Jardim (CE): Agricultores se mobilizam para temporada de vendas do pequi

Começa a temporada do pequi na região do Cariri. Em vários pontos da Chapada do Araripe os pequenos produtores rurais montam suas barracas, para aproveitar o período da safra, que passa por três etapas de colheita, até o mês de maio. É uma alternativa para centenas de famílias na região. Alguns catadores chegam a arrecadar com a coleta e venda do fruto, sem atravessadores, cerca de R$ 2 mil por mês, segundo a Associação dos Catadores de Pequi de Jardim. Além de ser um dos mais tradicionais frutos da região, o pequi atualmente é alvo de várias pesquisas, com processo de patenteamento encaminhado por estudiosos, além de ser valorizado financeiramente.

Há período em que um só fruto chega a custar R$ 1,00. Atualmente, quatro "caroços", com a polpa e cheiro característicos, estão custando esse valor. Para os órgãos ambientais, é importante agora poder agregar mais valor ainda a esse produto, com a preservação da espécie. Ano passado, mais de mil mudas do pequizeiro foram plantadas na chapada e em pequenos terrenos de agricultores. A preocupação é por conta da espécie estar ameaçada e muitas árvores estarem já antigas.

Para o chefe de Floresta Nacional do Araripe (Flona), William Brito, do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), é importante promover o melhoramento do pequi, mas com uma atenção direcionada à espécie. Conforme o chefe da Flona, técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) já estiveram na região, com a intenção de conhecer melhor a produção do produto, para usar na mistura do óleo com o diesel. Mas essa realidade ainda está longe de acontecer por conta da pequena produção. Isso se refere principalmente ao óleo. Outra alternativa já cogitada é com relação ao cultivo de mudas enxertadas para produção do fruto em até sete anos. Ele destaca a necessidade do melhor aproveitamento. Além disso, defende a duplicação da produção, de forma otimizada, para a produção do óleo, e com isso dar mais sustentabilidade ao processo.

De acordo com Brito, há necessidade de melhor organização, já que em outros lugares do Brasil, como no Goiás e em Minas Gerais, existe um trabalho bem mais sistematizado, em termos de entidades representativas dos pequenos produtores, além de Arranjos Locais Produtivos (APLs). Para o chefe da Flona, é preciso haver uma renovação dos pequizeiros. Caso isso não ocorra, ele calcula em 10 ou até 20 anos, não se possa mais encontrar pequis de boa qualidade na região.

Outro drama vivido pelos catadores está relacionado à retirada do fruto antes do tempo, em vista da oferta do produto e dos bons preços praticados no comércio local. Em todos os mercados da região, é um produto fácil de se encontrar, demonstrando um bom nível de comercialização. O produtor Antônio da Hora, da Baixa do Maracujá, na cidade do Crato, afirma que nos anos 60 o pequi era um fruto muito pouco valorizado, servindo de alimento para o gado. "Não tinha quase extração", afirma. Hoje, é um dos produtos mais valorizados da agricultura familiar.

Durante este mês, catadores de cidades da região estiveram reunidos no Crato para debater as principais dificuldades encontradas no processo de extrativismo do pequi.

Organização
Os produtores desceram a serra para conhecer também alternativas que possam auxiliar nesse processo. Instituições como a Fundação para o Desenvolvimento Sustentável do Araripe tem reunido constantemente produtores de várias cidades, como Jardim, Crato, Barbalha, Nova Olinda, Santana do Cariri, entre outras cidades, para debater melhor organização das comunidades, no que diz respeito a um trabalho de mapeamento das áreas, além de verificar a produtividade local e o seu potencial.

Além dos produtores, pesquisadores demonstram que o pequi está além de um alimento, rico em nutrientes, como a vitamina E.

O professor doutor da Universidade Regional do Cariri (Urca), Glauberto Quirino, buscou elementos iniciais para desenvolver sua pesquisa. E chegou a conclusão, por meio de sua tese de mestrado, na área de Bioprospecção Molecular, que o fruto tem propriedades gastroprotetoras, por meio do óleo. Isso sem falar nas características singulares que só o pequi da Chapada do Araripe possui, do ponto de vista da composição química do fruto. Os testes feitos em animais também comprovaram propriedades anti-inflamatórias, além de ser um antioxidante e conter vitaminas A e C.

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



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