Bolsonaro diz ver com ‘desconfiança’ ideia de Guedes para a Previdência

O presidente da República eleito, Jair Bolsonaro (PSL), disse nesta segunda-feira, 5, que ainda “não está batido o martelo” sobre a reforma da Previdência com o economista Paulo Guedes, seu futuro ministro da Economia. Ele disse ver com “desconfiança” a ideia de substituir o modelo atual por um que pressuponha uma poupança individual do trabalhador.

“Não está batido o martelo, tenho desconfiança. Sou obrigado a desconfiar para buscar uma maneira de apresentar o projeto. Tenho responsabilidade no tocante a isso aí. Não briguei para chegar [ao poder)] e agora mudou tudo. Quem vai garantir que essa nova Previdência dará certo? Quem vai pagar? Hoje em dia, mal ou bem, tem o Tesouro, que tem responsabilidade. Você, fazendo acertos de forma gradual, atinge o mesmo objetivo sem levar pânico à sociedade”, declarou, em entrevista à TV Band.

O modelo atualmente trabalhado por Guedes foi apresentado ao futuro ministro da Economia pelo ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e pelo especialista em Previdência Paulo Tafner na semana passada. A proposta prevê adotar um regime de capitalização, no qual o cidadão escolhe o valor necessário para sua própria aposentadoria, deixando de contribuir para que a Previdência mantenha a aposentadoria dos mais velhos.

"Não está batido o martelo, tenho desconfiança (…). Não briguei para chegar (ao poder) e agora mudou tudo. Quem vai garantir que essa nova Previdência dará certo? Quem vai pagar?"

O plano de Fraga e Tafner prevê a fixação de uma idade mínima de 65 anos para homens e mulheres, o estabelecimento de uma regra de transição mais rápida do que a pensada pela equipe de Michel Temer e a instituição do regime de capitalização para nascidos a partir de 2014.

“Nós temos um contrato com o aposentado, você vai mudar uma regra no meio do caminho?”, disse Bolsonaro ao jornalista José Luiz Datena, da Band. “Não pode mudar sem levar em conta que tem um ser humano que vai ter a vida que será modificada”, disse.

CPMF
O presidente eleito também negou com veemência a possibilidade de recriação de um imposto nos moldes da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). A medida foi estabelecida pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1997, para financiar a saúde, a Previdência e a erradicação da pobreza, e foi renovada até 2007 pelo governo Lula, por meio da Emenda Constitucional 42, promulgada em 2003.

“Não existe recriação de CPMF. Muito menos uma hipótese absurda dessas, uma CPMF de 0,9%. Porque no meu entender toda a cadeia produtiva é onerada mais de uma vez. Vai virar um inferno aqui o Brasil. Nós não queremos salvar o Estado quebrando o cidadão brasileiro.”

“Às vezes, algum colega pensa apenas em números. Como um jogou aí ‘vamos criar uma CPMF de 0,45%, paga quem recebe e quem também saca’. Eu falei ‘negativo’. Isso tudo está sendo muito bem organizado, conduzido, pelo Paulo Guedes e a gente sempre puxa a orelha de um ou outro assessor para não ir além daquilo que lhe compete”, acrescentou Bolsonaro.

Desemprego
Bolsonaro disse ainda que pretende mudar a forma como se calcula oficialmente o número de desempregados no Brasil. “Vou querer que a metodologia para dar o número de desempregados seja alterada no Brasil. O que está aí é uma farsa”, afirmou, sem citar especificamente o IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), responsável atualmente por calcular o desemprego.

“Quem recebe Bolsa Família é tido como empregado, quem não procura emprego há mais de um ano é tido como empregado, quem recebe seguro-desemprego é tido como empregado. Temos que ter uma taxa, não de desempregados, e sim de empregados. Não tem dificuldade para ter isso aí e mostrar a realidade para o Brasil”, afirmou.

Ao falar especificamente sobre o benefício do Bolsa Família, Bolsonaro reafirmou que não pretende cancelar os pagamentos, o que seria uma “desumanidade”, mas reiterou que “tem que ter uma nova forma de cadastramento”, apesar da dificuldade de se fazer auditorias. “Tem cidades em que 95% da população recebe Bolsa Família”, declarou.

Embaixada em Israel
Bolsonaro disse que não é “questão de honra” mudar a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, como ele já havia afirmado que pretende fazer — o que descontentaria o mundo árabe, grande parceiro comercial do Brasil. Nesta segunda-feira, 5, o Egito desmarcou um encontro com ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira Filho.

O presidente eleito reafirmou que existe essa vontade de transferir a embaixada brasileira para Jerusalém, mas disse que a questão será discutida pelo próximo chanceler brasileiro, ainda não escolhido. “Todo mundo fala que nós não devemos nos meter nas decisões de outros países. Se Israel resolveu mudar sua capital de local, não sou eu que mudei. Você tem que respeitar isso aí. Agora, para mim não é motivo de honra isso aí. É motivo de respeitar uma nação soberana.”

Ele não disse, no entanto, que irá desistir da ideia. “Nós pretendemos levar isso avante. Vamos conversar. Não tenho o nome do meu embaixador para me orientar nessas questões, mas como regra eu vejo que você tem que respeitar as decisões soberanas de outros países”, disse Bolsonaro.

Fonte: Veja.com (Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)

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