Localizado no distrito de Santa Fé, Crato pode ganhar novo Geopark até o fim do ano

Resquícios de lendas e da chegada do homem ao Cariri estão presentes no Sítio Arqueológico de Santa Fé, no Crato, que até o fim do ano deve se tonar mais um geossítio do Geopark Araripe. Seu principal atrativo são as inscrições rupestres deixadas pelos antigos habitantes que viveram no Sul do Estado do Ceará. O local deve ser estruturado para receber visitantes e pesquisadores. Outros dois lugares, no mesmo Município, devem fazer parte do território da Organização das Nações Unidas para Educação Ciência e Cultura (Unesco).

Com área de 8,3 hectares, o Sítio Arqueológico fica a cerca de 20 quilômetros da sede do Município do Crato e está a 800 metros de altitude. Há três décadas, o local é pesquisado pela Fundação Casa Grande, de Nova Olinda. A expectativa inicial era que todo levantamento fosse concluído até junho para ser apresentado na Conferência Global de Geoparques, na Itália, junto com a candidatura de mais dois geossítios: Levadas de Água e Caldeirão da Santa Cruz. Todos no Município do Crato. Isso não aconteceu.

"A nossa ideia era que avançasse bem mais. Mas já foi feito todo o levantamento topográfico, definição das trilhas. Os totens que identificam o ambiente serão colocados. Isso ainda está em projeto. O inventário geológico está pronto. Faltando alguns detalhes", explica o diretor-executivo do Geopark Araripe, Nivaldo Soares. Além disso, a propriedade, que é particular, terá que ser estruturada para receber os visitantes. "Eu não me arriscaria a dizer uma data. A gente pretende que isso seja reconhecido ainda neste ano por uma série de questões junto a Unesco, mas existe o interesse de todo mundo. Até o fim do ano, queremos deixar isso pronto", completa Nivaldo.

Próximo passo
Após a aprovação, a expectativa é que, a partir de um projeto com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), haja investimentos para melhorar o acesso, sinalização e divulgação de Santa Fé. Algumas atividades com as comunidades do entorno devem ser realizadas para instruir os moradores a fazer uso do espaço com geração de emprego e renda, a partir da recepção de visitantes e artesanato. Outras possibilidades podem ser o turismo sustentável e rapel.

Descobrimento
A arqueóloga Rosiane Limaverde - já falecida - conheceu o Sítio Arqueológico em 1980 e logo se interessou pelas gravuras, que possuem características singulares de quaisquer outras da região. O que chamou atenção é que na rocha há uma incisão e, posteriormente, se aplicou uma tinta. Acredita-se que estes registros têm mais de 3.100 anos. "Pela técnica, altitude e tipo de grafismo, Santa Fé é um sítio que se mostra muito mais antigo. A vertente norte, na qual está incluído, é o trecho mais avançado para o vale do Cariri", pontua a arqueóloga Heloísa Bitú, que também pesquisa sobre o local.

Apesar do grande valor arqueológico, já que é um dos principais sítios do Cariri, o Geopark incluirá Santa Fé também pela sua formação geológica, que apresenta pacotes de arenitos.

"Têm aspectos visuais interessantes. Até panorâmico, pode ser considerado relevante. Lá é área de encosta que apresenta desenhos que podem ser considerados como bordados. A formação Exu, em si, favorece essas questões", descreve Nivaldo.

Outros candidatos
Além de Santa Fé, outro geossítio deverá ser criado no Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, antiga comunidade rural que foi destruída em 1937 pelas Forças Armadas e pela Polícia Militar. O Governo Federal temia que o lugar se tornasse um movimento messiânico.

Localizada a 33 km da sede do Crato, entre os distritos de Monte Alverne e Dom Quintino, a área foi abrigo de centenas de flagelados da seca, devotos do Padre Cícero, que encontraram na comunidade alimentação, trabalho e refúgio espiritual sob a liderança do beato José Lourenço.

O terreno é de propriedade da Prefeitura de Crato, por isso, o levantamento do perímetro está sendo feito pela gestão municipal.

A partir dele, os técnicos do Geopark Araripe começarão a trabalhar o inventário geológico. "Aí, podemos fazer o mapa, que é cheio de detalhes", justifica Nivaldo. A equipe está pronta, aguardando o estudo. Além disso, se discute que o local se torne uma unidade de conservação.

Embrionário
O último possível geossítio a ser criado será batizado de "Levadas de Água", que estará localizado em uma trilha entre os sítios Coqueiro e Nascente, no Crato. As levadas de Barbalha e Porteiras também poderão fazer parte do roteiro. "Mas a gente não avançou em nada. Há uma série de questões. Está na ideia. Poucas coisas foram escritas, houve apenas visitas de campo. Tudo ainda preliminar", completa Nivaldo.

Atuação relevante
Criado em 2006, o Geopark Araripe está presente em seis municípios da região do Cariri e hoje possui nove geossítios. O projeto de desenvolvimento territorial faz parte da Unesco e sua gestão é feita pela Universidade Regional do Cariri (Urca). Este território esta inserido em uma região caracterizada pelo importante registro geológico do período Cretáceo, com destaque para seu conteúdo paleontológico, com registros entre 150 e 90 milhões de anos.

Os geossítios são a Colina do Horto, em Juazeiro do Norte; Cachoeira de Missão Velha e Floresta Petrificada do Cariri, ambas em Missão Velha; Pedra Cariri, Parque dos Pterossauros, Pontal de Santa Cruz, em Santana do Cariri; Batateira, em Crato; Riacho do Meio, em Barbalha e Ponte de Pedra, em Nova Olinda.

ANTONIO RODRIGUES
COLABORADOR

Fonte: Diário do Nordeste

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