Governo precisa de mais tempo para resolver a crise, diz Mercadante

O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, diz que o governo precisa de tempo para resolver a crise e reconhece que a gestão de Dilma Rousseff "foi além do que podia na política anticíclica".

Em entrevista à Folha, ele defende o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e afirma que a fala do vice, Michel Temer, sobre o risco de o atual governo não resistir até 2018, estava "fora de contexto".

O ministro ainda disse que é preciso aumentar impostos "provisoriamente" para ajudar o governo a reverter o deficit projetado para o Orçamento de 2016.

Confira a entrevista:

Folha - Vocês mandaram um Orçamento com deficit ao Congresso. Incapacidade de gerir suas contas públicas?
Aloizio Mercadante - Se você analisar o histórico da crise desde 2009, o impacto é desigual. Atingiu toda a economia mundial e uma de suas principais dimensões são as finanças públicas. Mas eu diria que, no segundo semestre de 2014, atingiu fundamentalmente os países emergentes, que tinham sido os menos atingidos no início por causa dos preços das commodities.

O segundo problema foi a seca. Estamos indo para o quarto ano. Isso impactou a oferta de água, São Paulo é o lado mais visível, e a energia. O terceiro é o impacto do combate à corrupção, a Lava Jato.

Há lado positivo?
Sim. Vai melhorar a governança das empresas, mudar o padrão de relacionamento com as estatais. Tem uma parte de recuperação de ativos que foram desviados na Petrobras, mas tem um impacto econômico. Esses três fatores, e um ambiente político muito adverso, porque, no fundo, 2014 é um ano que não acabou para a oposição, nos fizeram entrar no pós-eleição no terceiro turno continuado.

O governo não tem culpa?
Vou chegar lá. Eu participei da coordenação das últimas sete eleições presidenciais, perdi três. A oposição perdeu quatro sucessivas, 12 anos de derrota. Não foi fácil para gente [perder] e não é fácil para eles. Temos uma responsabilidade imensa de preservar os valores democráticos, as instituições. Significa reconhecer a vontade da maioria. Acabou a eleição, acabou.

Precisamos permitir que o debate político dê um salto. A percepção é que, se melhorar o ambiente político, sairemos mais rápido, o sacrifício da população é menor.

Mas e o governo?
Evidente que tem responsabilidade. Acho que poucos se deram conta da velocidade da queda das commodities no fim do segundo semestre de 2014. Estávamos em intensa campanha, debatendo, viajando, e, quando chegou no fim da campanha, o mundo era outro. Isso impactou muito as finanças públicas. Fomos além do que podíamos na política anticíclica, na desoneração de impostos, no esforço de manter os investimentos, de manter os gastos.

Há uma disputa entre Joaquim Levy e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa?
Esse debate sempre teve. No governo anterior [FHC], talvez o polo desenvolvimentista tenha ficado muito minoritário. A sabedoria é equilibrar.

O mercado teme a queda de Joaquim Levy.
A presidente deixou claro que o Joaquim faz parte do time, tem dado imensa contribuição. Ele tem uma virtude que acho muito importante: cuida das finanças com o mesmo rigor com que cuida de suas filhas.

E é muito importante neste momento [dizer] que o ajuste fiscal tem impacto econômico mas não é a razão das nossas dificuldades. Traz sacrifícios? Traz. Mas é a ponte para um novo ciclo de crescimento. O problema da desaceleração da economia não é o ajuste.

O governo vai buscar a meta do superavit primário de 0,7% para 2016?
Nós partimos de um Orçamento com total transparência e deficit [primário] de 0,5% do PIB, mas temos uma meta que é 0,7% do PIB. Vamos lutar para cumprir.

Por que, então, mandaram o Orçamento com deficit?
Se não houver a percepção do problema fiscal, você não consegue criar convergência para encontrar soluções.

O sr. associou o impeachment a golpismo. Mas o instrumento está previsto na Constituição.
O impeachment está na Constituição, mas ela é muito rigorosa em relação às condições. O que não posso é ter como proposta para o impeachment a busca de um pretexto.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sugeriu a renúncia da presidente.
Ele mesmo já disse que não foi bem compreendido. Prefiro ficar com essa explicação. Essas pessoas são importantes na crise para manter as pontes, a governabilidade, interlocução, um clima de estabilidade que o país precisa. Ele falou que não era hora de dialogar. A gente tem que respeitar, mas isso passa rápido. Pela história dele, acho que passa e voltaremos a dialogar.

O governo tem 8% de aprovação popular, o desgaste com a Lava Jato. Onde erraram?
Essa contribuição de ter o Ministério Público reconhecido, a Polícia Federal contribuindo nas investigações –você nunca viu um gesto do governo para interferir– é um salto para a democracia.

Agora, quando você olha as pesquisas, 36% têm viés de oposição, mas, se você olhar a eleição, é mais ou menos isso. E 44% estão decepcionados porque tinham expectativa de uma melhora imediata que, com a crise internacional e todos os contornos que dei aqui, não permitiu que o governo realizasse num prazo de seis meses. Mas são quatro anos a cumprir. É preciso dar esse tempo.

Boa parte acha que Dilma mentiu na eleição.
Erramos no diagnóstico da evolução do impacto da crise internacional na economia.

Dois anos de recessão?
Não estamos vendo desta forma. Agora, setembro, outubro, novembro, já vamos sentir uma melhora.

Michel Temer disse que o governo não suporta três anos com a popularidade tão baixa.
Olha, foi uma frase fora do seu contexto, do que ele quis dizer. O [vice-]presidente Temer tem um profundo compromisso com a democracia. O que entendo do que ele quis dizer é que os governos ganham e perdem popularidade.

Ele não está se colocando como alternativa?
Eu só tenho atestado a lealdade dele e o compromisso com o projeto. Ele tem ajudado muito.

Fonte: Folha.com

Curta nossa página no Facebook



Nenhum comentário:

Postar um comentário

AddThis