Florada dos ipês embeleza a paisagem urbana do Cariri

A mudança da paisagem urbana com a florada dos ipês chama atenção na região do Cariri. O mês de setembro entra mais florido, mesmo com uma temperatura alta e calor sufocante, as flores das árvores do pau- d'arco resistem e enfeitam as ruas e as áreas de encosta da Chapada do Araripe.

Os tapetes amarelados se estendem, a cada ventania, trazendo tons e cores a uma das regiões privilegiadas do País, com a presença dessas espécies. A região possui ipês de praticamente todas as cores, coisa rara de se ver em localidades do Brasil. Até outubro é possível contemplar essa paisagem.

Mesmo ameaçadas de extinção, as árvores nativas da Mata Atlântica, da qual o Cariri possui uma pequena fatia, tem em grande parte de suas espécies o ipê- amarelo. O roxo ainda pode ser encontrado, numa boa quantidade, conforme levantamentos de estudiosos.

Tonalidade
Entre as cidades de Crato e Juazeiro do Norte, em uma das avenidas mais movimentadas da região, é fácil identificar as espécies. Em alguns pontos, há uma forte tonalidade amarelada, seguidamente, chamando a atenção de quem passa pelo local.

A sequência de ipês-amarelos ao longo da pista proporciona um espetáculo que encanta a todos. A época da floração começa em julho e se estende até meados de setembro, podendo chegar a outubro, quando as árvores perdem as flores.

Na área da encosta da Chapada do Araripe, os ipês começam a florar na abertura da primavera. O ipê-amarelo, que não poderia deixar de ser, é uma árvore genuinamente da flora brasileira. A paisagem ampla do sertão do Cariri ganha de presente a beleza das flores.

Inspiração de poetas como o Patativa do Assaré, que destacou em versos a árvore também conhecida como pau d'arco, o ipê já foi considerado a 'rainha do sertão'. Para a artista plástica do Crato, Márcia Leal, é o Brasil que se apresenta com sua magnitude de cores. Ela se inspira na árvore para produzir suas telas. "Traz cores vibrantes, do verde, o amarelo, que estão na bandeira do Brasil", diz, além de destacar o momento propício, como espécies legítimas e representantes do povo brasileiro.

Características
O ipê-roxo tem uma florada depois ou basicamente simultânea ao ipê-amarelo. A bióloga Ana Cleide Mendonça, mestre em Bioprospecção Molecular da Universidade Regional do Cariri (URCA) e pesquisadora na área de Botânica, afirma que desde 2010 vem observando as floradas na região. Ano passado, a florada a impressionou. E este ano, parece se repetir, mesmo que neste início em alguns pontos da região.

A pesquisadora destaca que tanto o amarelo quanto o roxo estão presentes em grande quantidade na região, mas há características diferenciadas para as espécies, também no contexto regional. Desde que chegou ao Cariri, há cerca de três anos, o chefe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), Paulo Maier afirma que ainda não tinha presenciado um momento tão bonito para a região, com tanta abundância de ipês floridos.

A presença da árvore na floresta o impressionou, principalmente no caso do ipê-amarelo, em maior quantidade na floresta.

Conforme Ana Cleide, em algumas áreas da Mata Atlântica há uma variação da espécie, em relação à da Chapada do Araripe, que é única.

Medicamento
Com cerca de até 20 metros, com tronco com diâmetro variando de 60 a 80 centímetros, no Cariri, as árvores nas outras localidades de florestas possuem porte até maior. No caso principalmente do ipê-roxo, há o uso medicinal da árvore, com venda de raspa do tronco, principalmente como anti-inflamatório, nas feiras do Cariri.

O pau-d'arco também é usado na medicina popular como antibacteriano, antifúngico e laxativo, para diabetes e alergias, além de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), como sífilis, candidíases e cancro, problemas gastrointestinais e alergias. Na década de 1960, os estudos realizados com os extratos da madeira interior, assim como da casca de pau-d'arco, revelaram que estes possuíam um excelente combate aos tumores em animais. A descoberta despertou o interesse do Instituto Nacional do Câncer, que se dedicou ao estudo do vegetal e suas propriedades medicinais.

Segundo Paulo Maier, um estudo realizado junto às comunidades e à academia demonstrou que de 174 espécies de interesse do comércio na área do extrativismo, os dois ipês foram identificados. A boa notícia é que não foi constatado declínio de população do ipê-amarelo nos últimos anos.

No caso do roxo, aparece em menor quantidade. A pretensão do órgão a partir de agora é incentivar o plantio dessas espécies em áreas atualmente identificadas como em estado degradado e de manejo.

A pesquisadora Ana Cleide Mendonça admite que uma das razões para a menor população das árvores com as flores roxas é justamente por conta do uso medicinal da planta, além de estar em áreas mais próximas dos centros urbanos. Ela disse que podem ser identificadas algumas diferenças entre ambas as espécies, quanto à morfologia da planta. Por exemplo, o amarelo possui uma vargem comprida, parecida com a do feijão, e a do roxo, mais arredondada, com formatos de sementes diferenciados.

O pau d'arco ou ipê é uma árvore tipicamente brasileira. No Cariri é visto de forma abundante na área da Chapada do Araripe, com espécies diferenciadas e floradas como cores distintas, como o amarelo, roxo, e em algumas localidades, pouco comum na região, o branco.

O ipê-roxo é indicado pelos moradores de comunidades, como árvore medicinal, principalmente indicada como anti-inflamatório. A madeira é bastante usada em construções e na fabricação de móveis. Mesmo com a exploração, principalmente do roxo, deverá haver um incentivo para o replantio em áreas degradadas. Este ano, a região cotou com uma das maiores floradas dos últimos anos.

Mais informações
Universidade Regional do Cariri
Telefone (88) 3102.1202

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
Telefone: (88) 3523. 1999

ELIZÂNGELA SANTOS
REPORTAGEM E FOTO

Fonte: Diário do Nordeste

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