Plantão Infotech: Redes sociais crescem e ampliam força de boatos

A comunicação instantânea entre pontos muito distantes e o acesso à informação são algumas das características mais louváveis do mundo conectado. Com o acesso à Internet, muitas pessoas acreditam que ficaram mais integradas ao restante da sociedade devido à atividade constante de criação e reprodução de textos, fotos, vídeos e mensagens. Toda essa conectividade, entretanto, reserva uma face perigosa, como a divulgação de boatos e até informações erradas por meio, principalmente, das redes sociais.

Há duas semanas, uma mensagem compartilhada no WhatsApp, aplicativo de troca de mensagens para celulares, levantou a discussão sobre a repercussão de informações erradas ou inverídicas na rede. O texto informava sobre uma fuga de presos do Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira (IPPOO II), em Itaitinga. O conteúdo teria vindo de uma promotora que supostamente atuava no presídio, e que teria divulgado a informação para prevenir as pessoas sobre roubos em série que poderiam ocorrer. Alguns dias depois, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) lançou uma nota desmentindo as informações contidas no texto.

Mesmo com o mal entendido desfeito, permaneceu o medo em algumas pessoas que tinham sido avisadas sobre a falsa fuga, como a comerciante Ricardina de Freitas Mendonça, 62, que soube da mensagem por meio do filho. "Fiquei apavorada e, no dia seguinte, não deixei ninguém sair de casa. Também avisei para algumas pessoas do trabalho, a gente não brinca em uma situação como essa", revela. Segundo a comerciante, mesmo após o esclarecimento, ainda ficou "uma pontinha de medo".

Relatos que envolvem o problema da insegurança não são os únicos nessa lista de mensagens. Alertas de tsunamis, morte de artistas, avisos de supostas regras em redes sociais, dentre outros temas, também ganham versões falsas. Para a antropóloga e pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará, Jânia Perla de Aquino, a difusão de um boato através das redes sociais é uma espécie de atualização de atitudes que já existiam há décadas, como os trotes. "A diferença é que isso tem desdobramentos muito maiores por causa do alcance", explica.

Informações
A variedade de conteúdos, inclusive jornalísticos, reunidos em redes sociais, acaba levando as pessoas, segundo a pesquisadora, a permanecerem cada vez mais tempo diante dos computadores, usando aquele universo como fonte de informação. Apesar de os textos veiculados em blogs e portais de notícias terem valor consolidado, os relatos divulgados em perfis pessoais nas redes acabam ganhando mais importância, para o internauta, na hora de selecionar o conteúdo. "Nas narrativas cotidianas, na interação face a face, quando nos dão detalhes de uma história, nossa primeira reação tende a ser a crença. Do mesmo jeito é nas redes sociais, porque quem conta um fato, mesmo que seja inverídico, está mostrando a foto do seu rosto e deixando exposta a opinião, isso credibiliza aquela informação para quem lê", compara Jânia.

Visão crítica
Por outro lado, é necessário que os usuários tenham uma visão crítica sobre os conteúdos que recebem e compartilham. "Os assuntos polêmicos costumam ganhar proporções virais quando são compartilhados", explica o professor e consultor em tecnologias digitais da Universidade de Fortaleza (Unifor), W. Gabriel de Oliveira. Pela velocidade com que os dados circulam na internet, segundo Gabriel, é difícil encontrar pessoas que verifiquem os fatos envolvidos. Para o consultor, a sociedade ainda não têm a noção completa dos riscos da internet, e confundem estar bem informado com "estar sabendo das coisas". "A ideia de parecer informado é motivo de destaque para algumas pessoas, por isso elas acabam divulgando informações sem se preocupar em checar se aquilo é verídico".

Cuidados básicos antes de reproduzir conteúdos na internet
  • Verifique se a fonte que está transmitindo a informação tem credibilidade para falar sobre o assunto
  • Antes de repassar o conteúdo, faça uma pesquisa, na própria Internet, para verificar se outras pessoas estão comentado o assunto ou se ele já foi desmentido
  • Antes de compartilhar uma informação, analise se ela será realmente útil e construtiva para as pessoas que irão recebê-la
Segurança é a área mais atingida pela desinformação
Os boatos relacionados à Segurança Pública, que constituem a maioria das informações errôneas que circulam na rede, são reflexo de um comportamento natural da sociedade.

"Incitar o medo ou a violência é recorrente em muitas civilizações de diferentes períodos históricos. No caso do Ceará, essa problemática da violência está presente nas cidade há pelo menos duas décadas, portanto, o que está relacionado a essa dimensão tende a assumir a conotação de utilidade pública", analisa a antropóloga e pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará, Jânia Perla de Aquino.

Entre os riscos de dar crédito a todos os relatos que circulam pela Internet, através das redes sociais, a antropóloga destaca o crescimento do medo daquilo que é desconhecido, levando as pessoas a terem cada vez mais receio de sair de casa.

Vida social
Já a visão da professora de Psicologia da Unifor, Patrícia Passos, é mais otimista. A velocidade com que os conteúdos chegam até as pessoas, e a maneira como são reproduzidos podem, na análise da professora, interferir no comportamento dos grupos sociais, mas os vínculos físicos são mais fortes.

"O ser humano necessita de vida social, e esses boatos não podem impedir que as pessoas ocupem os espaços públicos", argumenta a especialista.

Fonte: Diário do Nordeste



Nenhum comentário:

Postar um comentário

AddThis