Pesquisas da UFCA analisam impacto da pandemia na saúde mental de populações vulneráveis

Depois de pouco mais de dois meses da identificação do novo Coronavírus, na China, em dezembro de 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou pandemia do vírus, com infecções ocorrendo em 114 países do mundo, já em março de 2020. O alto índice de contágio do vírus e o desconhecimento de como tratar os infectados colocaram a população mundial em alerta. As medidas necessárias para a contenção do vírus acabaram revelando as profundas desigualdades sociais e situações precárias em que vivem determinadas populações, que são impossibilitadas de adotar as medidas mínimas indicadas pela OMS para conter o avanço dos contágios.

Diante da eclosão dessas questões de cuidado com a saúde física e da necessidade de distanciamento social, os fatores que afetam a saúde mental das pessoas também se agravaram, sobretudo em determinados grupos populacionais. Diante disso, o grupo de estudo Suicidologia, coordenado pelo professor Modesto Leite Rolim Neto, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Cariri (Famed/UFCA), voltou suas atenções para pesquisar os impactos psiquiátricos do Coronavírus em grupos afetados, como estudantes e profissionais que trabalham na linha de frente de combate da doença, e em populações vulneráveis, como os sem-teto, os moradores de rua, os refugiados, os moradores de favelas e os povos indígenas.

O grupo, formado por estudantes e professores do curso de Medicina da UFCA e por estudantes do curso de Medicina da Faculdade Juazeiro do Norte (FMJ), em parceria com outras instituições, como a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), a Universidade Regional do Cariri (Urca) e a Santa Casa de Fortaleza, realizou as pesquisas por meio de revisão sistemática com metanálise segundo o protocolo Prisma. As pesquisas, que abrangem a população mundial, foram publicadas no periódico internacional Psychiatry Research, da Elsevier.

Embora sejam pesquisas que abranjam a população mundial e não especificamente a região, os dados obtidos retratam realidades vivenciadas durante a pandemia por esses grupos e populações existentes em todo o mundo. Através da pesquisa sobre a saúde mental dos povos indígenas, segundo o professor Modesto Rolim, constatou-se o agravamento da situação em que essas populações vivem e a falta de acesso aos cuidados de saúde mental necessários. Modesto conta que a pandemia do corona “trouxe esse contexto de disparidades étnicas e raciais no uso dos serviços de saúde mental”.

Os indígenas, por já viverem sob ameaça cultural e de desterritorialização de seus ambientes por madereiros e grileiros, agora passaram a conviver também com a ameaça do vírus. Segundo Modesto, o medo e a incerteza sobre a própria vida piora a saúde mental e aumenta os casos de estresse, ideação suicida e depressão nos povos indígenas. Além de piorar as condições de saúde mental, falta acesso a apoio psicossocial: “Faltam protocolos universais ou diretrizes para as práticas de apoio psicossocial mais eficazes às populações indígenas”, disse Modesto.

O grupo de pesquisa também teve publicado um artigo sobre o impacto do Coronavírus na vida dos refugiados, que vivem, segundo Modesto, “situação frágil, preocupante e desafiadora”. De acordo com ele, mesmo depois de assentados em outro país, os refugiados vivenciam estresse na adaptação a um novo lugar. Os refugiados enfrentam a burocracia, a pobreza e o racismo. Além disso, há o obstáculo da língua, que dificulta o acesso à informação sobre a Covid-19 para que essas pessoas se protejam. O modo de vida amontoado nos campos de refugiados também impossibilitam o distanciamento social, alerta o professor.

As pessoas que moram em favelas em todo o mundo também foram foco da pesquisa sobre os grupos mais vulneráveis às doenças mentais com a pandemia da Covid-19. Por viverem em situação que dificulta tomar as medidas necessárias para a contenção do vírus, como distanciamento social, por viverem em espaços pequenos ou com muitas pessoas dividindo o mesmo domicílio, os moradores de favela estão mais expostos ao estresse e à depressão. Para Modesto, a situação econômica dessas pessoas trazem implicações sérias para a saúde pública porque viola os direitos humanos.

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