Atoleiros, valas e riachos desafiam quem trafega pela vias rurais do Ceará

As chuvas deste 2018 têm aliviado o sofrimento de milhares de sertanejos. Encheu barreiros, trouxe fartura para as lavouras, mas também um grande desafio: o escoamento das produções agrícolas, principalmente de milho, de feijão e de legumes. A colheita foi iniciada e com ela veio a preocupação de como chegará às feiras livres e mercados. As águas dos rios estão baixando, mas o lamaçal, atoleiros e enormes valas estão dificultando o tráfego dos veículos, inclusive de grande porte, nas artérias vicinais do Ceará.

Quixadá, no Sertão Central, é um exemplo. Historicamente, é onde chove menos na região durante a Quadra Chuvosa, mesmo assim, o volume do mês passado foi o suficiente para impossibilitar o tráfego em diversas estradas. As máquinas tinham nivelado a maioria delas durante o ano passado.

"O serviço está sendo feito novamente", explicou o secretário de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar, Kleber Júnior. "Onde havia atoleiros utilizamos areia dos rios e cascalho. O nosso tráfego rural está voltando ao normal", completou.

Na região Norte do Estado, Granja registrou as maiores chuvas de abril. Foram 648mm, 159.6% acima da média do mês, o que agravou a situação das estradas que interligam a zona rural, prejudicando o deslocamento de muitos moradores.

A cerca de 30Km da sede, num trecho da comunidade de Paula Pessoa, a força das águas do Rio Itacolomy arrastou parte da estrada, formando um profundo buraco, próximo da cabeceira da única ponte de acesso a várias localidades.

Segundo Raimundo Braz, subsecretário de Infraestrutura do Município, com a redução das chuvas, trabalhos de manutenção têm sido realizados. "À medida em que a chuva cessa, obras de terraplanagem e compactação vão minimizando os danos. É grande a extensão de estradas não asfaltadas que interligam as muitas comunidades. Com a redução no fluxo das águas, aos poucos, as demandas vão sendo atendidas, num trabalho constante de reparos", afirma.

Em Crato, a melhoria das estradas que ligam à zona rural é reivindicação antiga da população. Nas vias que dão acesso à sede do distrito de Baixio das Palmeiras, as chuvas criaram buracos e a vegetação toma conta. A pavimentação solta e a lama impedem que alguns veículos transitem por lá. No Sítio Chico Gomes, o médico que atende a comunidade quinzenalmente não pôde ir porque o caminho estava intransitável.

Na Vila Padre Cícero, entre Crato e Juazeiro, uma cratera se formou e os moradores temem ficarem ilhados. Segundo eles, a Prefeitura já fez reparo duas vezes no mesmo local, mas a força da água danificou a estrada novamente. Já no acesso ao distrito Campo Alegre, os moradores aguardam há 16 anos. Os buracos, que tomam toda pavimentação, impedem a subida e descida de veículos de maior porte. Lá também é trajeto para a rodovia que liga o Município a Nova Olinda e a Exu (PE).

A Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra) informou, em nota, que já tem um projeto para as estradas no distrito de Baixio das Palmeiras, onde será realizado o serviço de pavimentação em pedra tosca e a construção de uma passagem molhada. Em relação às estradas vicinais, ainda na primeira quinzena de maio, chegará mais um equipamento para realizar o serviço de manutenção dessas estradas.

Ponta a ponta
As chuvas de abril foram suficientes para avariar boa parte das rodovias federais, estaduais e estradas municipais no Interior do Ceará. De um extremo ao outro do Estado, há reclamação dos condutores de veículos motorizados. Muitos trechos das BRs e CEs apresentam péssimo estado de conservação. A situação piora nas vias de acesso às comunidades rurais, carroçáveis, cortadas por rios e riachos. Muitas estão intransitáveis.

Os governos federal, estadual e dos municípios até se empenham para recuperar os trechos danificados, mas a água tem agido com mais rapidez. Enquanto se tapa um bueiro, outros se multiplicam, essa é a sensação de quem cruza as rodovias oficiais cearenses e também por moradores de localidades distantes dos centros urbanos, em todas as regiões do Estado.

Quanto às BRs, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) não atualiza o mapa das condições das rodovias desde setembro do ano passado. Até antes do período chuvoso, 56% delas apresentavam boa conservação para o tráfego regular. Eram 1.974 Km de rodovias. Outros 705Km (20%) apresentavam situação regular e 846Km, o equivalente a 24% do total, se encontravam em situação ruim ou péssima.

De lá para cá o fluxo piorou, como na BR-122, entre Quixadá e Banabuiú. A buraqueira aumentou no trecho de 40Km entre as duas cidades. Em alguns quilômetros, os motoristas começaram a abrir passagens nos acostamentos para evitarem danos aos veículos e o risco de serem assaltados. "O mato cresceu na margem da BR. É ideal para os assaltantes se esconderem e surpreenderem a gente", comentou o autônomo Almir Ferreira. Ele viaja duas vezes por semana de Fortaleza a Banabuiú.

Uma das mais movimentadas e importantes, a BR-116, está esburacada no trecho entre as cidades de Jaguaribe e Icó - entre os quilômetros 300 e 375. Os motoristas reclamam do risco de acidentes porque os veículos fazem desvios em ziguezague, e de corte de pneus. Em um dos pontos há uma verdadeira cratera, sinalizada de forma improvisada com galhos de árvores.

O segmento mais crítico fica entre os quilômetros 350 e 375, no sentido Jaguaribe - Icó. "Isso é um absurdo, um desrespeito", reclamou o caminhoneiro Geraldo Marques. "Para onde está indo o dinheiro dos nossos impostos?", questionou. Segundo o agricultor Francisco Nunes, quase que diariamente ocorrem acidentes no trecho. "Uma carreta não tombou por pouco, ficou atravessada, quase caindo fora da pista", testemunhou.

Quem percorre a via esburacada percebe carros com pneus estourados nas margens. "A gente tem de andar com atenção, porque os buracos estão intercalados com trecho bom", frisou o representante comercial Luís Carlos Melo. "Lá para o lado de Ipaumirim também há buracos que trazem surpresa desagradável para os condutores".

O segmento da BR-230, entre as cidades de Várzea Alegre e Farias Brito, no Sul do Ceará, já está novamente esburacado, para impaciência dos motoristas e risco de acidentes.

ALEX PIMENTEL
COLABORADOR/SUCURSAIS

Fonte: Diário do Nordeste

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