Soldadinho do Araripe pode ser extinto em 15 anos

"Se nenhuma intervenção urgente for feita, o Soldadinho-do-Araripe (Antilophia bokermanni) desaparece em 15 anos". A forte afirmação é do vice-presidente do Instituto Cultural do Cariri (ICC), Weber Girão, um dos responsáveis pela descoberta da ave, há 20 anos. O programa Soldadinho-do-Araripe, coordenado por ele, constatou, no último censo bienal (2015/2016), redução de 12,3% no número da espécie que é símbolo da região do Cariri cearense. Entre 2013/2014, foram contabilizadas 610 aves adultas, já no último censo o número caiu para 534. "Se essa taxa de redução se mantiver, o pássaro entra em extinção até 2022, ou seja, apenas 35 anos após sua descoberta", pontua.

O ornitólogo destaca o alto número de queimadas como o principal responsável pela redução da espécie e ressalta que, para evitar o desaparecimento do pássaro, ações coletivas devem ser adotadas de forma emergencial. Somente ano passado, foram 2.048 focos de calor detectados por satélites na Área de Proteção Ambiental (APA) da Chapada do Araripe. "Nos últimos dez anos, 2016 foi o que apresentou o maior número de queimadas na Chapada. Foi mais que o dobro da média registrada", disse.

Conforme explica, dois fatores ameaçam a espécie. "Os incêndios ocorrem no período de reprodução da ave. Ou seja, o pássaro adulto até consegue voar e fugir, mas o ninho fica lá e ocorre a dizimação da espécie. O segundo fator agravante é que em Crato, uma das três cidades onde vive o Soldadinho, o número de focos de incêndio foi ainda maior, cerca de três vezes acima da média", acrescenta Weber.

Além disso, o fogo também destrói a mata, causando diminuição do habitat natural do pássaro, restrito a apenas 28 quilômetros quadrados, numa área na encosta da Chapada do Araripe, que abrange as cidades de Crato, Missão Velha e Barbalha.

"Estamos no começo do ano. Até os meses de outubro e novembro, período que se intensificam as queimadas, há tempo suficiente para nos prepararmos. Também estamos articulando a criação de uma brigada municipal de combate a incêndio, em Crato. É necessário uma base em cada uma desses três municípios", ponderou Girão.

Segundo Fabiano de Cristo, coordenador de Educação Ambiental da Organização Não Governamental (ONG) Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), a elevação dos focos está diretamente ligada às condições climáticas, falta de consciência da população e, sobretudo, "à redução no contingente de brigadistas". Conforme avalia, a instalação de uma brigada nos locais onde habita o Soldadinho serviria para além da preservação da ave. "Iria garantir a biodiversidade", pontua.

Outro fator relacionado pelos estudiosos é o "manejo da água feito de forma incorreta". Segundo Weber, a principal característica da ave é sua dependência de floresta tropical com córregos para sobreviver. "Muitas nascentes e fontes da Chapada estão sendo encanadas já no pé da serra, o que acaba deixando o pássaro com poucas alternativas para beber água. Isto ocorre também devido ao avanço imobiliário", diz. O ornitólogo explica que, se lograrem êxito em ordenar o uso da água de modo a levar em consideração as necessidades do Soldadinho, também estará assegurado o uso para todos aqueles que precisam da nascente. "Preservar a espécie afeta positiva e diretamente a sociedade", enfatiza. Ao todo, Weber e sua equipe atuam em cinco grandes eixos: restauração da mata, educação ambiental, pesquisa, monitoria e políticas públicas.

ANDRÉ COSTA
COLABORADOR

Fonte: Diário do Nordeste

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