O avanço do zika via 'Aedes'; veja o que se sabe até o momento

Nas últimas semanas, várias descobertas científicas trouxeram novas pistas sobre como o vírus zika se comporta. Mas ao mesmo tempo que trazem avanços, também desencadeiam novas dúvidas. Veja o que se sabe até o momento e o que ainda falta ser respondido.

1.Está confirmada a relação entre zika e microcefalia?
Estudos publicados nos últimos dias identificaram a presença do vírus no cérebro de bebês com microcefalia que morreram após nascer e em fetos abortados. Também foi localizado o vírus no líquido amniótico de gestantes e num grupo de 12 bebês com microcefalia foi detectada a presença de anticorpos para o zika no líquido cefalorraquiano, encontrado no crânio e na medula espinhal. Estudos constataram ainda que o vírus é capaz de atravessar a placenta. Todos esses indicadores apontam correlação entre o vírus e o problema e, para alguns pesquisadores, não existe mais dúvida de que o zika está causando isso. Mas outros cientistas pedem cautela e mais estudos que mostrem exatamente como seria a ação do zika no desenvolvimento do cérebro.

2.Que tipo de estudo é preciso fazer para ter certeza?
É preciso confirmar como e por que o vírus age do jeito que se imagina que ele age. A única forma cientificamente válida de testar essa relação é reproduzindo a situação em laboratório, com a inoculação do vírus zika no cérebro de animais e em culturas de células neuronais humanas para ver se ele de fato interfere no seu desenvolvimento. Equipes do Rio e de São Paulo estão fazendo esses estudos. Outras pesquisas vão acompanhar grávidas. Uma delas, da USP de Ribeirão Preto, vai monitorar 3.000 mulheres. Elas serão submetidas, mensalmente – até o parto – a um exame de sangue que detecta anticorpos do vírus tanto na mãe quanto no bebê, para mostrar se e quando o feto é infectado durante a gestação.

3.Pode estar ocorrendo uma supernotificação de casos?
Antes de os primeiros casos em Pernambuco começaram a aparecer no final de agosto do ano passado, levantando a suspeita entre zika e microcefalia, não havia notificação compulsória no Brasil da má-formação cerebral. Em 2014, por exemplo, foram registrados somente 147 casos. Diante do novo risco, todo bebê nascido com perímetro cefálico menor ou igual a 32 centímetros começou a ser notificado. Em poucos meses, por causa disso, o número saltou para a casa dos milhares. O Ministério da Saúde informou que até a última sexta-feira houve 4.783 notificações. Muitos desses bebês, porém, podem ser saudáveis (sem ter lesões ou calcificações no cérebro). Tanto que 765 casos foram descartados como não sendo microcefalia. 3.852 casos estão sob investigação e 462 foram confirmados. Entre estes casos, em 41 houve relação com zika. Ou seja, nesses bebês foi detectado o vírus, mas não foram descartadas outras possíveis causas. Essas crianças não foram testadas, por exemplo, para outros vírus relacionados a microcefalia, como rubéola. Os outros 421 ainda estão sendo testados para o vírus.

4.Mesmo se essa relação for confirmada, o que mais é preciso saber sobre o risco aos bebês?
Ainda não se sabe em qual momento da gravidez existe mais perigo. Suspeita-se que seja no primeiro trimestre. Tampouco se sabe por quanto tempo depois que uma mulher foi contaminada ela ainda pode passar o vírus para feto. Especialistas afirmam, porém, que as chances são pequenas, já que o feto só poderia ser infectado durante a fase ativa da doença. Outra dúvida é se uma pessoa contaminada uma vez pode se contaminar de novo. Por enquanto acredita-se que não, que a pessoa uma vez contaminada fica imune. Mas como a circulação do vírus é nova, não há certeza.

5.Além da transmissão pelo mosquito Aedes aegypti, já se sabe se é possível pegar o vírus de alguma outra maneira?
Até o momento foram registradas duas transmissões de zika por relação sexual e o vírus foi localizado no sêmen. Na descoberta mais recente, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) publicou o caso de um homem de 68 anos que foi infectado em 2014 em uma viagem à Polinésia Francesa, na época que a região estava sofrendo um surto de zika. O paciente teve amostras de urina e sêmen testadas novamente 27 e 62 dias depois que ele sentiu os sintomas e para o sêmen o resultado foi positivo nas duas datas. Em outra pesquisa, feita pela Fiocruz, foram identificados o vírus ativo na saliva e urina de pacientes infectados. Apesar disso, não está confirmado que o zika possa ser transmitido por essas secreções. É preciso, por exemplo, que a quantidade de vírus presente nelas seja grande o bastante e que ele sobreviva por um tempo fora do corpo, o que não é sabido se ocorre ainda. Outros vírus, como o HIV, também podem ser detectados na saliva e nem por isso são transmitidos dessa forma.

6.Mulheres grávidas ou que pretendem engravidar devem evitar viajar ou adotar outras precauções?
No final da semana, pela primeira vez, a Organização Mundial de Saúde (OMS) sugeriu que mulheres grávidas considerem adiar viagens para qualquer área onde a transmissão autóctone do zika esteja ocorrendo. Também pelo fato de o zika ter sido encontrado no sêmen, a organização sugere que todos os homens e mulheres que estejam voltando de uma área com transmissão de zika, especialmente grávidas e seus parceiros, pratiquem sexo seguro com o uso de camisinha. No Estado de S. Paulo, foi desenvolvido um teste para analisar o sangue de transfusões destinado a grávidas e a cirurgias dentro do útero. As grávidas são orientadas, acima de tudo, a se proteger do mosquito, usando repelentes, roupa comprida e sapato fechado.

7.Quais outros problemas de saúde suspeita-se que o zika pode causar?
Suspeita-se que o zika possa afetar outros órgãos além do cérebro do bebê. Na semana que passou, um estudo mostrou que pelo menos 13 crianças nascidas com microcefalia em Salvador e Recife em casos suspeitos de relação com o vírus zika apresentam também lesões oculares que podem levar à cegueira. Também suspeita-se que o zika pode desencadear a Síndrome de Guillain-Barré, uma resposta autoimune do corpo diante de processos infecciosos, levando à paralisação dos músculos.

Fonte: Estadão

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