Crato (CE): Dom Fernando Panico diz que polêmica está superada

Em meio a uma crise que envolve o seu nome, o bispo dom Fernando Panico, da Diocese do Crato, a partir da próxima segunda-feira, sai do Cariri com destino a Roma, com duas missões importantes para a Igreja. A primeira delas, entregar uma farta documentação relacionada à causa da beatificação de Benigna Cardoso, assassinada aos 13 anos, em Santana do Cariri, para defender a castidade. A reabilitação do Padre Cícero é outro ponto. Para isso, deverá participar de audiências com o papa Francisco para tratar do assunto. Ele se defende das denúncias que têm sido feitas ao seu respeito, ao ressaltar que existe uma campanha midiática e com acusações repetitivas, mas que o caso já está superado.

A questão envolve principalmente causas administrativas da Diocese, como a venda de imóveis pertencentes à Igreja. Segundo o bispo, a situação já está sanada e justifica que houve erro administrativo. O sacerdote chega a pedir perdão aos inquilinos. O bispo rebate os números que vêm sendo divulgados de forma constante relacionados à venda de casas e prédios comerciais da Igreja. Segundo ele, desde que assumiu a Diocese, há 12 anos, teve que vender os 25 imóveis, mas não chegou a tomar conhecimento da forma como foi feita a negociação por agentes imobiliários que realizavam os serviços para a Diocese. O erro, segundo ele, foi os inquilinos não terem tido a preferência e nem tão pouco serem comunicados. O caso gerou revolta dos moradores, que chegaram a fazer manifestação nas ruas da cidade.

Depoimento
Dom Panico esteve na Delegacia Regional de Polícia do Crato, na última sexta-feira, para prestar depoimento sobre acusações relacionadas à sua pessoa, num possível caso de estelionato, por a Diocese estar recebendo aluguéis das casas já negociadas com terceiros. Segundo o chanceler da Cúria Diocesana, Armando Rafael, houve um acordo com os compradores, por conta da crise financeira da Igreja, que atualmente tem uma folha alta. O bispo disse que foi à delegacia se defender como cidadão e responder ao inquérito que foi levantado contra a sua pessoa. "Não sei porque essa questão foi dirigida para a minha pessoa, e não para a entidade jurídica, como se eu fosse o vilão da história", disse.

O bispo, nesse momento, não tem se reservado em dar esclarecimentos em relação a todas as afirmações que têm sido feitas ao seu respeito. "Tenho procurado ser forte na oração. Toda essa onda de acusações, sistematicamente repetidas, e como se não bastasse, os opositores se encarregam de gastar muito dinheiro além do necessário, de fazer uma propaganda minando a minha pessoa. Posso ficar abalado, e senti aquele desgosto, pesar. De noite não consigo dormir como antes. Acordo de madrugada e entrego tudo a Deus. Rezo o meu terço pelas duas da madrugada. Se o sono não voltar, começo a trabalhar", diz.

O ecônomo Diocesano, padre Joaquim Ivo dos Santos, disse que o Ministério da Educação (MEC) fez várias exigências para serem cumpridas nos últimos anos, junto à Faculdade Católica, como a compra de vários equipamentos e modernização do espaço. Isso como um dos pontos para justificar os compromissos assumidos pela Igreja e a crise financeira que a instituição tem atravessado nos últimos anos. Ainda justifica altas folhas de pagamento de professores, padres aposentados da Diocese, que têm que ser cumpridas, além do patrimônio administrado, além do Seminário São José, com atualmente 70 alunos. Atualmente, segundo ele, a folha de despesas chega a cerca de R$ 200 mil, com uma receita de R$ 120 mil. O padre justifica o déficit que vem sendo administrado, no intuito da situação ser solucionada e destaca os benefícios gerados durante a gestão do atual bispo, que até hoje foi, segundo ele, o que mais ordenou padres. Foram 50 até agora.

Instituição sagrada
O bispo disse que, durante o depoimento na delegacia, reconheceu a falha administrativa, na hora da venda dos imóveis. "Antes de tudo tenho que desmascarar a hipocrisia de quem está mentindo e insiste, para confundir a opinião do povo e jogar lama sobre uma instituição sagrada, como é a Igreja". Conforme o bispo, foram vendidas 25 casas e não 65 ou 52, como tem divulgado a mídia. Para ele, isso tudo tem parecido até um jogo, de ganha quem dá mais.

