Juazeirense de 59 anos deixou casa no Brasil e vive em viagens sozinha pelo mundo

A cearense Josefa Feitosa, de 59 anos, poderia ter escolhido viver tranquilamente ao lado dos filhos e netos, mas resolveu tomar uma decisão que era sonho há tempos: partir em viagem pelo mundo para conhecer os mais diferentes lugares. Agora em temporada na Malásia, Jô, como é conhecida, se aposentou em 2016 do cargo de assistente social no sistema prisional do Ceará e começou a saga, que atualmente tem como resultado 40 países visitados. 

A história do desejo de embarcar nas mais diversas jornadas veio de cedo, quando ainda era um hábito observar as chegadas e partidas dos mais próximos. "Morava no Juazeiro, numa família muito conservadora, cheia de homens. Tinha três irmãos homens e, assim, meu pai, ainda por cima, tinha umas dificuldades. E eu pensava muito em deixar aquilo tudo e ir embora e viver uma vida com liberdade. E aí sempre achei que o mundo ia me abraçar. Num momento desses, qualquer, eu achava que ia ganhar o mundo mesmo", comenta.

Foi a chegada da aposentadoria o fator responsável por tornar possível essa experiência. Como sempre viajava para outros estados brasileiros, ela conta que resolveu ir para Belém logo após deixar o emprego. "Eu resolvi sair, comprei a passagem só de ida, obviamente, e fui pra Belém de avião e me hospedei. Comprei uma passagem de barco, daqueles barcos que sobem o Rio Amazonas todinho. Aí eu fiquei cinco dias naquele barco, dormindo de rede, e viajando com o pessoal do Norte, ouvindo as pessoas. Foi uma aventura fantástica".

Mochilão
Nada de muito luxo ou muita bagagem para viajar. Segundo Jô, a filosofia é a de viver com o necessário para estar bem. "Agora o que eu abraço é o minimalismo. Não pago excesso de nada, eu também não compro nada, porque eu não tenho mais casa, não tenho mais necessidade de ter tanta roupa. O consumismo pra mim não rola mais".

Essa forma de viver foi levada para ainda mais longe. Logo depois da temporada em Belém, ela seguiu para a Europa, onde palestrou em Portugal e na Espanha sobre o trabalho que realizava, atuou como babá na Irlanda e, além disso, visitou a  Holanda, Escócia, Suíça, Bélgica e a Itália.

Foi então que, em 2018, partiu rumo a uma temporada na África do Sul. Até hoje, passou por países como Quênia, Ruanda, Uganda, Egito, Israel, Índia, Nepal e Laos para finalmente se estabelecer no Vietnã. Os planos são para retornar em abril ao Brasil e renovar o passaporte com o intuito de conhecer novos países.

Família
Nascida em uma casa com oito pessoas, Josefa deixou Juazeiro do Norte para estudar em Fortaleza. Na Capital, casou e teve três filhos, até que viu o relacionamento de oito anos chegar ao fim. "Eu fiquei sozinha com três filhos para criar, e essa criatura sem dar um centavo. Foi muito difícil. Então, comecei a ver outras coisas, fui dar aula e foi bom porque conheci outra profissão", conta. Nada disso foi empecilho para construir uma carreira e ser feliz ao lado dos familiares.

Exatamente por isso, sair sozinha pelo mundo não foi tão fácil como parece. "Uma das coisas que eu mais sofri foi deixar a família, meus filhos, os amigos, e o conforto", diz. No entanto, mesmo distante ela procura manter contado com os que ficaram no Brasil. Questionada sobre as dificuldades, Jô não hesita ao afirmar que se preparar é essencial.

Para a filha, Izabel Accioly, 30, o início foi de preocupação, mas a sensação também é de orgulho. "Há muitos anos ela falava sobre isso e a gente não levava tanto a sério. Só que as coisas começaram a ficar mais claras, por exemplo, quando ela comprou um mapa múndi e colou na parede. Também quando ela começou a viver uma vida muito simples para juntar dinheiro", relata ao também falar de todo o processo de planejamento feito pela mãe durante vários meses.

Para matar a saudade, as redes sociais parecem ser fator fundamental. "Nós nos falamos muito pelo Whatsapp e também acompanhamos os passos dela pela página do Facebook. Esse meio, inclusive, foi a forma que ela encontrou de registrar tudo e mostrar para nós e para os amigos mais próximos", explica Izabel.

Sonhos
O apoio familiar foi importante para que Jô se sentisse confiante. "É a questão mesmo de você largar a família, largar a sua casa. Mas eu acho que, tu sabe que eu nem tive muita dificuldade? Porque, como eu já tava trabalhando desde cedo na minha cabeça, eu comecei cedo a me dar conta de que eu tinha que passar algumas coisas", reitera.

Izabel, que é antropóloga e vive em Fortaleza, acredita na figura inspiradora de uma pessoa tão querida. "Ela ensina para a gente sobre força e coragem".

Por enquanto, os planos seguem no rumo de quem ainda tem centenas de lugares a conhecer, além de uma quantidade infinita de lições a aprender. "Tem que sair pra ler o mundo", finaliza.

E se tem saudades do Brasil? Josefa não esconde o quanto ama os detalhes das terras cearenses. "Sinto falta do cuscuz (risos), das praias. São lindos os nossos lugares, Jericoacoara, Canoa Quebrada…Há alguns lugares que se aproximam daqui, mas é muito diferente. Nossa gente, nossa música, nossa comida, não tem lugar mais lindo que o Brasil, não".

MYLENA GADELHA e DIEGO BARBOSA
REPÓRTERES

Fonte: Diário do Nordeste

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