Quando desejar uma boa noite ao público do Jornal Nacional nas próximas semanas, William Bonner já terá o gosto de despedida na boca. O jornalista anunciou que deixará, em novembro, o comando do telejornal de maior audiência do país, após quase três décadas na bancada e cerca de 10 mil edições apresentadas.
Seu lugar será ocupado por César Tralli, que deixa o Jornal Hoje — onde será substituído por Roberto Kovalick — e assume o JN ao lado de Renata Vasconcellos, que permanece no posto. Bonner, por sua vez, passará a apresentar o Globo Repórter às sextas-feiras, ao lado de Sandra Annenberg, a partir de 2026.
🌍 “Movimento tectônico” na TV brasileira
Bonner fez o anúncio nesta segunda-feira (1º), no dia em que o Jornal Nacional completa 56 anos no ar. Em almoço com jornalistas na sede da Globo, no Rio de Janeiro, classificou sua saída como um “movimento tectônico” na história do telejornal.
Segundo ele, a decisão havia sido tomada há cinco anos, em acordo com a emissora, para que houvesse tempo de preparar mudanças nas equipes e sucessores.
“Minha maior preocupação era dar a esse anúncio uma enorme leveza. Não é o maior evento da Terra, não estou saindo da Globo. Venho de anos de uma exaustão muito louca, e um dos maiores motivos é que tenho dois filhos morando e trabalhando fora do Brasil. A saudade é muito dolorosa”, disse.
🎙️ Momentos marcantes da carreira
Aos 61 anos, Bonner é o jornalista que mais tempo ficou à frente do JN desde sua estreia, em 1969. Ao longo de quase três décadas, comandou a cobertura de fatos históricos, como os ataques de 11 de Setembro em Nova York, a morte de colegas como Tim Lopes e Cid Moreira, e a pandemia da Covid-19.
Entre os momentos mais marcantes, o apresentador relembra o dia em que, no auge da crise sanitária, rompeu o protocolo do telejornalismo e fez um discurso emocionado ao apresentar o número de mortes:
“Foi o único momento em que botei para fora um sentimento de indignação, sem combinar com ninguém da empresa, nem comigo mesmo. A gente estava sacrificando as nossas vidas pessoais para fazer o jornal e tinha gente investida de poder lutando contra a informação. Pedi desculpas porque eu perdi o controle. Foi o momento mais dramático da minha carreira.”
Bonner também foi responsável por flexibilizar a rigidez tradicional da bancada. Passou a adotar linguagem mais coloquial, conversas informais com repórteres, planos de câmera mais abertos e uma seleção mais criteriosa do noticiário.
Em coberturas recentes, como as enchentes no Rio Grande do Sul, deixou o estúdio e se aproximou do público, mostrando comoção com as vítimas.
Renata Vasconcellos destacou essa evolução: “A gente está muito perto das pessoas, dentro da casa das pessoas todos os dias, então fomos trazendo esse calor. Somos muito passionais e sensíveis.”
✨ A responsabilidade de César Tralli
Com mais de 20 anos de carreira na Globo, Tralli assume a missão de substituir o colega. O jornalista já foi repórter especial do JN por 15 anos e, mais recentemente, comandou o Jornal Hoje e o Edição das 18h na GloboNews.
“Cada um tem seu estilo. Sou um repórter na apresentação, sei como o jornal funciona e tenho consciência da responsabilidade. Recebo essa missão com muita felicidade, mas também com os pés no chão.”
A mudança foi acompanhada de pesquisas e ajustes internos, segundo o diretor-geral de jornalismo da Globo, Ricardo Villela, que descreve o JN como “o maior telejornal em uma democracia hoje”.
📺 Uma trajetória histórica
Bonner estreou na bancada em 1º de abril de 1996, ao lado de Lillian Witte Fibe, substituindo Cid Moreira e Sérgio Chapelin. Desde então, dividiu a apresentação com Fátima Bernardes (1998–2011), Patrícia Poeta (2011–2014) e, desde 2014, com Renata Vasconcellos.
Além da função de âncora, acumulou o cargo de editor-chefe a partir de 1999, posto que agora será assumido por Cristiana Souza Cruz, que já comandou o escritório da Globo em Nova York e há seis anos era editora-adjunta do JN.
No Globo Repórter, Bonner volta ao papel de repórter e apresentador, sem funções de chefia: “Meu acordo com a emissora foi de que não quero mandar em nada nem em ninguém. É muito desgastante. Só queria parar enquanto ainda tenho saúde para aproveitar.”
Por Nicolas Uchoa
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