Entenda por que Crato, Juazeiro e Barbalha têm situação mais crítica em relação à Covid-19 no Ceará

O Cariri é a única região cearense cujo decreto estadual atualizado no último fim de semana não autorizou as mesmas flexibilizações vigentes no restante do Estado. O governador Camilo Santana (PT) atrelou a decisão aos números epidemiológicos da região, que ainda inspiram alerta. 

Para entender quais ações estão sendo realizadas pelos municípios para reverter este quadro, entrevistamos as secretárias da Saúde das três maiores cidades do Cariri que, juntas, formam o chamado triângulo Crajubar: Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha.

O município de Crato, com pouco mais de 133 mil habitantes, foi o que teve, dentre os três, o menor número de óbitos nos últimos 30 dias (17 de maio a 17 de junho). Segundo o IntegraSUS, plataforma da Secretaria da Saúde (Ses), foram 15 mortes por decorrência do novo coronavírus. No mês anterior, foram 35 vidas perdidas. A queda também foi identificada nos registros de infecções. 

Entre os dias 17 de abril a 17 de maio, foram 1.953 infecções. Nos 30 dias posteriores, 1.442, também conforme o IntegraSUS. A titular da pasta, Marina Feitosa, reconhece a importância da queda de 26% no número de casos, mas ressalta que o momento "ainda é de extrema vigilância". A média de casos confirmados nos últimos 30 dias foi de quase 50 por dia ou dois a cada hora.

"Avaliamos [os números] com uma certa preocupação. Os indicadores ainda se mostram altos, apesar de ter diminuído o agravamento dos pacientes e o número de mortes."
Marina Feitosa, secretária da Saúde do Crato

Mariana avalia que o principal obstáculo tem sido manter a população coesa no cumprimento dos protocolos de saúde. Após mais de um ano e meio  desde o início da pandemia, ela considera que a "população está cansada" e parte já não respeita os decretos.

Como resposta aos frequentes desrespeitos às medidas sanitárias, a secretária afirmou que o Município tem intensificado as fiscalizações e investido em ações de conscientização. "Nossa vigilância é intensa. Sabendo que parte [da população não demonstra colaboração, estamos mais vigilantes, com fiscaliza mais abrangente", pontuou.

Questionada se decretar lockdown em conjunto com Juazeiro do Norte teira sido uma alternativa viável para reduzir a alta média diária de infecções, Mariana Feitosa afirmou que não. Ela defende que o isolamento social rígido perdeu a efetividade na região.

“A eficácia do isolamento precisa da adesão da população e isso não é visto mais no Cariri. São inúmeros registros de festas clandestinas e aglomerações. Do ponto de vista epidemiológico não tem mais efeito”, disse.

Ela acrescenta ainda que para decretar lockdown, uma gama de fatores deve ser analisado, desde os números epidemiológicos ao quadro socioeconômico.

"Nossos indicadores apontavam para queda, por isso não houve necessidade de implantar [o lockdown]. Além disso, para decretar isolamento rígido é preciso também avaliar a taxa de ocupação e outros fatores, como a vulnerabilidade social. A gente sabe que o isolamento rígido implica diretamente no prioramento desse quadro social", completou.

Demanda por leitos em baixa
A queda no número de infecções teve reflexo imediato na ocupação dos leitos, na cidade do Crato. A taxa de UTI é atualmente de 95%. "Temos que analisar a regulação dos leitos, por isso a ocupação destes que são geridos pelo Estado sempre será maior", explica Marina. O Município conta com 20 leitos de UTI.

A taxa de ocupação dos leitos de enfermaria, ainda segundo a secretária, está oscilando entre 35% a 40%. São 28 leitos. "Tem caído a procura. Sempre que se fortalece a atenção primaria, como fizemos, a gente consegue ver os resultados nos bons indicadores". 

Para manutenção da queda e redução mais aguda na média de infecções, Marina destaca a vacinação como "fator mais eficiente". "Já estamos colhendo os frutos da vacinação. Infecções e mortes em idosos caiu substancialmente. Somente a imunização conseguirá combater a pandemia. Por isso estamos avançando a cada dia nesse processo", disse.

Crato já aplicou mais 50 mil doses - entre primeira e segunda dose - da vacina. Dentre as três maiores do Crajubar, o Município é o que tem maior percentual de pessoas com cadastros confirmados no Saúde Digital, com 51% da população. 

"Facilitamos o cadastro de todos que não têm acesso à internet. O cadastro hoje é feito nas unidades de saúde e nos Cras. É um intenso trabalho intersetorial para cadastrar todos os cratenses que tenham quaisquer dificuldades."
Marina Feitosa, secretária da Saúde do Crato

Juazeiro do Norte
A maior cidade do interior cearense vive cenário mais delicado. Foram 54 mortes nos últimos 30 dias (17 de junho a 17 de maio). Este é o número mais alto em 2021 quando observado o intervalo de 30 dias. Os casos, quando comparado intervalos anteriores, tiveram redução, mas a média diária ainda é alta: 63 confirmações a cada 24 horas.

