Mariana ou Paris: por que há quem critique a solidariedade alheia?


Você já foi criticado por prestar solidariedade, em uma rede social, às vítimas de uma tragédia? Você se irrita quando um amigo manifesta solidariedade? Você se incomoda com quem se irrita com a solidariedade alheia? Se respondeu "sim" a ao menos uma das questões acima, você, provavelmente, se envolveu na mais recente polêmica entre usuários do Facebook: a "patrulha" da solidariedade.

As recentes tragédias de Mariana (MG) e Paris provocaram divergências entre usuários da rede. Depois dos atentados na capital francesa na última sexta-feira (13), o Facebook criou a possibilidade de o usuário trocar a imagem do perfil e ter a bandeira francesa ao fundo para manifestar solidariedade às vítimas. Mas e o desastre humanitário e ambiental provocado pelo rompimento das barragens da mineradora Samarco em Minas Gerais? E os atentados em outros países?

Brasileiros que manifestaram solidariedade às vítimas de Paris tiveram de, direta ou indiretamente, lidar com críticas de amigos. "É lamentável o que aconteceu na França, triste, revoltante. Mas e o nosso povo? Será que saber falar francês faz deles, diferentes dos brasileiros, mineiros, humanos?", postou uma usuária do Facebook, incomodada com a falta de imagens de perfil com as cores da bandeira brasileira para homenagens as vítimas de Minas.

Quem se solidarizou com as vítimas de Paris reagiu. "Um dos grandes objetivos dos facebookistas é invalidar. Seja a dor, a indignação, a luta alheia. Se alguém encampa uma causa, já surge alguém que diga que tem outra melhor e mais justa, que e a comentada é menos importante", ironizou um usuário.

Para a professora Elizabeth Saad, professora titular do departamento de Jornalismo da ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo), a discórdia não surpreende. "É um comportamento de tese e antítese na sociedade. Isso é muito normal. Sempre que acontece um posicionamento coletivo, vai ter quem é contra. Faz parte do comportamento social em grupo. Não culpem a rede por isso estar acontecendo. Ela somente acelera o processo."

A importância da "turma do contra"
Elizabeth Saad e o cientista social Bernardo Conde, professor da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), dividem aqueles que adotaram a bandeira francesa na imagem do perfil em dois grupos: o dos mais informados e identificados com a situação e o dos menos informados que embarcam na nova moda.

Para Conde, é normal que pessoas engajadas em questões nacionais reclamem da solidariedade com as vítimas de Paris. "Elas ficaram contrariadas com esse tipo de onda e foram questionar esse humanismo seletivo." A professora da USP diz que a "turma do contra" exerce um papel importante ao fazer um contraponto, principalmente ao segundo grupo, o dos que "vão na onda da rede".

O professor da PUC-Rio rejeita o termo "patrulhamento". "Vejo como uma fricção de pensamentos diferentes sobre o mesmo assunto. Nesse caso, o Facebook está politizando as pessoas no bom sentido."

Para Conde, as discussões são salutares. "É a partir dessa situação que se chega a lugares interessantes. Você está fazendo reflexão sobre seu ato. Justificar sobre uma escolha traz consciência sobre ela e vai desencadeando uma série de diálogos."

Na opinião do cientista social, manifestações de ódio na rede a respeito de determinados temas aparecem porque estamos "destreinados" para debater. "Esse exercício vai fazer as pessoas separarem a política e a posição ideológica das questões pessoais."

Para Elizabeth Saad, o tamanho da polêmica deve ser relativizado porque o algoritmo do Facebook filtra o que cada usuário vê. "O que se vê na rede não pode ser tomado como comportamento generalizado na sociedade."

As opções do Facebook
Não foi só no Brasil que as ações do Facebook nos atentados de Paris incomodaram. Libaneses também reclamaram de tratamento desigual.

Na opinião da professora da USP, o Facebook oferece mecanismos de solidariedade de acordo com seus interesses comerciais e levando em conta que a maioria dos usuários é ocidental, o que explicaria a ausência desse tipo de instrumento em tragédias na África e na Ásia. "[Mark] Zuckerberg [fundador e CEO da empresa] não está preocupado com o Oriente Médio. Não é o público dele."

Em seu perfil na rede, Zuckerberg disse ter levado em conta "críticas legítimas" e anunciou que a função "Safety Check", que usuários de Paris puderam acionar para avisar que estavam a salvo, será disponibilizada em casos de "desastres humanos".

Procurado pelo UOL, o Facebook afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que colocou as ferramentas à disposição na última sexta-feira a pedido de usuários preocupados com os atentados na França. "Nós estamos oferecendo à nossa comunidade a possibilidade de trocar suas fotos de perfil como uma forma de demonstrar apoio à França e a todos que estão em Paris."

Fonte: UOL

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