Quase mil poços perfurados em 2015 no Ceará

O quadro de seca cada vez mais se agrava no sertão cearense. Dezenas de açudes já secaram, outros estão se exaurindo e a perspectiva de uma nova estiagem em 2016, só deixa um caminho a seguir: ampliar a perfuração de poços profundos. Somente neste ano, órgãos de governo estadual e federal já perfuraram cerca de mil poços no Interior. Até o fim deste ano, esse número será ampliado.

É preciso acrescentar aos números das instituições públicas a perfuração de centenas de poços por iniciativa de produtores rurais nos últimos dois anos, com a vinda de empresas de outros estados e do próprio Ceará. Entretanto, não há somatório desse quantitativo.

A própria natureza foi determinante para que as instituições públicas investissem em aquisição de máquinas perfuratrizes e determinasse recursos para a perfuração de poços profundos. Era uma ação reclamada há bastante tempo pelos prefeitos, deputados e dirigentes de associações comunitárias. A Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra) estava longe de atender a demanda oriunda dos municípios, superior a três mil poços.

Agora, na iminência de colapso hídrico, não restrito apenas à zona rural, mas aos centros urbanos, a realidade vem mudando e a perfuração de poços transformou-se em uma política pública prioritária. Observe os números: somente pela Sohidra, em 2011, foram perfurados 214 poços; em 2012, foram 261 e em 2013, 336. Em 2014, a quantidade aumentou para 594. Neste ano, já foram perfurados 517 e a meta até dezembro é chegar a 800.

A Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), por meio do Programa Água para Todos, somente neste ano, perfurou 404 e outros 100 estão em andamento. O Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) através do programa federal da Defesa Civil perfurou 248 unidades desde 2013. Soma-se a esse número outros poços que foram feitos no programa Água para Todos, cuja fonte de água pode ser poço ou açude.

Apesar das dificuldades de localização de água no subsolo do sertão, pois estudos apontam que de 70% a 80% da geologia é formada por rochas cristalinas (pedra), a perfuração de poços tem sido necessária e é o que vem assegurando o abastecimento em muitas cidades do Interior. A maioria dos geólogos defende a ampliação de estudos por universidades e órgãos de governo para localizar áreas de aquíferos.

"Precisamos de mais pesquisa", disse o geólogo Joaquim Feitosa, que nos últimos cinco anos tem se dedicado ao trabalho de locação de poços. "Durante muitos anos, a própria academia e o governo tiveram resistência à ampliação de um programa dessa natureza porque alegam que o cristalino é desfavorável ao acúmulo de água subterrânea".

Elevadas vazões
Feitosa argumenta com dados reais, obtidos recentemente. Segundo ele, poços perfurados no Sertão Central, região castigada pela seca, apresentaram elevadas vazões, surpreendendo moradores e técnicos. Na localidade de Assunção, em Solonópole, a vazão foi 70 metros cúbicos por hora; outro, no sítio Divisão, em Mombaça, é de 60m3/h e no sítio Oiticica, em Quixeramobim, no distrito de Paus Brancos, chegou a 50 m3/h. Um metro cúbico tem mil litros.

"Esses resultados demonstram que o cristalino tem potencial, mas infelizmente ainda não há pesquisa", frisou. "Muitos acreditam que não é viável um programa de locação e perfuração de poço profundo, mas esse pensamento precisa mudar".

O Ceará vivencia um ciclo de quatro anos seguidos de seca, Em algumas regiões, as chuvas abaixo da média já são registradas há seis anos. O próximo ano deverá ser seco, caso perdurem as condições climáticas e meteorológicas atuais. O El Niño (aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico equatorial) está intenso, comparável ao devastador verificado em 1997.

HONÓRIO BARBOSA
COLABORADOR

Fonte: Diário do Nordeste

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