A falha maior dentro dessas negociações, diz ele, foi de não ter havido a comunicação aos inquilinos, dando-lhes preferência. "Reconheço e me penalizo por isso, apesar de não ter sido eu quem causou esse transtorno. Temos o departamento da imobiliária que cuida dos bens da nossa Diocese. Eles sabem as regras e conhecem as leis próprias dos inquilinos dos imóveis. Como bispo não tenho a obrigação de entender de tudo", disse, ao acrescentar que só assinou acreditando que tudo estava correto, pela confiança que teve dos seus colaboradores. "O meu pecado foi excesso de confiança e peço perdão aos inquilinos que se sentiram ofendidos, mas podem ter certeza que já reparei o erro, o pecado, e me confessei publicamente", afirma.

As outras 11 casas não foram readquiridas, segundo o chanceler da Cúria Diocesana, por não haver mais condições de reavê-las. Eram casas mais antigas e estavam bastante deterioradas. Mas, segundo o bispo, o problema esteve relacionado a sete imóveis, o que ele chama do "pivô da revolta". Ele se restringe a dizer que esse trato administrativo é um assunto interno, e que a Diocese não é uma prefeitura, uma entidade pública. "Não há necessidade de tanta propaganda de uma negociação que responde às causas internas e a Diocese tem despesas grandes para enfrentar. Compromissos que não podem ser adiados, e podem gerar uma grande dívida, como de fato gerou", explica.

Dom Panico ressalta o apoio que tem sentido dos fíéis, nas comunidades. "Sinto o calor humano, o afeto do povo. Na Hora da Graça, no Santuário dos Franciscanos, me senti como se estivesse circundado de uma forte pressão positiva, de pessoas me dizendo para ser forte e não desanimar", ressalta. "Se existe na Igreja uma discordância com o meu pastoreio, dou o direito aos que não concordam. Agora dizer que existe uma abaixo-assinado com 52 assinaturas, dizendo que querem que eu seja expulso da Diocese, essa é uma afirmação gratuita, feita por pessoas que não são amantes da verdade".

Viagem a Roma
O bispo Dom Fernando Panico irá entregar pessoalmente no Vaticano, junto com o postulador da causa, o monsenhor Vitaliano Matiolli, à Congregação dos Santos, o processo Diocesano em prol da beatificação Benigna Cardoso, de Santana do Cariri, podendo se tornar o primeiro caso de beatificação do Ceará. A finalização da fase diocesana do processo foi anunciada no último dia 8. Já em relação ao Padre Cícero, são muitos fatos que estão sendo avaliados, diante de toda a história de vida do sacerdote. A documentação apresentada em 2006, pela Comissão de Reabilitação, para a Congregação da Doutrina da Fé está sendo avaliada minuciosamente.

Na Cúria Diocesana, ficará um caixote lacrado com os selos, com a mesma documentação relacionada ao processo de Benigna. Só poderá ser aberto com autorização do bispo. "Lá será avaliada com detalhes minuciosos e ver se a morte de Benigna poderá ser vista como um martírio. Caso isso ocorra, já é dispensado o milagre. Não tem maior prova de amor a Jesus, do que morrer por causa dele. E isso é uma questão de tempo para o reconhecimento do papa, pela beatificação de Benigna, e designar o dia para isso acontecer". Para o bispo, por ser um caso tão evidente e singelo, não deverá demorar muito tempo.

Padre Cícero
Dom Panico disse que tem acompanhado constantemente o caso voltado à reabilitação do Padre Cícero. Semana passada, ele recebeu uma carta do Vaticano, da Secretaria da Doutrina da Fé, certificando que o processo está sendo estudando, mas não se pode prever um período para conclusão. Essa carta, segundo o bispo, tem uma razão por conta da solicitação que fez em maio ao Vaticano, reforçando o pedido para a conclusão dessa fase.

Ele também destaca dois momentos em que esteve com o papa Francisco, para abordar o assunto, tanto no Rio de Janeiro, mais recentemente, durante o período da Jornada Mundial da Juventude, e num breve encontro na Praça de São Pedro, no Vaticano, depois da audiência geral das quartas-feiras. Segundo o sacerdote, o papa demonstrou interesse de saber mais a respeito do Padre Cícero. "Quero ter um encontro mais prolongado e tranquilo com o papa. Espero ter essa possibilidade", diz ele.

"Creio que irá gostar muito de conhecer o Padre Cícero", completa o bispo.

Mais informações
Cúria Diocesana
Rua Teófilo Siqueira, 631- Centro
Município do Crato - Cariri
Telefones: (88) 3523.7819 / 3521.1110

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER 

Fonte: Diário do Nordeste


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