Conjuntivite sempre é contagiosa? Entenda causas, como prevenir e tratar

Você acorda de manhã e mal consegue abrir o olho, de tanta secreção. Aí, ao se olhar no espelho depois de lavar o rosto, vem a surpresa: vermelhidão, inchaço e a certeza de que não dá para ir ao trabalho ou à escola. Não só porque está feio, mas também porque, boa parte das vezes, a conjuntivite é altamente contagiosa. Ou não? 

A verdade é que existem várias causas possíveis por trás da doença, que é a queixa oftalmológica mais comum em serviços de urgência. Alergias e irritações também podem provocar o quadro, e nesse caso não há risco de transmissão. Mas só o médico, de preferência o oftalmologista, pode fazer o diagnóstico correto. 

Onde começa o problema?
A conjuntiva é um tecido que reveste o globo ocular e a parte interna das pálpebras superior e inferior. Ela existe para proteger e lubrificar os olhos. Em geral, não notamos sua existência porque é transparente. Mas quando a membrana fica inflamada por alguma razão, o branco dos olhos (esclera) abaixo dela fica avermelhado. Também é comum que as pálpebras sejam afetadas e apresentem inchaço. Quando a córnea é acometida, o quadro é chamado de ceratoconjuntivite.

Tipos e causas mais comuns
De modo geral, a conjuntivite pode ser infecciosa (causada por micro-organismos) ou não infecciosa (uma reação a determinadas substâncias). Veja, abaixo, alguns nomes comuns para classificar as conjuntivites e os principais vilões por trás de cada um deles.

Origem infecciosa:

Conjuntivite neonatal Aparece nas primeiras semanas de vida e pode ter relação com doenças sexualmente transmitidas que passam da mãe para o bebê durante o parto vaginal, como gonorreia, clamídia ou herpes.

Conjuntivite bacteriana Staphylococcus aureus, Streptococcus pneumoniae e Haemophilus sp são os agentes infecciosos mais frequentes. Mas o causador da gonorreia (Neisseria gonorrhoeae) e da clamídia (Clamydia trachomatis) podem afetar os olhos.

Conjuntivite viral Tipo mais comum e altamente contagioso, na maioria das vezes é provocada por adenovírus, o agente envolvido em muitos resfriados. Outros quadros virais também podem provocar a manifestação, como sarampo, catapora e o próprio resfriado comum. Em casos mais raros, pode ser causada por enterovírus ou pelo causador do herpes.

Conjuntivite por fungos ou parasitas Vermes, larvas, amebas e a Candida, entre outros fungos também podem causar conjuntivite, em menor escala.

Formas de transmissão
  • Contato com superfícies ou objetos contaminados, como corrimões, maçanetas etc. (os micro-organismos causadores podem sobreviver por algumas horas nesses locais, e as pessoas levam a mão ao olho depois de se contaminar); 
  • Compartilhamento de toalhas, travesseiros, óculos, maquiagem ou lentes de contato contaminados;
  • Tosse, espirro, abraços, beijos ou apertos de mão (principalmente as conjuntivites virais são transmitidas dessa forma).
Origem não infecciosa: 

Conjuntivite alérgica Ocorre por uma hipersensibilidade da pessoa a determinadas substâncias, como mofo, pólen, gramíneas, poeira, ácaros ou pelos de animais ou baratas. O quadro pode ser intermitente, ou seja, desaparece rápido; sazonal (surge mais em certas estações, como primavera ou outono); ou perene (pode aparecer em qualquer época). Também pode ter relação com doenças atópicas (dermatite, asma ou rinite). Esses casos não são contagiosos, mas podem aumentar a predisposição a infecções. 

Conjuntivite irritativa ou tóxica Substâncias químicas, toxinas, produtos de limpeza, poluição, fumaça, lentes de contato, cosméticos, tinta para cabelo, medicamentos, cloro, raios ultravioleta e corpos estranhos também podem deixar a conjuntiva inflamada, sem risco de transmissão. 

Ceratoconjuntivite seca Também chamada de "síndrome do olho seco", a doença é causada por uma alteração na produção de lágrima que pode ser causada por certas doenças autoimunes, pelo envelhecimento ou por fatores ambientais.

