Após tragédia, cidade de Milagres tenta voltar à rotina

A Rua Padre Misael Gomes ainda preservava algumas marcas de sangue, nessa segunda-feira (10), no local onde tombou morto um dos suspeitos da tentativa de assalto às duas agências do Município de Milagres, no Cariri cearense. No entanto, em meio aos resquícios da troca de tiros, os moradores da cidade retomavam a rotina depois da tragédia da madrugada da última sexta-feira. As aulas voltaram a acontecer e o comércio abriu as portas, mesmo que, em cada esquina, o episódio ainda era comentado.

"Vai demorar para isso sair da boca do povo", acredita o professor Lucas Santos. Nas ruas da cidade, a movimentação de policiais aumentou e alterou, de certa forma, a rotina milagrense. Mais duas viaturas da Polícia Militar e uma da Polícia Civil reforçam a segurança na cidade. "O pessoal ainda está apreensivo. Ninguém sabe de nada", completa Lucas.

A população acredita que ainda há suspeitos do assalto foragidos no Município ou em cidades vizinhas. "Todo mundo com medo. A gente tem que sair, mas fica com medo", confessa a agricultora Maria Aparecida Francier. Nas conversas de praças e calçadas, os moradores estão divididos quanto à atuação da Polícia Militar na operação. "Nós estamos mais revoltados pela família que morreu e não tinha nada a ver", acrescenta Maria.

As duas agências, do Banco do Brasil e do Bradesco, que seriam o alvo da quadrilha, funcionaram normalmente nessa segunda-feira, mesmo em meio a alguns estilhaços de vidro. Mais cedo, muitos moradores ainda tinham dúvida se abririam as portas; por isso, as filas eram mais tímidas que o comum. "Eu venho ao banco porque é o jeito", garante a aposentada Maria Alves de Sousa.

Nascida e criada em Milagres, a senhora de 60 anos conta que nunca viu algo parecido na cidade. "Todos nós temos que estar preparados para tudo. Agora, está aparentemente bem. Acho que está tudo normal. De hoje para a frente estará tudo na paz. A população ficou muito assustada, mas vai voltar ao normal", completa Maria Alves.

Bancos
O comércio abriu as portas normalmente. Aliás, no último sábado, um dia após a tragédia, isso já havia acontecido, mesmo que timidamente. A feira também funcionou. "No sábado, voltou ao normal, mas tinha muitos curiosos", conta o comerciante Gilson Ferreira. As escolas e repartições públicas municipais também voltaram a funcionar. "Logo depois foi muito difícil. Com o tempo, as coisas vão passando. A vida tem que continuar. Ainda fica aquele receio. A gente olhava as capitais, mas nunca imaginou que algo assim ocorresse no interior", confessa a estudante Alicia Moura Pinheiro.

Oração
Espontaneamente, grupos de diversas religiões têm se reunido em frente à agência do Banco do Brasil, local onde teria acontecido o confronto entre a Polícia e a quadrilha, para orar pelas vidas que foram perdidas na última sexta-feira.

Além disso, uma missa campal está marcada para ser realizada por lá, na próxima quinta-feira (13), às 18h30. "Uma celebração pelas vítimas e pela paz", conta o padre Ronaldo Oliveira. "A gente tem sentido um clima de perplexidade. As pessoas ainda nem entenderam. Vejo elas tristes, amedrontadas", disse o sacerdote.

ANTONIO RODRIGUES
COLABORADOR

Fonte: Diário do Nordeste

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