Comentários de professora sobre pessoas com síndrome de Down geram protestos nas redes

As declarações de uma professora universitária sobre portadores de síndrome de Down desencadearam uma onda de repúdio nas redes sociais e foram condenadas pela instituição de ensino superior onde ela trabalha. Conforme publicado no último sábado pela coluna de Ancelmo Gois, no Globo, a docente do curso de Comunicação da Facha, no Rio, chamou atenção dos alunos ao comentar uma série que seria exibida pelo “Fantástico”, da TV Globo, sobre o assunto.

"Não me venha com documentário sobre gente com Down, porque podem até achar bonitinho, mas aquilo é horrível, não adianta, odeio ver! Agora, vêm aí dez semanas de dr. Drauzio Varella com esse tema, um saco. Quem quer ver isso?!", teria dito a professora.

Ao ser rebatida por uma aluna, ela ainda teria questionado: “Ah, então você quer um filho com síndrome de Down?”

A estudante Elisa de Souza Pinto, que contrariou a professora em sala de aula, fez um post criticando os comentários e afirmando que trancou a matéria, no último sábado, no Facebook. Em sua página no mesmo site, o Movimento Down publicou um texto de protesto com a frase #ChegaDePreconceito, que obteve mais de 2,6 mil curtidas e 1,5mil compartilhamentos.

- Fiquei ultrajada com o comportamento da docente e, por isso, compartilhei no grupo da Facha e também na minha página pessoal. Um discurso tão preconceituoso de uma professora universitária em uma faculdade de Comunicação Social, me chamou a atenção o fato de que absolutamente ninguém disse nada. Os alunos pareciam achar normal uma professora declarar e assumir tamanho preconceito em frente a todo mundo que estava ali, sem se preocupar se poderia atingir ou ofender alguém - afirmou Elisa.

Em frunção da denúncia, a estudante diz estar sofrendo retaliação dos colegas:

- Vários alunos que gostam dessa professora estão tentando minimizar o preconceito neste fato, defendendo que ela apenas deu um exemplo sobre público-alvo, que é "apenas a opinião dela, o que ela gosta" e, até mesmo, que eu teria inventado essa história.

Colega de turma de Elisa, a estudante Victoria Servilhano, de 21 anos, estava na sala e confirmou a história:

- Foi exatamente isso. Ela estava falando que não queria que a gente fizesse documentários sobre temas fáceis e disse que era para a gente pensar bastante no público-alvo, porque ninguém tem saco para temas como este. Acho uma postura inadmissível. Ela estava em sala de aula como comunicóloga e educadora.

Assim como Elisa, Victoria também trancou a matéria para deixar ainda mais claro o seu repúdio à atitude da professora.

- Estaria consolidando o discurso dela, se aceitasse continuar - justificou. - Agora, espero que a faculdade afaste a professora. Caso contrário, a instituição estará reafirmando a postura dela.

O diretor-geral da Facha, Paulo Alonso, divulgou um comunicado de repúdio no site da faculdade:

“Quero expressar o meu mais profundo repúdio ao fato ocorrido em sala de aula, no dia de ontem, e envergonhado, com o comportamento, postura e conduta adotados por determinado professor, pedir desculpas a todos que, como eu, se sentiram ofendidos com pensamento tão preconceituoso e totalmente fora dos princípios éticos e morais que regem nossas ações há 44 anos.”

No texto ele também afirma que a docente será chamada para se explicar sobre o episódio, “se é que existem explicações para fato tão repugnante”. Alonso destaca, ainda, que a posição da professora não reflete o pensamento da instituição e ressalta que cada profissional responde por seus atos.

A professora ainda deve se pronunciar sobre o assunto, por meio de seu advogado. A assessoria da faculdade adiantou que a direção já prepara um evento para debater o tema com a participação de representantes de instituições que tratam de questões relacionadas à síndrome de Down.

A ONG Movimento Down lembrou que esse preconceito pode ser considerado crime. No Facebook, a entidade citou o artigo 88 da recente Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, o qual prevê a possibilidade de prisão de um a três anos e multa para quem praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência.

Em resposta, diversos seguidores usaram o campo de comentários para mostrar sua indignação e postar fotos de filhos e parentes portadores da síndrome.

“Para nós aqui de casa fica um sentimento imenso de pena por saber que existe alguém tão limitado”, escreveu Gaby Rodrigues juntamente com uma foto da filha. “O que posso dizer é que se, segundo a professora citada, a minha filha que tem Síndrome de Down é uma pessoa horrível imagina quem é maravilhosa."

"Definitivamente, essa pessoa não me representa. Tenho o maior orgulho de ter uma princesa de 17 anos com um cromossomo a mais, o cromossomo do amor", escreveu Marta Pretel, também com uma foto da filha.

Fonte: O Globo

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