Juazeiro do Norte (CE): Livro retém memória e conta a história da dança regional

A linguagem da dança, sua evolução, história no Brasil, no Ceará, perpassa pelo Cariri. Pela primeira vez é contada a história da dança regional. O lançamento do livro "Memórias da Dança: recortes da dança", do professor Alysson Amancio, coreógrafo e bailarino, de Juazeiro do Norte, aconteceu na noite de ontem, no Espaço de Dança Gisele Alvim.

No dia 31, será em Fortaleza, Espaço Artelaria, no Benfica. Por conta do desenvolvimento profissional dos artistas locais e profissionalização da dança, o autor defende a criação de uma Faculdade de Dança no Cariri, juntamente com diversos artistas regionais.

Segundo o autor, o livro nasce como um divisor de águas nas artes caririenses, por ser o primeiro sobre a temática. "Uma história que até então sobrevivia apenas na memória dos artistas, uma realidade delicada", diz ele, ao acrescentar que muito até já se perdeu desses acervos particulares. No livro, ele faz um resgate, alertando para o fato de que, quando estas pessoas se fossem, a história da dança, certamente, também se extinguiria.

O movimento para a criação de um curso superior de dança no Cariri tem se fortalecido. Conforme Alysson, a dança cênica caririense assume novos posicionamentos diante do crescimento que vem obtendo nos últimos anos. Ele afirma, em seu livro, que o curso surge para atender uma série de demandas atuais. "Vivemos uma época de mudanças aceleradas, em que a cada dia surgem novas ferramentas que podem e devem contaminar as produções artísticas e formativas na dança", defende.

Tríade
Para ele, a tríade do ensino, pesquisa e a extensão, na universidade, proporciona a produção de novos conhecimentos no pensar e fazer dança. Artistas da região são descritos em sua trajetória profissional. A homenagem é também uma forma de mostrar o potencial de cada um na construção desse novo panorama. Alysson destaca os questionamentos feitos ao longo do livro, trazendo uma visão técnica, como conhecedor não apenas de uma história, mas de quem viveu parte desse movimento.

Neste ano, foi realizada a segunda edição do II Festival Nacional de Dança do Cariri com apresentações de espetáculos de cinco Estados brasileiros e também da região. O tema do festival este ano é "Corpo, Performance e Política". Foram mais de 200 dançarinos e coreógrafos integrados no movimento, encarando a arte da dança não apenas como um divertimento, mas de forma profissional. E o engajamento dos grupos do Cariri tem sido maior a cada ano, ao ponto de haver há quatro anos a Associação Dança Cariri (ADC), com a participação de 250 dançarinos. Alysson tem surgido nesse cenário como um dos principais incentivadores da iniciativa.

O artista se afastou por 10 anos de sua terra natal, Juazeiro do Norte, para se dedicar ao estudo em Fortaleza e no Rio de Janeiro, onde fez graduação em Dança. Ele afirma que as três cidades em que teve a oportunidade de morar marcaram a sua influência e, por isso, o lançamento do livro tem acontecido nos três locais. Em Juazeiro, o livro foi lançado em 28 de julho.

O prefácio do livro é feito pela professora doutora Isabel Marques, uma das maiores referências em Dança-Educação no País. A apresentação é do dramaturgo e jornalista Emmanuel Nogueira. Neste ano, Alysson completa quinze anos de história na dança. "Cinco anos da minha companhia e o lançamento deste livro também é uma comemoração desta luta diária, que é fazer dança na região", afirmar isabel Marques.

Ela destaca a resistência e a ousadia do autor, além do talento do coreógrafo, que poderia ter desenvolvido o seu trabalho com sucesso em outras partes do Brasil. Conforme diz, a resposta pode ser encontrada no livro, que considera um manifesto de resistência e, ao mesmo tempo, um ato de ousadia.

Para o dramaturgo e jornalista Emmanuel Nogueira, o livro é uma voz aos que resistiram aos preconceitos social e familiar. Ele afirma que o retorno de Alysson representa a edificação de uma nova era. "Ao contar a história da dança, o autor institui uma vida de acesso à vida pública, uma identidade em movimento, que a custa de vontades pessoais tornou-se um corpo", avalia. Para ele, o autor consegue ficar à vontade para atuar como narrador de uma história, por fazer parte dela.

Dança Cênica surgiu a partir do preconceito
De acordo com trecho do livro, a Dança Cênica no Cariri nasce a partir de um sonho frustrado de um homem, Renato Serra. Quando jovem, sonhava em seu um bailarino profissional, mas temeroso pelos fortes preconceitos sociais que existiam sobre os homens que dançam, ele desistiu dessa profissão, porém incentivou a filha, Inês Silvia, reconhecida com a primeira professora que criou um espaço de ensino dança no Cariri e formando várias gerações de profissionais. A primeira academia de Inês foi criada em 1978, em Crato. Era uma sala pequena na Rua Irineu Pinheiro, no bairro Pimenta. Os estilos de dança ministrados era Ballet Clássico e Jazz Dance. A academia chegou a ter filiais nas cidades de Barbalha e Juazeiro do Norte,

Mais informações
Associação Dança Cariri
Rua da Conceição, 1391 e 1307
Bairro: São Miguel
Juazeiro do Norte
Telefone: (88) 9914. 2793 / 9981.7700

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER 

Fonte: Diário do Nordeste

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