Crato (CE): Igreja renegocia imóveis

Questões envolvendo o bispo dom Fernando Panico, na região do Cariri, vêm sendo investigadas pela Polícia e o Ministério Público. O caso que envolve acusações de estelionato e crime de agiotagem é apurado há cerca de dois meses. Segundo a Igreja, não existe até o momento manifestações relacionadas à saída do bispo do comando da Diocese do Crato. A notícia veio após ser tornada pública a assinatura de um abaixo-assinado, por 52 padres, pedindo a saída do sacerdote da região. No entanto, a Cúria Diocesana afirma que a informação não procede e, sobre a polêmica criada em torno das vendas de imóveis da Igreja, está havendo uma renegociação com os antigos inquilinos.

As denúncias contra o bispo dom Panico começaram após moradores das casas e donos de prédios comerciais da Diocese se sentirem prejudicados com a venda dos imóveis sem serem comunicados. Muitos deles residem nas casas há varias décadas. A Igreja chegou a esclarecer, por meio de nota, que a situação está sendo contornada, com a renegociação dos imóveis.

Segundo a assessoria da Cúria Diocesana, a situação tomou proporções que não tem a ver com a realidade. O bispo dom Fernando Panico, em entrevistas a uma rádio, chegou a dizer que está sendo perseguido. Destacou a sua tristeza em relação a toda essa situação que vem enfrentando. O bispo esteve no último dia 20, sexta-feira, prestando depoimento sobre o caso da vendas das casas pela Diocese, na delegacia Regional de Polícia, em Crato. A delegada que está à frente das investigações, Lorna Aguiar, não quis se pronunciar sobre o assunto.

Segundo o escrivão Mário Gomes, que acompanhou o depoimento do religioso, o bispo esclareceu que, em relação à continuação do pagamento dos aluguéis, após a venda dos imóveis, a questão teria sido acordada com os antigos inquilinos. Pelo menos dez deles já prestaram depoimento até o momento e mais pessoas do âmbito da Igreja deverão ser ouvidas pela Polícia.

O número de casas não chega a 65 conforme vem sendo divulgado, segundo esclarece a própria Igreja. São pouco mais de 50 prédios, incluindo imóveis comerciais. No Crato, alguns moradores chegaram a contratar um advogado para se defenderem e terem o direito de permanecer nas residências. Eles alegam que não foram comunicados pela Diocese da venda das casas e, caso isso pudesse ocorrer, seriam, conforme a lei do inquilinato, os clientes preferenciais. Disseram, também, que as casas foram vendidas a preços bem abaixo do valor do mercado.

O caso veio a público após os próprios inquilinos irem às ruas da cidade se manifestar contra a iniciativa da Igreja. Alguns alegam que houve má fé do bispo. Em alguns casos, moradores chegaram a pegar cópias de escrituras em cartórios da cidade, para comprovar a venda das casas e continuarem com os contratos de aluguel em nome da Diocese do Crato. Alguns desses papéis apresentados teriam a suposta assinatura do bispo.

Para o padre Edmilson Neves, pároco da Sé Catedral, essa situação está sendo sanada na medida em que vêm sendo feitas as renegociações. Ele disse que os moradores poderão ficar tranquilos, que o direito a continuar morando nas casas é assegurado, além da preferência inicial de compra. O padre alega que muitas das negociações foram feitas por um assessor financeiro da própria Igreja, afastado das funções. Além disso, por questões administrativas, que já estão sendo solucionadas.

O bispo dom Panico chegou a passar mais de duas horas prestando depoimento, acompanhado de um advogado. Saiu sem dar esclarecimentos à imprensa. No sábado passado, ele esteve à frente da solenidade de encerramento da fase diocesana do processo de beatificação de Benigna Cardoso. No início do próximo mês ele irá a Roma entregar o processo, para iniciar a fase processual junto ao Vaticano, e verificar o caso do pedido de reabilitação do Padre Cícero e seu encaminhamento. Dom Panico disse que se sentia perseguido por pessoas ligadas a setores interessados em prejudicá-lo.

Outro caso polêmico e que ainda tramita na Justiça, que envolve a Diocese e o bispo, é relacionado à venda de um terreno, efetuada ainda no período em que o monsenhor Murilo de Sá Barreto, já falecido, estava à frente do então Santuário Diocesano de Nossa Senhora das Dores, em Juazeiro do Norte. O terreno avaliado em mais de R$ 18 milhões, no bairro São José, uma das áreas atualmente mais valorizadas da região, foi adquirido por um empresário do ramo imobiliário de Juazeiro do Norte, por um valor bem inferior.

Mesmo diante das questões que estão sendo levantadas, o religioso reconheceu erros administrativos em relação à venda das residências. Ele disse que as comercializações estão sendo desfeitas. Disse, ainda, reconhecer que teria sido necessário observar a prioridade de venda dos imóveis a quem já reside nas casas alugadas pela Diocese e que não autorizou a negociação. "Há muitas pessoas que agem em nome do bispo. Eu não tenho condição de saber de tudo, de realizar todas as coisas", disse. Segundo ele, a Diocese está prestando todas as informações solicitadas pelas autoridades envolvidas na investigação do caso.

Dom Fernando informou que vai esperar um pronunciamento do Ministério Público e da delegada que comanda as investigações. A partir daí deverá convocar uma coletiva para prestar esclarecimentos. Os imóveis comercializados (casas e prédios) estão em varias ruas, inclusive no Centro do Crato. No mês passado, através de uma nota encaminhada pela Diocese, se chegou a afirmar que as negociações para venda dos imóveis alugados teriam sido feita por um assessor da Igreja, sem o consentimento de dom Fernando. A nota também informava que as negociações da venda dos imóveis teriam sido canceladas e que todo o patrimônio retornaria à posse da Diocese. O documento foi assinado, à época, pelo próprio bispo e por outros diáconos assessores na Diocese.

Mais informações
Igreja Matriz do Crato
Rua Miguel Limaverde, 624
Praça da Sé, Centro
Cariri
Telefone: (88) 3521.0309

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER 

Fonte: Diário do Nordeste



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