Áreas de risco do Cariri preocupam

Áreas de risco em encostas dos Municípios de Crato, Barbalha e Juazeiro do Norte estão sendo foco de estudos e acompanhamento do Programa de extensão "Ações de Gerenciamento de Áreas de Riscos na Região Metropolitana do Cariri". O trabalho vem sendo desenvolvido pela Universidade Federal do Cariri (UFCA), por meio do curso de Engenharia Civil. As atividades de educação e conscientização buscam instrumentalizar e capacitar a sociedade e o poder público, na prevenção de catástrofes em área de erosões e deslizamentos. Nos últimos anos, tem ocorrido aumento das áreas de risco e há uma preocupação em relação aos processos de ocupação desordenados. O programa será iniciado a partir de fevereiro de 2015.

As ações iniciais serão realizadas em escolas públicas, com a entrega de dois tipos de cartilhas produzidas pelos próprios integrantes do Programa. Na publicação Riscos em Encostas, ilustrações e atividades educativas orientam o leitor a perceber sinais de riscos de desmoronamento, bem como a prevenir os desastres. Na segunda publicação, intitulada Saúde Ambiental, dois adolescentes apresentam, em fotonovela, a classificação do lixo, os riscos de sua destinação inadequada e uma série de sugestões para otimização dos resíduos sólidos. Os cuidados com a água, poluições sonora e do ar também são temas trabalhados no material, por serem problemas frequentes nas encostas ocupadas de forma desordenada.

As cartilhas serão distribuídas, ainda, nas instituições de ensino superior da Região do Cariri e durante palestras ministradas nas comunidades, previstas para o início de 2015. Também no próximo ano o Programa oferecerá dois minicursos do Núcleo de Defesa Civil (Nudec-Jovem) para alunos de escolas públicas situadas próximas às áreas de risco e um curso de Gerenciamento de Áreas de Riscos em Encostas voltado para profissionais da Defesa Civil e de Planejamento Urbano municipal.

Desde 2011 estão sendo realizados estudos pela universidade em áreas como o Alto da Penha, Pequizeiro e Seminário, em Crato, além do Horto e a área que margeia a linha férrea, em Juazeiro do Norte. Em Barbalha, começa a ser avaliada a ocupação do Distrito do Caldas, onde é registrado aumento populacional na área de encosta. As ações são desenvolvidas por alunos, com a supervisão da coordenadora do Programa de Extensão, professora Ana Patrícia Nunes Bandeira. Ela traz a experiência de atividades em área de risco em Recife, no Pernambuco.

A professora não descarta a sua preocupação quanto aos avanços de área de risco na região e diz que há uma necessidade de conscientização da população e preparação de técnicos do próprio poder público, principalmente da Defesa Civil, para atender permanentemente às demandas relacionadas a esses avanços desordenados e conter essa realidade, levando à conscientização à população.

O programa visa promover esse trabalho de forma permanente, fazendo com que moradores dessas áreas possam compreender a vulnerabilidade a que estão expostos nos casos de deslizamentos de encostas, construções em áreas inadequadas e possíveis desabamentos, entre outros. Ela mesmo chegou a constatar na localidade do Pequizeiro, em Crato, moradias em situações delicadas, com pisos de residência rachados e esgotos a céu aberto em áreas de barrancos.

Em 2013 foi aprovado Edital do Ministério da Educação - Proext 2013. A meta é instituir três ações. A primeira, que ela considera a mais importante, é a capacitação dos técnicos da Defesa Civil na região do Cariri, sobre o gerenciamento das áreas de risco. Os estudantes de escolas públicas serão o segundo passo dessas ações, para a criação de Nudec-Jovem. Atualmente existe apenas um núcleo no Estado, formado em Caucaia. A meta é instituir três núcleos, com 30 jovens em cada cidade. A formação ocorrerá em uma escola que esteja inserida em área de risco, com cursos durante os finais de semana. No caso dos técnicos, serão realizados dois cursos, com turmas de 25 técnicos, a ser ministrado na própria universidade, em Juazeiro do Norte.

A primeira equipe da Defesa Civil contatada pela equipe foi no Crato. As visitas começaram a ser realizadas nas áreas de risco, com acompanhamento dos alunos e técnicos dos municípios, já em 2011. Para a professora Ana Patrícia, uma das soluções que se pode verificar na prevenção de catástrofes é a comunicação do risco à população, que muitas vezes está na área e não sabe a que está exposta. "Há como conviver como risco, de forma segura, se adequando à situação e monitorando", alerta.

Para a técnica, as pessoas não têm a percepção de que estão construindo moradia numa área de risco. A retirada da vegetação de determinados locais, muitas vezes, é por falta de conhecimento do morador de que aquela mata está protegendo o lugar de um possível deslizamento. "Muitas vezes as pessoas desconhecem situações dessa natureza, e o que falta mesmo nesse caso é a informação", diz. Ela destaca a ocupação intensa que vem acontecendo na área do Caldas e alerta por um gerenciamento maior por parte dos municípios. "Os cursos serão uma forma de mapear essas áreas para prevenção", diz. "Uma das formas de minimizar o perigo de tragédias é fazer com que as pessoas percebam o risco", completa.

A pesquisadora alerta quanto a um agravante que é o tipo de solo da região, susceptível a deslizamento e erosões. "No período de chuvas, com enxurradas, acontecem às erosões, sedimentam os canais e ocorre inundação", diz. Foi o que ocorreu no canal em Crato, por exemplo, com o registro de enchentes. Além dos fatores naturais, há a questão do planejamento urbano, do mapeamento de áreas de risco e verificação de localidades aptas ou não à urbanização.

Em 2012 foi aprovada, pelo Governo Federal, a Lei Nº 12.612, que obriga os municípios com áreas de risco a fazer a cartografia de aptidão à urbanização, tratar as áreas de risco já existentes e prevenir que novas surjam, principalmente cidades acima de 250 mil habitantes. Caso não apresente o estudo, o Município pode ser punido por ser um agente que colaborou com o problema. Ela destaca a parte do controle urbano, como forma de gerenciamento das áreas e que deve haver aumento das equipes de defesa civil.

ELIZÂNGELA SANTOS
REPORTAGEM E FOTO

Fonte: Diário do Nordeste



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