Se você defende a ditadura, você oficialmente defende um governo de assassinos

“É o documento secreto mais perturbador que já li em 20 anos de pesquisa”, disse o professor de Relações Internacionais Matias Spektor, colunista da Folha de S.Paulo, em sua página no Facebook.

Ele acabava de divulgar um documento secreto de 1974, liberado pelo Departamento de Estado dos EUA, em que o chefe da CIA, a agência de inteligência americana, relatava que o ditador brasileiro Ernesto Geisel (chamado por alguns de “presidente”) aprovara, em reunião com a cúpula do regime, a continuidade da política de “execuções sumárias” de adversários.

Da reunião participava, entre outros, o chefe do Serviço Nacional de Informação e futuro ditador João Baptista Figueiredo.

Àquela altura o saldo de assassinatos promovido pelo Centro de Informações do Exército era de 104 pessoas.

“Pessoas, não, subversivos perigosos” dirão os viúvos do regime, muitos deles nascidos após a reabertura democrática, posicionados como pelegos  sobre o mantra de que a violência era o recuso recomendável para garantir a “ordem”.

Voltemos alguns passos na História (e na lógica).

Quando você aceita que um chefe de governo tem a prerrogativa de decidir sobre a vida e a morte de seus cidadãos, você dá a ele a prerrogativa de decidir quem é ou não subversivo.

Pode ser alguém distante de você – e se seu senso de justiçamento não alcança a dimensão da vida humana, que pode e deve ser julgada com amplo direito à defesa, talvez você mude de ideia quando o inimigo passa a ser você.

“Basta não fazer bobagem e entrar na linha”, dirá o leitor raptado de bate-pronto.

Ganha uma visita ao Doi-Codi o leitor que souber responder que tipo de perigo representavam pessoas como o jornalista Vladimir Herzog, “suicidado” sob custódia do regime, já no governo Geisel, ou as potenciais vítimas do ataque a bombas planejado por militares ao Centro de Convenções do Riocentro, em 1981, sob o governo Figueiredo.

Na reunião relevada pela CIA, o comando da ditadura concordava que era preciso empregar métodos extralegais (leia-se criminosos) para combater a “ameaça terrorista e subversiva”. Repare que, na narrativa da “ordem versos terroristas”, são os supostos comandantes da ordem que defendem os métodos extralegais.

Dias depois, ficou decidido que a execução deveria ser aprovada previamente pelo ditador. O que nos leva a concluir que o afastamento dos responsáveis pelos assassinatos ocorridos desde então foram antes motivados pelo desafio ao comando do que pelo crime em si.

No país onde até o lema da bandeira está a serviço da “ordem e do progresso”, chega a ser custoso ponderar, repetidamente, a diferença entre proteger os cidadãos (chamados assim até segunda ordem) e combater a desordem.

Por aqui, entre soluços autoritários e democracias de baixa intensidade, essa “desordem” é debelada toda vez que alguém ousa desafiar o comando responsável por vigiar as estruturas do nosso fosso de desigualdades, violências e oligarquias cristalizadas.

O “direito” de cometer execuções em nome da “ordem” é o direito de definir o que é a ordem. Essa ordem, por aqui, é e sempre foi a garantia de que tudo deve permanecer como está e como sempre foi: manda quem pode, obedece quem tem juízo. E quem manda são sempre os mesmos; os demais que tenham juízo.

Entre as duas pontas estão as marcas de bala, pobreza e sangue de uma tragédia histórica chamada Brasil.

Por: Matheus Pichonelli

Fonte: Yahoo!

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