Plantão Infotech: 96% dos jovens brasileiros usam a internet todos os dias

Cada vez mais, temos a impressão de que o mundo inteiro está conectado. Culturas se aproximam, experiências são compartilhadas, pessoas se conhecem e, mesmo com a distância, continuam perto. Asseverando esse pensamento, a unidade de negócios online do Ibope Inteligência realizou a pesquisa "Jovem Digital Brasileiro" e revelou que 96% da juventude do País utilizam a internet todos os dias.

O estudo foi feito com 1.553 pessoas de 15 a 32 anos e também revelou que quase 60% dos entrevistados estão conectados continuamente ao WhatsApp e 47% ao Facebook. Esses dois estão entre os quatro aplicativos mais utilizados pelos jovens, em 80% dos celulares. O levantamento aponta também o e-mail e o Youtube, como as outras duas ferramentas mais comuns.

Além disso, os resultados também mostraram que 17% dos jovens que vivem nas principais capitais e regiões metropolitanas brasileiras possuem, pelo menos, um tablet em casa e, entre os que possuem telefone celular, 47% têm smartphones.

Entretanto, a apuração do Ibope não possui detalhamento por cidades. A última pesquisa realizada no Ceará e Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra os números crescentes. De 2005 a 2011, em todo o Estado, o aumento de pessoas a partir de 10 anos que acessam a internet cresceu cerca de 38,2%. Praticamente igual a RMF, que, apesar de ter uma quantidade superior de pessoas acessando a internet, aumentou 38,1% nesse intervalo de seis anos. Nos dois casos, a maior parte é de estudantes.

Esse número pode ser confirmado, também, em bairros da periferia. Em uma lan house da Aerolêndia, que funciona de segunda a sábado, mais de 30 usuários utilizam a internet todas as noites. "Temos apenas seis computadores. Tem dias que as pessoas ligam pra reservar horário", diz o estudante João Felipe,14, que ajuda a organizar o estabelecimento. O dono do local, Geovani de Paula Freitas, afirma que a maioria dos clientes é jovem.

Enquanto espera o ônibus no Terminal da Parangaba, Thiago Thomyson dos Santos, 20, não deixa o smartphone de lado. Mesmo conversando com outros amigos, ainda consegue estar atento ao que acontece na internet por meio do celular. "Eu acesso a internet todos os dias. E ainda mais com esses novos aplicativos de conversa. Passo umas três horas conectado", conta.

A estudante Joana Darc Mariano da Silva, 18, não é diferente. "Se eu não tiver curso, passo a manhã inteira na internet. Só paro mesmo quando tenho alguma cosia pra fazer", relata, confessando ser uma usuária assídua das redes sociais.

Prejudicial
De acordo com a Sociedade Canadense de Pediatria e Academia Americana de Pediatria, a utilização em excesso dessas ferramentas podem causar uma série de danos para os jovens. Há, inclusive, estudos ligando diretamente a utilização excessiva de tecnologia a uma série de distúrbios emocionais, como depressão, ansiedade, autismo, etc.

Apesar de concordar com os inúmeros efeitos prejudiciais, o psicanalista Daniel Franco não acredita desencadeamento dessas doenças pelo uso excessivo da internet, mas no agravamento de um distúrbio que o paciente já possuia. Ele explica que a utilização descontrolada pode causar o afastamento de outras atividades, como por exemplo o convívio social.

"Pode, inclusive alterar toda a rotina de sono e alimentação daquele jovem, oferecendo consequências como a propensão à obesidade, causada pelo sedentarismo", explica. Movimentos repetitivos podem ocasionar problemas nas articulações das mãos, assim como a má postura também trará danos.

O especialista fala que o melhor meio de evitar que esses jovens façam uso exagerado da internet é com o monitoramento dos pais. "Deve-se ter controle sobre horários, impor limites. A Sociedade de Pediatria recomenda apenas duas horas por dia", afirma o especialista.

Moderação
Apesar da possibilidade de malefícios por conta do uso exagerado, se for utilizada com moderação, a internet pode ser uma forte aliada dos jovens.

"O lado bom é a infinidade de possibilidades que ela traz. A internet serviu para globalizar. E isso oferece a todos o acesso ao conhecimento, à novas culturas, diversas línguas", acrescenta Daniel. Além disso, pessoas que sofrem com timidez ou possuem dificuldades de relacionamento com outras pessoas podem usar a internet como uma ferramenta de ajuda.

