Nova Olinda (CE): Mercado da pedra cariri teve queda de cerca de 30%

Diante da crise financeira que se agravou no País, em meados do segundo semestre do ano passado, a extração e, consequentemente, a comercialização da pedra cariri caiu cerca de 30% no primeiro trimestre de 2017.

Segundo Eluzio Neto Sampaio Moreira, presidente da Cooperativa de Mineração dos Produtores de Pedra Cariri (Coopedras), a retração econômica impactou diretamente na retirada do calcário laminado, que se constitui, ao lado da agricultura, na principal atividade econômica deste município, na região do Cariri cearense.

"Se não há demanda, não podemos produzir, pois os custos da extração são elevadíssimos. E se não há a comercialização, os donos das minas de pedra se veem obrigados a diminuir o quadro de funcionários. É uma cadeia que afeta não só Nova Olinda, mas várias cidades da região que dependem dessa atividade", explica Eluzio.

Conforme ele, quase 400 pessoas trabalham diretamente nas 21 minas que atuam dentro da legalidade na cidade: "São empregos diretos. Se formos falar nos indiretos, esse número cresce e muito. Podemos falar em três mil pessoas".

Agravante
O quadro de queda na extração da pedra se acentuou no início de fevereiro, quando a Enel Distribuição exigiu que cada mina tivesse sua própria subestação de energia, para transmissão e distribuição de energia, além de equipamentos de proteção e controle. "Quando era a Coelce, havia apenas uma subestação que gerava energia para todas as minas. Mas, depois que veio a Enel, exigiu mudança e, até que todos se adequassem, cortou a energia após transcorrido o prazo de três dias, um tempo impossível para que os donos elaborassem um projeto e o implantasse", criticou o presidente da Coopedras.

Com a nova exigência, 19 das 21 minas pararam de funcionar. "O prejuízo, somando todas que estão paradas, é de R$ 15 mil por dia", detalha Eluzio. "A gente dispensa os operários, mas continuamos a pagar o INSS, FGTS, o salário de alguns funcionários que não podem ser desligados e tem também o prejuízo com o que deixa de ser vendido por dia", acrescenta.

Segundo a Cooperativa, apesar de algumas minas já terem atendidas as exigências da Enel, a energia ainda não foi religada. "Acionamos a Justiça para tentar agilizar o processo. São muitas pessoas afetadas e, a cada dia sem funcionamento, o prejuízo só aumenta", conta Moreira.

Desta forma, o impacto na cidade é inevitável. Para o comerciante Francisco Alves Mendes, a crise em Nova Olinda está mais acentuada se comparada a outras cidades. "O dinheiro que os operários das minas gastam no comércio está reduzido. O caminhoneiro que vinha até a cidade pegar a pedra e tinha que se alimentar e dormir, já não vem mais ou vem em menor quantidade. Então, o prejuízo atinge todos os setores", diz.

Comercialização
Nas últimas décadas, o material passou a ser bastante utilizado, sobretudo na construção civil. O mercado abrange todas as regiões do Brasil, com destaque para os Estados do Nordeste, os quais possuem clima mais quente. "Por ser fria, a pedra ainda não é bem recebida nas regiões com temperaturas mais amenas", observa Eluzio Neto.

Cada máquina tem capacidade para produzir até 200 metros de pedra por dia, o que rende ao dono da mina lucro bruto de R$ 2.400. "A quantidade de extração e produção, por mina, depende de quantas máquinas trabalham em cada uma delas. Algumas minas, por exemplo, que operam com até seis máquinas por dia", explica Eluzio.

Com tanta pedra sendo extraída todos os dias, engana-se quem acredita que a produção esteja com os dias contados. Segundo o presidente da Cooperativa, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com a Universidade Regional do Cariri (Urca), estimaram que a extração, seguindo o atual ritmo, dura, em média, 500 anos.

Fósseis
Os operários encontram fósseis entre uma pancada e outra do martelo que separa os blocos de pedra. Apesar de não existir fiscalização periódica, Eluzio Neto afirma que todo fóssil encontrado é encaminhado ao escritório regional do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), em Crato. "Temos uma sala destinada para guardar essas pedras e depois encaminhá-las ao DNPM", garante. Segundo o Decreto Lei N° 4.146/1942, os fósseis são de propriedade da União.

ANDRÉ COSTA
COLABORADOR

Fonte: Diário do Nordeste

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