Época de florada dos ipês atrai artistas, botânicos e cientistas à Chapada do Araripe

Imagine em meio a um grande tapete verde pontos amarelados, que neste ano vieram colorir ainda mais as áreas da encosta da Chapada do Araripe, na abertura da primavera. É a presença da florada do ipê-amarelo, que não poderia deixar de ser uma árvore genuinamente brasileira. A paisagem ampla do sertão do Cariri ganha de presente a beleza das flores que começam a se apresentar no mês de setembro, terminando neste mês. Ainda podem ser identificadas algumas árvores floridas e poucos ipês-roxos.

Inspiração de poetas como Patativa do Assaré, que destacou em versos a árvore também conhecida como pau d'arco, o ipê já foi considerado a "rainha do sertão". Para a artista plástica do Crato, Márcia Leal, é o Brasil que se apresenta com sua magnitude de cores. Ela se inspira na árvore para produzir suas telas. "Traz cores vibrantes, do verde, o amarelo, que estão na bandeira do Brasil", diz, além de destacar o momento propício, como espécies legítimas e representantes do povo brasileiro.

Desde que chegou ao Cariri, há cerca de dois anos, o chefe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), Paulo Maier afirma que ainda não tinha presenciado um momento tão bonito para a região, com tanta abundância de ipês floridos. A presença da árvore na floresta o impressionou, principalmente no caso do ipê-amarelo, em maior quantidade na mata.

O ipê-roxo tem uma florada depois ou basicamente simultânea ao ipê-amarelo. A bióloga Ana Cleide Mendonça, mestre em Bioprospecção Molecular da Universidade Regional do Cariri (Urca) e pesquisadora na área de Botânica, afirma que desde 2010 vem observando as floradas na região. "O que mais me impressionou foi a grande quantidade de árvores que floraram nesse ano", diz ela. A pesquisadora destaca que tanto o amarelo quanto o roxo estão presentes em grande quantidade na região, mas há características diferenciadas para as espécies, também no contexto regional.

Conforme Ana Cleide, em algumas áreas da Mata Atlântica há uma variação da espécie, em relação à da Chapada do Araripe, que é única. Com cerca de até 20 metros, com tronco com diâmetro variando de 60 a 80centímetros, as árvores nas outras localidades de florestas, possuem porte até maior. No caso principalmente do ipê-roxo, há o uso medicinal da árvore, com venda de raspa do tronco, principalmente como anti-inflamatório, nas feiras do Cariri.

Medicamento
O pau d'arco também é usado na medicina popular como antibacteriano, antifúngico e laxativo, para diabetes e alergias, além de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), como sífilis, candidíases e cancro, problemas gastrointestinais e alergias.

Na década de 1960, os estudos realizados com os extratos da madeira interior, assim como da casca de pau-d´arco, revelaram que estes possuíam um excelente combate aos tumores em animais. A descoberta despertou o interesse do Instituto Nacional do Câncer, que se dedicou ao estudo do vegetal e suas propriedades medicinais.

Segundo Paulo Maier, um estudo realizado junto às comunidades e a academia, demonstrou que de 174 espécies de interesse do comércio na área do extrativismo, os dois ipês foram identificados. A boa notícia é que não foi constatado declínio de população do ipê-amarelo. No caso do roxo, aparece em menor quantidade. A pretensão do órgão a partir de agora é incentivar o plantio dessas espécies em áreas atualmente identificadas como em estado degradado e de manejo.

A pesquisadora admite que uma das razões para a menor população das árvores com as flores roxas é justamente por conta do uso medicinal da planta, além de estar em área mais próximas dos centros urbanos. Ela disse que podem ser identificadas algumas diferenças entre as espécies, quanto à morfologia da planta. Por exemplo, o amarelo possui uma vagem comprida, parecida com a do feijão, e a do roxo, mais arredondada, com formatos de sementes.

Já o fotógrafo Roberto Matos Amorim decidiu cair em campo e registrar a florada. O destaque dos ipês nas matas da Chapada atrai para si a atenção pela beleza e variedade de cores. Ele buscou identificar também os roxos, mas para isso afirma que foi preciso ter mais paciência. "Fui tomado por um sentimento de alegria ao rever os pontos amarelos por toda extensão da Chapada do Araripe", frisa.

Árvore possui espécies diferenciadas
O pau d'arco ou Ipê é uma árvore tipicamente brasileira. No Cariri é vista de forma abundante na área da Chapada do Araripe, com espécies diferenciadas e floradas como cores distintas, como o amarelo, roxo, e em algumas localidades, pouco comum na região, o branco. O ipê-roxo é indicado pelos moradores de comunidades, como árvore medicinal, principalmente indicada como anti-inflamatório. A madeira é bastante usada em construções e na fabricação de móveis. Mesmo com a exploração, principalmente do roxo, deverá haver um incentivo para o replantio em áreas degradadas. Este ano, a região cotou com uma das maiores floradas dos últimos anos.

Mais informações
Universidade Regional do Cariri (Urca)
Departamento de Biologia e Ciências Biológicas
Fone (88) 3102.1202

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



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