Épocas mais comuns
A conjuntivite viral e bacteriana pode acontecer em qualquer época do ano, mas é comum a ocorrência de surtos no verão. Aglomerações em praias e piscinas facilitam a transmissão dos micro-organismos, ao mesmo tempo em que os olhos ficam mais predispostos a infecções pela irritação causada por sol, água do mar, cloro, ou, ainda, pelo ressecamento provocado pelo ar-condicionado. 

Sintomas
  • Olhos vermelhos
  • Inchaço nas pálpebras
  • Lacrimejamento
  • Secreção
  • Dor ou ardência 
  • Coceira
  • Sensação de areia ou cisco nos olhos
  • Sensibilidade à luz (fotofobia)
  • Visão embaçada
  • Sangramento
Diagnóstico
Alguns tipos de conjuntivite podem ter sintomas muito parecidos, por isso não dá para saber se a doença é infecciosa ou não sem consultar o médico. Além disso, olhos vermelhos podem ser uma manifestação de outras doenças. A partir do relato do paciente e análise dos sintomas é possível ter uma ideia da causa, mas a confirmação é feita com a biomicroscopia, equipamento que permite o estudo microscópico do olho. Em alguns casos, pode ser coletada uma amostra da secreção para exame, a fim de identificar o micro-organismo envolvido.

Tratamento
O tratamento da conjuntivite depende da causa, por isso o diagnóstico é fundamental. Um colírio errado pode agravar o quadro, por isso evite a automedicação. Na maioria das vezes são receitados colírios lubrificantes e limpeza frequente das secreções com algodão embebido em água filtrada ou soro fisiológico, de preferência bem frios para diminuir a inflamação e a dor. 

Nos quadros virais, que se resolvem sozinhos em uma ou duas semanas, só o tratamento sintomático é suficiente, exceto no caso dos quadros provocados por herpes vírus, que demandam uso de antiviral. Se a conjuntivite for bacteriana, é necessário uso de antibiótico. Se for causada por fungo, antifúngico, e assim por diante. Quando a causa é alérgica, é preciso evitar contato com o alérgeno, e anti-histamínicos ou corticoides tópicos podem ser prescritos. 

Cuidados para evitar a transmissão
  • Fique em casa pelo tempo determinado pelo médico
  • Evite levar as mãos aos olhos
  • Não compartilhe toalhas, fronhas, maquiagem etc.
  • Lave as mãos e o rosto com frequência 
  • Limpe as secreções com algodão embebido 
  • Limpe objetos de uso compartilhado, como controle remoto e telefone, com álcool gel depois de usar
  • Se as lentes de contato causarem irritação, fique uns dias sem usar
  • Troque as lentes de contato depois que melhorar para evitar uma reinfecção
  • Limpe os óculos que usou enquanto estava com conjuntivite
Uma conjuntivite não tratada adequadamente pode se prolongar por semanas ou até meses e até comprometer a visão.

Soluções caseiras ajudam?
Compressas frias com água filtrada, fervida ou soro fisiológico podem trazer alívio, mas não acredite em simpatias como passar aliança ou moeda sobre a pálpebra. Esses objetos podem até piorar o quadro, por levarem micro-organismos à região doente. Óculos escuros ajudam a dar conforto em ambientes luminosos. 

Prevenção
  • Lave as mãos com frequência 
  • Evite, sempre que possível, coçar os olhos com as mãos sujas
  • Se convive com alguém que está com conjuntivite, evite abraços, apertos de mão e beijos; limpe eventuais objetos de uso compartilhado com álcool gel; não use a mesma fronha e toalha que a pessoa usou
  • Não compartilhe maquiagem para olhos, e preste atenção nos prazos de validade
  • Evite tocar os olhos ao usar produtos químicos ou de limpeza; utilize proteção quando indicado
  • Evite exposição a agentes irritantes, como fumaça de cigarro, e proteja-se do sol com chapéu e óculos escuros
  • Troque roupas de cama e toalhas semanalmente
  • Evite nadar em praias impróprias ou piscinas sem tratamento adequado
  • Se você é alérgico, evite exposição às substâncias que causam reação
  • Só utilize colírios com indicação médica
  • Tenha uma vida saudável, com dieta equilibrada e atividade física regular

Fontes consultadas: Fabio Adams, oftalmologista do Hospital Infantil Sabará; Miguel Padilha, oftalmologista e ex-presidente da SBO (Sociedade Brasileira de Oftalmologia); CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças, nos EUA); Sociedade Brasileira de Pediatria. 

Fonte: Viva Bem/UOL

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