Crato (CE): Uso da água no semiárido inspira ensaio fotográfico

Com foco na relação do ser humano com a água, o livro "Água pra que te quero!", da fotografa cearense Nívia Uchôa, já está disponível nas livrarias. A publicação teve seu primeiro lançamento na última quinta-feira na livraria Nobel, em Juazeiro do Norte. A obra ainda será lançada nos Municípios do Crato, Brejo Santo, Barbalha e na capital pernambucana, Recife, no próximo mês de junho.

A ideia central do livro é mostrar como o homem utiliza a água e quais são os cuidados tomados para conservar o líquido. A partir de uma observação do seu material de documentação, a fotógrafa percebeu que seu olhar era voltado para a água e, daí, resolveu registrar onde a água está inserida no cotidiano do ser humano. Para a autora, o livro será seu legado para as futuras gerações.

"Água pra que te quero!" além de ser um livro de fotografia, traz pesquisas sobre a água. A autora teve a preocupação de ir até os terreiros, casas e quintais de sítios conversar com a população residente nestes locais para aplicar um questionário que pudesse desvendar se há desperdício de água, se existem cuidados específicos com os rios, se a população irriga as plantas, entre outras averiguações. Com base nas respostas, a fotógrafa concluiu que os cuidados com as águas, em diversas comunidades cearenses, se limita ao uso do líquido nas residências.

Viagem
O caderno de viagem mostra imagens de 12 cidades cearenses que estão no território das bacias hidrográficas do Alto Jaguaribe, Banabuiú e Salgado, regiões localizadas no semiárido, onde há uma crítica realidade com relação à falta de água.

Ainda em seu projeto inicial para o livro "Água pra que te quero!", Nívia Uchôa buscou documentar todas as 11 bacias hidrográficas do Estado. No entanto, as dificuldades em angariar recursos a impediram de seguir em frente. Ela limitou seu trabalho a apenas três. Mas, a ideia é lançar outros livros com o mesmo tema que aborde as demais bacias. Ela já planeja a próxima edição, onde vai mostrar o litoral cearense.

Para que a primeira edição do livro fosse finalizada foram necessários três anos, entre pesquisa e edição de imagens. A autora conta que foi difícil escolher as melhores imagens, entre os seus mais de 7.500 cliques. O livro traz 68 fotografias, de lugares, pessoas e objetos relacionados à água. Por meio dos comitês da Cogerh, as comunidades entrevistadas poderão conferir o resultado final do trabalho.

Realidades
Nos lugares onde passou, a fotografa identificou realidades diferentes. Em algumas comunidades ela encontrou moradores que ainda vivem a mercê do poder público e em outras cidadãos que simplesmente cercam as fontes de água. "Durante meu trabalho, pude observar que existe muita água no Estado do Ceará, mas não existe distribuição. A água fica restrita às pessoas com maiores condições financeiras. Nem mesmo as águas dos açudes chegam às residências dos mais necessitados. É preciso que haja uma política eficaz de distribuição das águas, para que se acabe com situações semelhantes a que pude observar em Orós, cidade rica em água e próxima ao Município de Salitre que vive em estado de seca constante", afirma a fotógrafa.

Comunidades
A autora ouviu donas de casas, agricultores, representantes de assentamentos, associações, membros de comunidades indígenas e quilombolas e descobriu que, na maioria das vezes, as pessoas transferem para o próximo as responsabilidades de suas ações com a água. Nívia Uchôa conta que o trabalho mais complicado na elaboração do livro foi chegar aos locais mais longínquos, onde as comunidades vivem em absoluta decadência, sem acesso aos serviços de água, energia, educação, saúde e comunicação.

Na primeira edição de "Águas pra que te quero!" foram impressos 2 mil exemplares. Para a autora, a água precisa de espaço e o poder público não é sensível a esta questão. "A água está pedindo seu lugar no mundo", revela.

O livro é um kit multimídia que traz postais com imagens dos locais visitados, um CD com fotos e outro com um vídeo documentário sobre a temática, gravado nos Municípios de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Brejo Santo e Missão Velha. No roteiro estão relatos de populares sobre o uso das águas na região do Cariri. Toda a produção do título aconteceu com a ajuda de amigos da autora, que se dividiram para elaborar a publicação. A Anima Cult fez a coordenação do livro, a professora doutora Nancy Sierra elaborou da pesquisa de campo que consta no livro, a edição de fotografias e a curadoria é de Celso Oliveira.

A publicação foi aprovada pela Lei de Incentivo à Cultura, edital Mecenas do Ceará. Teve apoio da Companhia Energética do Ceará (Coelce), Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), programa Pacto das Águas e, ainda, da Superintendência Estadual de Meio Ambiente (Semace).

A autora
Nívia Uchôa, é graduada em Geografia, pela Universidade Regional do Cariri (Urca). Ela é a fundadora e dirigente do Banco de Imagens e grupo de fotografia Poesia da Luz, onde organiza projetos, articula e mobiliza fotógrafos e fotógrafas da região do Cariri para decisões importantes nas políticas públicas da cultura dos Municípios e Estado. É membro do Instituto da Fotografia (Ifoto), da Associação de Audiovisual do Cariri, do Fórum Foto Ceará, da Rede de Produtores Culturais de Fotografia no Brasil. Como profissional, desenvolve pesquisa autoral a partir do ser humano, cotidiano.

Mais informações
Livraria Nobel
Cariri Shopping
Telefone: (88) 3571.1669

Lançamento do Livro em Juazeiro: Sesc - dia 1º de junho
Em Brejo Santo: dia 6 de junho

YAÇANÃ NEPONUCENA
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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