Juazeiro do Norte (CE): Rio Salgado agoniza diante da poluição das águas e margens

O rio Salgado se tornou símbolo da luta pela preservação da natureza no Cariri e está, praticamente, morto em toda a sua extensão, por cerca de 300 quilômetros. Só aumenta o índice de poluição, inclusive, por metais pesados, lixo e todos os gêneros de dejetos. Um estudioso da Região está lutando para buscar novas alternativas, por meio de pesquisas e novas tecnologias que minimizem os níveis de poluentes.

O engenheiro da Universidade Regional do Cariri (Urca), professor Rodolfo Sabiá, realiza pós-doutoramento em engenharia e pretende firmar parcerias com órgãos ambientais da Alemanha, por meio de um projeto de cooperação que será repassado à Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha ainda neste mês. Ele almeja a vinda equipes de estudos ao Brasil para verificar as atuais condições dos mananciais e oferecerem cursos e palestras na região.

O órgão internacional realiza serviços nas áreas de sustentabilidade, energias renováveis e eficiência energética.

O professor destaca a grande quantidade de metais pesados existentes nas águas do rio Salgadinho, a cada ano mais penalizado pela instalação de novas empresas nos municípios, além dos lixões, que poluem os mananciais. Também recebe rejeitos de matadouros clandestinos, que, conforme o professor, até hoje ainda despejam cargas de sangue e dejetos dos animais no rio.

Metais pesados
Rodolfo Sabiá chegou a essa conclusão após vários estudos de níveis de poluição da água. Ele é responsável pela instalação no Cariri de um dos únicos laboratórios voltados para a avaliação do índice de metais pesados existente nos afluentes, como cádmio, níquel, chumbo, prata e cromo, provenientes do lixão e das indústrias.

O pesquisador está realizando estudos de pós-doutorado na Universidade Estadual Paulista (Unesp), com foco nos resíduos sólidos. "Vi que, para a questão da poluição das águas, o importante era a gente encontrar essa grande contribuição dos metais pesados. Percebi que dos resíduos sólidos é o que há de mais danoso ao meio ambiente".

Uma das finalidades do professor e pesquisador é trabalhar com logística reversa, para que o metal poluente possa ser capturado e voltar para o ciclo produtivo. O maior problema é de investimentos, pois já existe tecnologia, e um entendimento melhor da própria lei, para as responsabilidades dos diversos segmentos da sociedade quanto ao trato com o que é produzido e levado ao meio ambiente.

Lixões
Os lixões atuais, que devem ser extintos conforme a Lei de Resíduos Sólidos, estão sendo substituídos em sua maioria aterros sanitários. O que, para o pesquisador, vem como pior alternativa a comprometer o solo. No caso do Cariri, ele afirma que, mesmo assim, irá poluir os aquíferos, que tomam quase toda a área subterrânea da região. Desde 1999, Rodolfo Sabiá investe em várias pesquisas direcionadas ao rio, e até coordenou equipes de trabalhos.

O pesquisador ressalta que atualmente o rio salgadinho está morto, sendo necessário um trabalho amplo de recuperação, envolvendo desde os empresários, poder público, incluindo os órgãos ambientais, e a sociedade. Ele estará levando o projeto para a Câmara Brasil-Alemanha, no próximo dia 17 de agosto, e diz que resta essa grande esperança de ter aqui no Cariri ações diferenciadas para serem debatidas.

"A Alemanha é um dos países do mundo onde experiências nesse sentido deram certo, em relação a outras partes do mundo", diz ele, ao ressaltar a possível vinda de projetos no tocante às ações que poderão possibilitar a despoluição de mananciais e tratamento dos lixões.

Em 2011, foi desenvolvido o projeto piloto para o Enquadramento das Águas do Semiárido Brasileiro, o Projeto Salgado, com a coordenação geral do professor Rodolfo Sabiá, do Departamento de Engenharia de Produção da Urca. Para o pesquisador, essa foi a primeira medida efetiva de gestão da água, olhando para a sua qualidade.

De acordo com levantamentos realizados por pesquisadores, em alguns trechos há índices altíssimos de coliformes fecais e alto teor de poluentes de todos os gêneros.

A ponte sobre o rio Salgado, para quem vai ao Horto pela estrada velha, poderia ser um lugar de contemplação da natureza. Mas nas margens do rio assoreado, muito lixo e esgotos são despejados.

Coleta seletiva
O ambientalista e catador Francisco Alvino, guarda no depósito da Associação Engenho do Lixo fogões, geladeiras, cama, armário e até vasos sanitários encontrados ao longo do trajeto de 1,5 quilômetro, percorrido uma vez por mês, para a coleta de lixo com os catadores que fazem parte da entidade. Além disso, tem feito um trabalho de replantio de árvores nas margens.

Nos últimos anos, houve discussões em torno de encaminhamento de verbas, por parte do Governo do Estado, para a despoluição do rio, mas até o momento nada foi liberado.

O pesquisador Rodolfo Sabiá aponta que uma das soluções voltadas para a ação de despo-luição, começando pelos lixões, seria a incineração por meio de tecnologia de plasma, mas ainda não chegou a ser amplamente utilizada no Brasil, pelos altos custos de utilização. É também a mais moderna e eficaz. "O problema é que ela destrói tudo e deve ter maior investimento", explica Rodolfo. Ele propõe até alternativas compartilhadas, contanto que não haja prejuízos ao meio ambiente.

O rio Salgado nasce, ao sopé da serra do Araripe. O manancial é o principal afluente do rio Jaguaribe. Os ambientalistas, pesquisadores e, especialmente, moradores, sonham com novos tempos de um rio limpo.

Mais informações
Laboratório de Águas Efluentes e Metais Pesados
Rua Hildegarda Barbosa, 215
Juazeiro do Norte - CE
Telefone: (88) 3102-1123

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



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