A secretária da Saúde de Juazeiro do Norte, Francimones Albuquerque, analisa, no entanto, que estes números estão em tendência decrescente. Dos 36 leitos de enfermaria, por exemplo, apenas 12 estão ocupados. A explicação para o ensaio da queda, segundo avalia, deve-se ao lockdown implantado na semana passada. 

"Casos, internações e positividade estão com tendência de queda. Os óbitos apresentam estabilização. Então avaliamos que as últimas medidas surtiram, sim, efeito."
Francimones Albuquerque, secretária da Saúde de Juazeiro do Norte

Assim como Marina Feitosa, a secretária de Juazeiro do Norte também criticou a baixa adesão da população no que se refere aos protocolos sanitários e sugeriu que os números ainda alto sejam reflexos das "inúmeras aglomerações".

"Na primeira semana de lokcdown observamos que a população contribuiu. Mas, na segunda, foi bem difícil para nossa equipe fiscalizar e coibir essas práticas. Foram inúmeras festas clandestinas e aglomerações. O reflexo disso será certamente notado um pouco mais a frente", criticou a titular da pasta. 

Ela também avaliou que o fato da cidade de Crato não ter adotado o isolamento rígido tem implicações na eficácia da medida. "Sem ações unificadas, claro que há um prejuízo. Há uma grade migração para Juazeiro, que é a maior cidade. É difícil conter essa enorme população flutuante", acrescentou.

Baixo índice de cadastros
Para avançar na vacinação, apontado por especialistas como grande trunfo contra à pandemia, é preciso, antes de tudo, que a população se cadastre do Saúde Digital. O processo é requisito obrigatório para o cidadão receber o imunizante e, além disso, é crucial para que o Ministério da Saúde trace metas mais objetivas e possa enviar doses condizentes com a demanda de cada cidade.

Juazeiro, no entanto, é a cidade com menor índice de cadastros confirmados. Segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado, são cerca de 89 mil cadastros validados, o que representa apenas 32,37% da população total.

Francimones reconhece os baixos índices, mas considera que o percentual deve-se ao grande número de habitantes. "Municípios maiores têm maiores dificuldades no cadastramento", pontuou. Juazeiro do Norte tem cerca de 276 mil habitantes. 

A avaliação não se sustenta em números. Fortaleza, com quase três milhões de habitantes, já cadastrou mais de 50% da população. Sobral e Maracanaú, por exemplo, possuem mais de 220 mil habitantes e também estão a frente de Juazeiro do Norte. "Realmente a gente precisa aumentar essa adesão", reconhece.

Para impulsionar esse número, a pasta decentralizou os cadastros. Hoje eles são realizados nas unidades de saúde e nos Cras. Quanto ao processo de vacinação, Francimones considera que "está dentro dos padrões". 

"O grande desafio é dispor do imunizante. Sempre que temos, montamos estratégia para aplicar as doses, inclusive vacinando até 20 horas e aos finais de semana. Mas, só podemos abrir novas agendas, quando dispomos da vacina."
Francimones Albuquerque, secretária da Saúde de Juazeiro do Norte

De acordo com a assessoria de comunicação da Secretaria da Saúde, Juazeiro do Norte já recebeu 72.847 doses (D1) e aplicou 58.135. A diferença de cerca de 14 mil doses ainda a serem aplicadas se "dá pelas doses que estão em execução", isto é, doses com aplicação programada até o fim de semana.

Já em relação a D2, o Município recebeu 34.208 doses e aplicou 31.014. "Aqui a diferença ocorre pois temos que respeitar o intervalo entre um imunizante e outro", completou. 

Barbalha
Das três cidades que formam o triângulo Crajubar, Barbalha é que possui o menor número de habitantes, pouco mais de 62 mil. O Município foi o que apresentou maior queda percentual no número de casos nos últimos 30 dias. Foram 1.646 entre 17 de abril a 17 de maio e 789 nos 30 dias posteriores, uma queda de 52%. Em contrapartida, assim como Juazeiro do Norte, os óbitos tiveram aumento, saindo de 27 para 31 - em igual intervalo. 

A reportagem tentou contato com a secretária da Saúde de Barbalha, Sayonara Moura Cidade, para saber qual avaliação ela tem do atual momento pandêmico no Município e quais estratégias têm sido adotadas para alcançar redução nos indicadores. No entanto, não houve retorno.

Barbalha tem 21.213 pessoas com cadastros confirmados no Saúde Digital, o que represente índice de 34,64% da população. A reportagem perguntou ainda quantas doses tinha sido recebidas e aplicadas. Também não houve resposta até a publicação desta matéria. 

Por André Costa

Fonte: Diário do Nordeste

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