Crato (CE): Grupo de fotógrafos sai às ruas para captar cenas do cotidiano

Um grupo de fotógrafos amadores e profissionais decide sair todos os meses às ruas do Crato para fazer os registros mais inusitados. Esse trabalho tem sido desenvolvido por meio do projeto Foto Crato, com vida própria, que segue a partir da paixão pela fotografia dos que dela fazem parte. Cada um só deve ter ideias na cabeça e câmeras para sair em busca de assuntos e fotografando a partir de sua percepção criativa. O ponto de partida são os caminhos dos trilhos. A saída é da estação, como não poderia ser diferente. No último encontro, participaram cerca de 40 fotógrafos. O projeto acaba de completar um ano neste mês.

Não importa a máquina. O importante é o foco criativo. Dada a partida, a maioria dos participantes do grupo não se apressa em caminhar, porque a observação delimita os passos, os temas relevantes dão o tom da parada. O percurso dos integrantes do Foto Crato foi desde o Centro da cidade até o bairro Muriti, no oitavo encontro da turma. Foram cerca de cinco quilômetros de caminhada e milhares de registros captados pelos fotógrafos. O trabalho foi iniciado através de um projeto desenvolvido na Secretaria de Cultura da cidade, na área de artes visuais, idealizado pelo artista Alexandre Lucas. Depois assumiu novos contornos, em sua trajetória.

Imaginação
Agora segue caminho independente. O fotógrafo Allan Bastos dá as coordenadas para a turma. Para ele, o campo da imaginação está aberto, seja lá qual for o equipamento. A facilidade da fotografia digital, seja ela da câmera profissional aos celulares, não impede a criatividade, que para ele não tem limite.

O registro das áreas da cidade foi uma forma de redescobrir a paisagem do Crato. "Agora a gente está livre nesse espaço, convocando o grupo para participar", diz ele. E os registros são publicados nas redes sociais, dentro de um contexto, segundo Allan, de total democracia.

Além dessa vivência do prazer de fotografar, o projeto possibilita aos seus integrantes a oportunidade de conhecer, além do próprio equipamento, outras máquinas, e promover uma troca entre profissionais e amadores. "Além de vivenciar o passeio, em uma aula informal, desperta o interesse de outros fotógrafos", afirma.

Os novos projetos direcionados aos trabalhos do grupo, está em fazer a escolha do material produzido, já que a meta é publicar as fotografias, como registro da descoberta das novas paisagens do Crato, sob os mais diversos olhares. "Passamos por uma fase de produção das fotografias, e queremos levar para as ruas por meio de exposição", adianta.

A primeira será bancada pelo próprio grupo, levando às ruas da cidade em lambe-lambe, para que sejam multiplicadas as fotografias também com as vendas de cartões postais. A proposta da segunda etapa do processo é conseguir apoio para poder publicar mais imagens. Ele nem imagina atualmente o quanto já houve de registro por parte dos integrantes, mas classifica como de essencial importância poder estar captando esse momento, além de vivenciar a história, dentro desse processo de transformação constante da paisagem urbana.

Já houve incursões pelos bairros da cidade com a participação de mais de 80 fotógrafos, segundo Allan. O chamamento é feito principalmente pelas redes sociais. Numa manhã de sábado, a partir das 8 horas, todos se reúnem na estação. A turma vem chegando aos poucos, e no máximo às 9 horas, sai em caminhada. Desde pessoas, paisagens, arquitetura a problemas sociais. A diversificação dos temas auxilia no processo de identificação com o assunto de cada participante. A seleção inicial do material fica por conta do próprio fotógrafo e a segunda etapa passa pela curadoria de Alexandre e Allan, como forma de levar às ruas um trabalho mais elaborado e consistente.

Engajamento
De algum modo, é o cidadão comum que se engaja num processo de registro de sua cidade, conforme avalia o fotógrafo Allan Bastos. Ele afirma que esse olhar vem com mais verdade, menos timidez, por haver maior intimidade com a cidade, além do afeto. "Não é um turista que vê essa paisagem, mas quem conhece a problemática e quer se deter ao registro do que deseja mostrar", destaca.

Novos talentos já podem ser vistos desenvolvendo esse trabalho, no qual os seus integrantes encaram com a maior seriedade. "Tem gente bem determinada, que vai levar isso para a profissão, investindo em equipamentos e buscando espaço de trabalho", ressalta Bastos.

Para Alexandre Lucas, a ideia é estar sempre fortalecendo o grupo. "A grande contribuição do Foto Crato é instigar novos olhares, e a possibilidade de um número crescente de pessoas estarem adentrando no campo da fotografia", afirma. Em cada encontro, acrescenta o artista, se vê olhares inusitados sobre a paisagem do Crato. "O projeto é poder descobrir o Crato pelos próprios cratenses", avalia.

Com experiência em confecção de seringas, Fabiano Lacerda decidiu exercitar o prazer de fotografar e dar vazão a esse hobby no Foto Crato. Faz parte do grupo, desde o primeiro encontro. "Sempre vi o Crato em fotos antigas e isso me despertou. Estava faltando um grupo que fizesse esse documento, percebendo as mudanças com as novas tecnologias", conta.

Já o historiados Sandro Leonel, mesmo com 25 anos e experiência com fotografia, disse que a participação no grupo possibilita um aprendizado diferenciado. "A fotografia é uma expressão de sentimento", afirma. O professor destaca a captação constante de conhecimento, além da visão tecnológica bem maior dos jovens, que não vivenciaram a fase analógica.

"Esse contato vivencial entre os fotógrafos possibilita um novo olhar estético, artístico e dinâmica da fotografia"
Alexandre Lucas
Artista plástico

"A fotografia é uma expressão do sentimento das pessoas e cada uma terá isso exposto, a despeito do equipamento"
Sandro Leonel
Historiador e fotógrafo

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



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