura se tornam dever de casa para governos estaduais e municipais, valorizando o que não é Capital. Programas sociais se refletem no acesso ao consumo pelas classes C e D. Universidades abertas no Interior deslocam fronteiras da educação e alteram o curso da migração. A recente queda dos juros se soma a oportunidades de crédito e estimula o empreendedorismo.

Essas sementes crescem em pequenos negócios, para atender ao aumento e à diversidade da população que finca raízes nos sertões. Setores como indústria e comércio, aponta o pesquisador do Etene-BNB, ganham dinâmica nos municípios. E, em cinco anos (entre 2004 e 2009), cerca de 26 milhões de pessoas saíram da pobreza no Brasil e alcançaram o mercado consumidor. “Temos observado um aumento da renda no Interior, em função do Bolsa Família, e o aumento real do salário mínimo – que afeta, mais positivamente, o Nordeste porque tem maior número de pessoas que recebe salário mínimo”, comenta Wellington Damasceno.

Empreender
Uma coisa leva à outra. “Aqui é uma cidade-polo da região dos Inhamuns. Está crescendo muito na parte comercial, o que é reflexo do crescimento da renda na classe C”, relaciona Macélio de Souza Costa, analista da Agência Regional Tauá do Sebrae-CE. “Hoje, todo mundo tem moto e celular. A classe que melhorou de renda tem buscado os produtos de consumo básico. Oficina mecânica, por exemplo, criou-se a partir da necessidade de moto”, completa.

No Interior, faz tempo bom para empreender. Há novos caminhos do desenvolvimento econômico para se desbravar. “Tem muitas coisas para se construir, as pessoas estão descobrindo o Cariri aos poucos”, aponta Lissandra.

Números
17%
foi o aumento na população residente em Barbalha, entre 2000 e 2010

26%
milhões saíram da pobreza no Brasil e chegaram ao mercado consumidor em 5 anos

Ana Mary C. Cavalcante

Fonte: O Povo

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