Chapada do Araripe se mantém verde, mesmo com cinco anos de seca

Na baixa estação, o Caldas recebe cerca de oito mil
pessoas por mês. Entre os meses de junho a outubro,
este número salta para 20 mil (Foto: André Costa)
Quando se fala em "Oásis do Sertão", é fácil pensar na região do Cariri cearense. A lembrança quase instantânea tem uma razão. Mesmo diante dos cinco anos consecutivos de estiagem, que constitui a maior seca das últimas décadas no Estado, o Cariri não perdeu seu verde marcante. Nem mesmo suas centenas de fontes naturais, algumas delas termais, secaram.

A explicação, segundo análise da doutora em Recursos Hídricos e professora da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Celme Torres, está na formação geológica da Chapada do Araripe. A região é beneficiada pela maior reserva de água subterrânea do Ceará, a Bacia Sedimentar do Araripe, cuja área total é de 11 mil quilômetros quadrados. "Nessa região, o relevo é constituído por dois domínios principais, planalto e depressão, conhecidos como Chapada do Araripe e Vale do Cariri, respectivamente", informa a professora.

"Toda essa potencialidade de água é devido à presença da Chapada do Araripe, que, pela sua formação sedimentar, transmite e armazena água com facilidade. Temos, na região, poços profundos, com vazões que variam de 5 a 150 metros cúbicos por hora, com profundidades que vão de 50 a 300 metros", acrescenta a engenheira civil, explicando que os recursos hídricos dependem das influências morfoestruturais e climáticas da região em que se localizam.

Acúmulo de água
Ainda segundo Celme, na região da Chapada do Araripe, onde está localizado o Cariri, a alta permeabilidade das rochas sedimentares limita o escoamento superficial e favorece a alimentação dos aquíferos, compensando a escassez ou ausência de rios pelo maior potencial de águas subterrâneas.

"A região se apresenta com baixa capacidade de acumulação de águas superficiais, mas, por outro lado, possui uma potencialidade enorme de águas subterrâneas, fato comprovado pela quantidade de fontes existentes na região. São 252 fontes naturais ao longo de toda extensão da chapada do Araripe", observa a professora.

O chefe da APA Chapada do Araripe e analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Paulo Fernando Maier Souza, reforça explicando que a bacia é diferente da predominante no Nordeste. Conforme detalha, a bacia sedimentar confere à região uma característica peculiar destes ambientes, que é a permeabilidade do material, permitindo a infiltração da água e formação de três aquíferos com interligação entre eles, os quais atuam como bolsões de água subterrânea.

"Esta água que infiltra, escorre de forma subterrânea e ao encontrar pontos de contato com o exterior extravasa formando as conhecidas surgências, fontes ou nascentes que formam cursos d'água que foram modificados ao longo do tempo criando as levadas, ou seja, pequenos canais que conduzem a água para abastecimento humano, agricultura, dessedentação animal e outros", diz. Maier explica, ainda, que onde existe o embasamento cristalino há predominância de estoque de água acessado por poços ou barramento da água subterrânea.

Turismo
Essa privilegiada formação geológica gera uma beleza natural singular, que atrai milhares de turistas anualmente. Em Barbalha, na Região Metropolitana do Cariri (RMC), estão dois dos principais clubes. Cravado no meio da Chapada do Araripe, o Balneário do Caldas oferta aos visitantes bicas, piscinas e cinco fontes naturais de águas termais à temperatura de 26º C, além de quadras poliesportivas, restaurantes e hotéis.

Na baixa estação, o parque recebe cerca de oito mil pessoas por mês. Entre os meses de junho a outubro, este número salta para 20 mil. "Em novembro, recebemos o maior público, com cerca de 40 mil pessoas ao longo do mês", pontua João Bosco Sá, diretor do Caldas.

O complexo turístico Arajara Park, um parque aquático ecológico, localizado no distrito de Arajara, a 920 metros de altitude, é outro que impressiona devido à quantidade de área verde e fontes naturais.

Uma das principais está na Caverna do Farias, uma gruta com cerca de 100 milhões de anos, onde existem registros de vida pré-histórica e de onde jorram cerca de 200 mil litros de água por hora, uma das principais fontes de água mineral da Chapada.

ANDRÉ COSTA
COLABORADOR

Fonte: Diário do Nordeste

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