O que se sabe e o que ainda falta descobrir sobre a hepatite misteriosa

No último dia 23 de abril, a OMS (Organização Mundial da Saúde) emitiu um alerta sobre um novo tipo de hepatite aguda —inflamação do fígado— que está atingindo crianças e adolescentes previamente saudáveis. Até o momento, foram registrados 200 casos em ao menos 14 países, sobretudo no Reino Unido.

De acordo com a OMS, cerca de 10% dessas crianças precisaram de um transplante de fígado e há o registro de pelo menos uma morte. A causa, no entanto, ainda é desconhecida, mas algumas hipóteses têm sido levantadas pelos especialistas. A seguir, veja o que se já se sabe e o que ainda falta esclarecer sobre a doença.

O que é hepatite?
Hepatite é uma inflamação do fígado geralmente causada por uma infecção viral. Mas a doença também pode ser provocada pela exposição a alguns produtos químicos, consumo excessivo de álcool, drogas e certos distúrbios genéticos.

Existem cinco tipos principais de hepatite causados por vírus específicos, conhecidos como A, B, C, D e E, mas nenhum deles foi observado nas crianças até agora. A OMS afirmou que as crianças apresentaram hepatite aguda "com enzimas hepáticas acentuadamente elevadas".

Quais os sintomas desta hepatite misteriosa?
De acordo com a OMS, "muitos casos manifestaram sintomas gastrointestinais, incluindo dor abdominal, diarreia e vômitos antes da apresentação com hepatite aguda grave e aumento dos níveis de enzimas hepáticas —aspartato transaminase (AST) ou alanina aminotransaminase (ALT) acima de 500 UI/L— e icterícia (coloração amarelada da pele/olhos)". A maioria dos casos não apresentou febre.

Onde surgiu esse 'surto' de hepatite?
Inicialmente, no Reino Unido, onde ainda está concentrado o maior número de casos, no mínimo 114. Em seguida, foram notificados 13 casos na Espanha, 12 em Israel, 9 nos EUA, 6 na Dinamarca, pelo menos 5 na Irlanda, 4 na Holanda, 2 na Noruega, 2 na França, 1 na Romênia e 1 na Bélgica.

A ONU (Organização das Nações Unidas) diz que "não se sabe se houve um aumento nos casos de hepatite ou um crescimento da conscientização sobre os casos que ocorrem na taxa esperada, mas não são detectados".

O que pode estar causando o quadro?
Segundo a OMS, as investigações ainda estão em andamento para descobrir o agente causador. Por ora, a entidade classifica a doença como "hepatite aguda de etiologia desconhecida". No entanto, algumas teorias estão sendo levantadas:

1. Adenovírus
O adenovírus foi encontrado até agora em 74 amostras de crianças doentes. Em 20 das amostras, também foi encontrado o Sars-CoV-2, agente causador da Covid-19.

A OMS disse que, embora o adenovírus seja atualmente uma hipótese como causa subjacente, ele não explica totalmente a gravidade do quadro clínico. "A infecção com adenovírus tipo 41 não foi previamente associada a tal apresentação clínica", diz um trecho da nota.

"Esse vírus é adquirido por alimentação ou contato de uma criança com a outra, por isso a OMS está preocupadíssima. Começamos a perceber esses casos, e em duas, três semanas eles já se espalharam. É muito preocupante e temos de aguardar mais estudos", afirma Marcelo Simão, professor da UFU (Universidade Federal de Uberlândia) e ex-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) entre 2010 e 2014.

2. Covid-19
Em Israel, o chefe da unidade pediátrica Shaare Zedek Medical Center disse que a maioria das crianças com casos da hepatite havia sido infectada com o novo coronavírus em algum momento do passado. E testes não apontaram infecção pelo adenovírus, disse o médico ao site da revista norte-americana Wired.

Vera Magalhães, doutora e professora de doenças tropicais da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), afirma que existia uma dúvida se o agente causador seria um infeccioso desconhecido ou químico.

"Acredita-se que seja um agente infeccioso porque ela está ocorrendo em pessoas que têm contato com outras, e essas crianças não viajaram. As crianças doentes também não tinham história de ingestão de medicamentos", explica.

Para a especialista, ainda é cedo para descartar a Covid-19 como uma das responsáveis. "A variante ômicron em sua linhagem BA.2 foi identificada nas amostras; não se sabe até se o vírus modificou o sistema imunológico dessas crianças a ponto de reagir de forma mais agressiva ao adenovírus e a outras viroses respiratórias —que também foram detectadas em alguns pacientes", avalia.

3. Lockdown por causa da Covid-19
Autoridades de saúde do Reino Unido têm levantado a hipótese de que o lockdown adotado para conter a disseminação do coronavírus em vários momentos enfraqueceu a imunidade dessas crianças, deixando-as mais suscetíveis ao vírus.

Também há quem acredite que o lockdown as impediu de serem expostas a infecções comuns. Outra ideia é a de que o patógeno agressor pode ter sofrido alguma mutação.

Até agora, porém, tudo isso não passa de possíveis causas, no máximo, correlações. Autoridades de saúde dos países atingidos seguem debruçados em busca de respostas conclusivas, mas ainda não se sabe quando elas estarão disponíveis.

Casos não têm relação com a vacina da Covid-19
A OMS já destacou que os casos não têm relação com a vacina da Covid-19.

Autoridades do Reino Unido também descartaram a vacina contra a Covid-19 como uma possível causa, porque nenhuma das crianças britânicas doentes foram vacinadas devido a sua pouca idade.

A doença vai chegar ao Brasil? Há com o que se preocupar?
É possível. A notícia acendeu um alerta entre os infectologistas brasileiros, que avaliam como provável o aparecimento da doença no Brasil.

"Isso preocupa muito porque ela está se espalhando rapidamente. Estamos presumindo que [o número de casos] vai aumentar, ainda mais agora com as viagens em alta com a pandemia mais controlada. É grande a possibilidade de chegar no Brasil", afirma Marcelo Simão, professor da UFU (Universidade Federal de Uberlândia) e ex-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) entre 2010 e 2014.

Qual a orientação em caso de suspeita?
Os pais e responsáveis devem estar atentos aos sinais de hepatite e procurar um hospital imediatamente caso estejam em dúvida. As crianças com sintomas de uma infecção gastrointestinal, incluindo vômitos e diarreia, devem ficar em casa e não retornar à escola ou creche até 48 horas após os sintomas terem parado.

Além disso, medidas comuns de higiene, como lavagem completa das mãos ajudam a reduzir a propagação de muitas infecções comuns, incluindo o adenovírus.

Especialistas das mais renomadas instituições mundiais acreditam que os números oficiais podem ser apenas a "ponta do iceberg", porque muitos pais podem ignorar os sinais de alerta. A OMS e os países atingidos seguem monitorando os quadros.

Fonte: VivaBem/UOL

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