Quando um filme fica velho?

De uns tempos pra cá, observando alguns comentários em redes sociais, tenho notado uma certa resistência à obras cinematográficas se elas forem “velhas”.

Mas, o que é um filme “velho”? 

Aparentemente essa classificação depende da idade do público e não da obra em si. Adolescentes tendem a considerar o que foi lançado nos anos 90 como antigo. Já quem se encontra na casa dos 25, 30 anos, já não conta longas da década de 80 como “recentes”. Bom, até aí, tudo bem. É uma característica comum à idade e provavelmente quem está na faixa dos 40 anos deve transferir para os anos 70 o que considera antigo. A psicologia explica. É muito mais agradável transferir a idade que avança cada vez mais, classificando filmes do que admitir o próprio amadurecimento. Não é todo mundo que gosta de dizer: “é, estou ficando velho”.

O maior problema está mesmo na resistência. Considerar um filme antigo não significa que ele não deve ser assistido ou até, em casos mais drásticos e que beiram a estupidez, zombados. Se o filme é bom não importa a idade. Claro, existem diferenças na forma, na narrativa, mas isso não diminui a qualidade. Bons longas, clássicos, podem até ser chamados de velhos (no sentido pejorativo da palavra), mas não ficam datados. Um filme como O Sétimo Selo, de 1957, por exemplo, exibe a mesma complexidade hoje que na época de seu lançamento. Ingmar Bergman cria belas imagens que, mesmo em preto e branco (e uso ‘mesmo’ porque esse é um fator que ‘assusta’ certos espectadores), continuam deslumbrantes. Isso vale também para a discussão filosófica contida em seu texto, uma alegoria sobre o significado da vida, o controle que não temos sobre ela e aceitação da morte. Por que se privar dessa experiência apenas por conta da idade avançada da obra?

Um argumento que pesa contra produções com mais de 25, 30 anos, é que elas são “chatas”. Claro, pra quem está acostumado com o ritmo de videoclipe de hoje, que tende a condensar ações, deixando tudo mais dinâmico, filmes antigos podem mesmo parecer lentos. Esse é um sinal da geração atual. Mas por que tanta pressa? Hoje em dia, dificilmente alguém se permite a contemplação. Consumimos ferozmente, mas não somos mais levados à pensar sobre o que acabamos de consumir, nem depois, nem durante o consumo. Lawrence da Arábia, de 1962, com sua duração de 216 minutos, não atrai jovens de hoje. O longa, no entanto, é tão épico quanto os 251 minutos da Edição Estendida de O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei. E pesa à favor do primeiro uma importância muito maior pro cinema. Rodado em 70mm, suas proporções gigantescas não se aplicam apenas à trama ou às interpretações imortais de Alec Guiness, Peter O’Toole e Anthony Quinn, mas também à sua fotografia.

Efeitos especiais ultrapassados também não ajudam e boa parcela do público prefere rir de uma cena de ação de 007 Contra o Satânico Dr. No, do que tentar compreender seu valor histórico. Também lançado em 1962, o longa que iniciou a série de James Bond tem uma ótima perseguição automotiva que, da forma como descrita no roteiro e pretendida por seu diretor, só poderia ser gravada como ali está: os takes de Sean Connery dentro do carro mostram a ação ocorrendo do lado de fora por meio de projeção, uma técnica antepassada do Chroma key. Contextualizar o momento em que foi realizado e considerar os recursos dispostos na época ajuda a relevar o que pode ser considerado “antiquado” para os padrões de computação gráfica de hoje em dia. Se despir de preconceitos é um passo importante para conhecer coisas que, podem não ser novas, mas não deixam de ser novidade pra quem não está acostumado.

E, antes que este texto pareça o desabafo de um saudosista que acha tudo que é velho é bom, deixo o registro: filmes ruins existiram e continuarão a existir em qualquer época. Mas você nunca os conseguirá distinguir dos que não são se sua bagagem sobre cinema ficar limitada à apenas o que você já conhece. Então, antes de se perguntar se este ou aquele filme é antigo, assista-o e procure saber se ele é bom.

Fonte: Cine Alerta

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AddThis