Até o dia 10 de dezembro, o Brasil participa da campanha internacional 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, movimento anual que busca ampliar mecanismos de proteção, fortalecer redes de atendimento e garantir que vítimas tenham acesso efetivo a serviços essenciais. A mobilização acontece em um momento de forte comoção nacional, diante de episódios recentes de extrema violência doméstica e feminicídio.
🔴 Casos recentes reacendem o alerta em vários estados
Nos últimos dias, episódios brutais ganharam repercussão e reforçaram a urgência de respostas rápidas e eficientes:
- Recife (PE): uma mulher e seus quatro filhos, de 1 a 7 anos, morreram carbonizados após o companheiro incendiar a casa da família.
- São Paulo (SP): uma jovem de 31 anos foi atropelada e arrastada por cerca de 1 km pelo ex-namorado, resultando na amputação das duas pernas.
- Outra mulher, também na capital paulista, foi surpreendida no trabalho e alvejada cinco vezes pelo ex-parceiro.
- Ceará: uma jovem de 24 anos, que havia relatado em rede social a superação de um relacionamento abusivo, foi assassinada horas depois pelo ex-namorado.
📈 Cresce o número de tentativas e mortes
Dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública apontam que as tentativas de feminicídio aumentaram 26% em 2024.
Entre janeiro e setembro de 2025:
- 2,7 mil mulheres sobreviveram a ataques com intenção de matá-las;
- 1.075 perderam a vida em crimes motivados por gênero.
A Lei Maria da Penha, em vigor há 19 anos, segue como um dos principais marcos legais de combate à violência no Brasil. Ainda assim, especialistas reforçam que legislações, por si só, não bastam — é necessária mudança cultural profunda.
🟣 “Não podemos naturalizar o que destrói vidas”
A defensora pública Jeritza Braga, supervisora do Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher (Nudem), alerta para a necessidade de reflexão coletiva: “A cada semana, novas histórias de violência chocam o país, e não podemos nos acostumar com isso. É urgente transformar a cultura e os comportamentos que ainda toleram, minimizam ou justificam a violência contra a mulher. A redução desses números depende de mudança social profunda, de responsabilização efetiva e de políticas públicas que garantam acolhimento e proteção.”
🏛️ Atuação no Ceará: rede de proteção fortalecida
A Defensoria Pública do Estado do Ceará integra a rede nacional de enfrentamento à violência em várias regiões.
A instituição atua por meio de:
- Casa da Mulher Brasileira (Fortaleza)
- Nudem Cariri (Crato)
- Casa da Mulher Cearense (Juazeiro do Norte, Quixadá e Sobral)
Esses equipamentos oferecem atendimento multidisciplinar, articulação com serviços públicos e ambiente seguro para denúncias, medidas protetivas e orientação jurídica.
📊 De janeiro a outubro de 2025, foram realizados 14.066 atendimentos a mulheres vítimas de violência doméstica.
📊 Somente em outubro, foram 1.678 procedimentos.
🧡 Depois do feminicídio: quem acolhe as famílias?
A Lei do Feminicídio (13.104/2015) qualifica o homicídio motivado por gênero. Mas, após o crime, surge outra pergunta crucial: quem acolhe quem fica?
Muitas vítimas deixam para trás crianças e adolescentes que enfrentam perdas profundas — da mãe, da casa, da estabilidade emocional e social.
A Defensoria Pública oferece suporte por meio da Rede Acolhe, que reúne:
✔️ Encaminhamentos jurídicos
✔️ Atendimento psicossocial
✔️ Apoio social e documental
Na assistência social, o apoio inclui:
- atualização do CadÚnico,
- encaminhamento a programas de transferência de renda,
- solicitação de benefícios eventuais.
Na saúde, o atendimento envolve:
- acompanhamento em Unidades de Atenção Primária,
- apoio psicossocial no CAPS Infantil, considerando o impacto emocional severo sobre crianças.
🗣️ “O feminicídio segue machucando por gerações”
O defensor público Muniz Freire, integrante da Rede Acolhe, destaca a dimensão do trauma: “O feminicídio não termina no momento do crime. Ele deixa um rastro de dor que atravessa gerações. Crianças e familiares precisam reconstruir a vida em meio à ausência da mãe e a mudanças bruscas de rotina. Não é raro que o impacto emocional leve a adoecimentos profundos.”
Ele também critica a lacuna no debate público: “Quando um feminicídio acontece, o foco costuma ser o processo criminal. Mas e depois? Quem acompanha os filhos? Como enfrentar o luto e a ruptura familiar? Esse universo é pouco discutido, e é justamente aí que a Defensoria tem feito a diferença.”
Por Aline Dantas

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