Imparh oferece turmas de inclusão digital para idosos
Quem acredita que a internet está fazendo a cabeça apenas dos jovens engana-se. Esse sistema global de redes interligadas para servir bilhões de usuários em todo o mundo tem ganhado, cada vez mais, adeptos da segunda, também chamada de meia-idade, e terceira idade.

Exemplo disso foi a ação realizada dentro do Programa Gente de Valor (PGV), pelo Instituto Municipal de Pesquisa, Administração e Recursos Humanos (Imparh), que tinha como principal intuito oferecer inclusão digital para idosos.

"A princípio, precisamos de muita cautela porque sentíamos o medo que os alunos tinham. Queríamos integrar, unir. E as pessoas que trabalham com esse tipo de público necessitam de um cuidado todo especial, além de paciência, senão a comunicação não funciona entre eles", explica a coordenadora do PGV e conselheira municipal dos Direitos da Pessoa Idosa (CMDPI), Neide Façanha.

Facilidade
Dona Maria Cabral, 85, conta que já havia feito um curso básico para aprender a utilizar a internet e poder se comunicar com a filha, que mora no Chile. "É pela internet que a gente conversa. Ela me diz se está bem, se no Chile está fazendo frio, onde ela está", afirma.

A aposentada coordena, ainda, um projeto de artesanato, no Imparh, e aproveita para divulgar seu trabalho nas redes sociais. "Eu que incentivei as meninas à fazerem o curso. Contei pra elas o quanto é maravilhoso poder se conectar. Eu acho um passatempo muito bom".

A amiga, Teresa Bandeira, 74, também resolveu entrar no mundo virtual e não se arrepende. "Antes eu tinha muito medo. Mas agora faço tudo sozinha. Me divirto bastante. Sou muito grata aos meus professores e anjos".

Projeto
O curso básico foi concluído em seis meses de duração, formando 28 alunos da terceira idade. No primeiro módulo, o conteúdo estudado foi a parte mais técnica, como saber ligar o computador, identificar as letras no teclado, aprender a segurar o mouse. No segundo módulo, os alunos puderam aprender a fazer textos e criar imagens em programas específicos, salvar arquivos e criar pastas. Já no terceiro módulo, foi ensinado a utilizar a internet, fazer pesquisas em sites de busca, como também, criar perfis nas redes sociais.

"As pessoas que se ofereceram para serem voluntários foram verdadeiros anjos, e era assim como chamávamos. Para mim, o mais forte e mais bonito dessa ação foi a troca que eles puderam ter: os professores ofereceram o conhecimento e os alunos retribuíram com o carinho", afirma Neide, que revela o desejo da Instituição em abrir outras turmas em setembro.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

Qual o perfil do jovem que está conectado?
A popularização da tecnologia, com o aumento da inclusão digital, parece ter vindo pro bem social. São ferramentas úteis, que informam, aproximam pessoas, lugares e culturas; divertem e ensinam, de forma cada vez mais democrática, fácil e rápida. Mas esse "bem" só existe quando são usadas com bom senso e responsabilidade. Crianças e adolescentes são os mais vulneráveis aos eventuais malefícios. O tempo de exposição, a falta de orientação e ausência da mediação dos pais podem transformar o que deveria ser benéfico, em maléfico.

Crianças e adolescentes que ficam excessivamente expostos a essas ferramentas também ficam mais expostos a diversos riscos, dada a imaturidade e ingenuidade natural dessa fase, como: tornam-se alvos fáceis de criminosos (pedófilos, sequestradores, hackers); acessam conteúdos impróprios para sua idade (violentos, eróticos); ficam expostos ao chamado cyberbullying (brincadeiras que constrangem e ferem a dignidade); ficam excessivamente expostos à publicidade; desenvolvem problemas de saúde de diversas ordens (alteração do hábito alimentar, sedentarismo, lesão por esforço repetitivo, problemas oftalmológicos).

Tanto o uso excessivo, quanto a posterior privação como medida disciplinadora por parte dos pais, geram diversos sintomas similares às crises de abstinência de outros vícios: agressividade, irritação, queda no rendimento escolar, interferência na qualidade do sono e da alimentação. Também tendem a negligenciar as relações sociais reais, abrem mão de passeios e viagens, e trocam, com frequência, brincadeiras convencionais por jogos online.

Além disso, dada a facilidade de acesso e ao imediatismo da troca de informações, temos uma geração mais ansiosa, composta por jovens que não aprenderam a esperar, a observar e se entreter consigo mesmo.

Sarah Castelo Branco
Psicóloga

PATRÍCIA HOLANDA
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



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