Juazeiro do Norte (CE): Missa e homenagens marcam os 70 anos do Beato José Lourenço

Os 70 anos de José Lourenço Gomes da Silva, que ficou conhecido como o beato Zé Lourenço, foram lembrados na noite desta sexta-feira, 12, com celebração na Capela do Socorro, em Juazeiro do Norte. O religioso liderou o movimento do Caldeirão, em Crato, sendo considerada uma comunidade organizada do campesinato, autossustentável, fundamentada no trabalho, na oração e na partilha dos bens produzidos, e foi combatido pelas milícias do Governo. Há notícias de que o local chegou a ser bombardeado, matando mais de mil pessoas, entre crianças, adultos e idosos. Depois de dizimado, restou a história de resistência.

A celebração foi presidida pelo padre Vileci Vidal, com a presença de pesquisadores e remanescentes do Caldeirão. Na ocasião, a Organização Não Governamental Beato José Lourenço realizou homenagens, com entrega de certificados, a remanescente Alice Alves de Araújo, e mais nove homenageados incluindo jornalistas, historiadores, professores e políticos.

Durante a celebração, o padre Vileci ressaltou a atuação do homem religioso e líder camponês, no Caldeirão, destacando a sua trajetória desde a chegada a Juazeiro do Norte e aproximação com o Padre Cícero. O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto foi o local onde o beato permaneceu por alguns anos, e onde centenas de camponeses, que viviam em condições precárias de vida e passando fome, conheceram um regime de vida organizado e com fartura.

As questões agrárias ainda presentes na história do País e as lutas pela autosustentabilidade do camponês foram enfocadas na missa, inspiradas na experiência do beato. Nomes como Dorothy Stang, a religiosa e líder camponesa assassinada há 11 anos, segundo o padre Vileci Vidal, é exemplo dessa realidade. Ele disse que a experiência do caldeirão leva a um momento de reflexão. “A história do lugar se mistura com a própria trajetória do beato ”, afirma. Para o padre, José Lourenço foi um benfeitor do Padre Cícero. Foi no Caldeirão, que o beato se tornou um grande líder religioso e onde havia um grande espírito de liberdade.

Caldeirão marca trajetória do líder
O Caldeirão foi palco da vida e obra do beato José Lourenço. No local aconteceu um dos movimentos messiânicos mais significativos da história do Nordeste, acontecido em terras cearenses. A comunidade, formada por cerca de mil pessoas, era liderada pelo paraibano de Pilões de Dentro, beato Zé Lourenço.

No Caldeirão, os romeiros e imigrantes trabalhavam todos em favor da comunidade e recebiam uma quota da produção. A comunidade era pautada no trabalho, na igualdade e na religiosidade, sob as bênçãos do Padre Cícero Romão Batista. Em 1936, a tragédia. Famílias inteiras mortas foram enterradas num valado, local até hoje desconhecido. Suspeita-se que na Mata dos Cavalos, na serra do Cruzeiro, na região, ou no próprio Caldeirão. José Lourenço chegou a fugir para Pernambuco, onde morreu aos 74 anos, de peste bubônica, tendo sido levado por uma multidão para Juazeiro, onde foi enterrado no cemitério do Socorro. O beato era considerado um líder santo. Homem dedicado a oração e ao trabalho. Remanescentes falam da sua postura de homem íntegro. O paraibano que veio mudar a história nas terras do Ceará.

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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