Artista plástico Luiz Karimai é homenageado

Se alguém perguntar qual a linguagem da arte, pode buscar a sua tradução pela transcendência. Ela é universal. Prestes a completar dez anos de atuação, a Alysson Amâncio Companhia de Dança alinha os movimentos corpóreos às artes plásticas e traz à tona o espetáculo 'Karimai". Uma singela e rica homenagem a um dos artistas plásticos mais marcantes do Cariri, com uma vasta obra de mais de mais de mil trabalhos espalhados pelo Cariri, Nordeste e o mundo afora.

Poder homenagear o trabalho do artista, pela sua riqueza, não foi uma composição fácil para o espetáculo, mas o resultado foi apresentado nesta semana, durante estreia, no Teatro Patativa do Assaré, no Serviço Social do Comércio (Sesc), em Juazeiro do Norte. No Crato, nos dias 18 e 19, acontecem mais duas apresentações. O diretor do espetáculo, Alysson Amâncio, explicou que desde janeiro deste ano que foi iniciada a empreitada de compor espetáculo com cerca de 50 minutos, onde a sensibilidade de cada um dos bailarinos foi sendo afinada.

O principal instrumento, o corpo, teve que mergulhar no universo do artista. Dentro do processo de criação, o diretor destaca ser impossível transformar uma obra de artes visuais em dança. E muito menos, várias delas em um só espetáculo. A provocação estava mesmo nos traços, de onde brotaram sensações indescritíveis para os artistas. "A partir desta perspectiva, desde o início do processo de montagem, já sabíamos que o nosso intuito não era traduzir em movimentos a obra do nosso protagonista", disse.

O artista plástico Luís Massaki Karimai é paulista e veio para o Juazeiro do Norte no começo dos anos 70, onde pôde desenvolver a maior parte do seu trabalho já em terras caririenses. Foi sociólogo e prestou grande contrição à cultura local. Chegou ao ser secretário de Cultura da terra do Padre Cícero. As cores místicas de Karimai, em detalhes de locais como a Rua do Horto, assumem contornos ricos diante do traço poético e vibrante do artista. Ele faleceu em agosto de 2010.

Horizontes
Alysson Amâncio tem ampliado os horizontes da dança no Cariri e no Interior do Estado. Um trabalho persistente que já tem gerado bons frutos, como o espetáculo Cajuína, anterior ao recém-lançado, criado em 2012. Já são mais de dez espetáculos no repertório e trabalhos apresentados. A companhia desenvolve projetos formativos e criativos, por meio de intercâmbio com importantes profissionais da dança. É reconhecida em editais estadual e federal como Prêmio Funarte Petrobras de Dança Klauss Vianna. Em 2013, realizou uma circulação nacional "Dança Cariri: estreitando os laços", por dez capitais do Norte e Nordeste.

O diretor destaca na composição do espetáculo contribuições importantes, como a da professora Eneida Feitosa, que atualmente realiza trabalho de pesquisa de doutoramento sobre a obra do artista, além de familiares, a jornalista Clara Karimai e Elisangela Rodrigues. "Fomos percebendo que não daríamos conta de estudar a obra completa do artista, pois ela é imensa e espalhada pelo mundo.

Outro fator inesperado do processo é que não conseguíamos criar focando apenas na arte dele. Cada história que nos chegava era sempre a narrativa de um ser humano tão humano, tão atencioso e engajado pelas lutas sociais, que isso não podia ser ocultado da nossa dança. Em nossa visão a arte, amor e vida estavam imbricados em Karimai", explica.

Pesquisa
Em princípio, houve a pesquisa da obra artística do Karimai, e Alysson afirma que não tinha noção da sua obra, em mais de 30 anos de produção. Veio então o processo de escolha de quais as obras que poderiam estar mais ligadas ao espetáculo.

A prioridade foi dada às mais ligadas ao corpo humano. Um mote para a cena. O espetáculo começa todo branco e vai sendo colorido aos poucos. No fim, uma explosão de cores e sentimentos. "Uma forma de ir conquistando o público vagarosamente" diz.

Em 2016, a Alysson Amâncio Companhia de Dança completa 10 anos de existência. De acordo com o diretor, o desafio de realizar o espetáculo é também uma forma de festejar a primeira década de trabalho, com a homenagem ao Luís karimai, que ele classifica como o um artista-cidadão. "Um exemplo de luta e resistência em prol da arte, da família, do espiritismo, do amor ao próximo. Nós o temos como um exemplo e, no âmbito da dança, apesar de todas as adversidades, especialmente a falta de apoio público e privado, também estamos tentando resistir", afirma.

São 14 bailarinos e criadores do espetáculo, juntamente com a direção, concepção e coreografia assinada por Alysson Amâncio. Artistas que se dedicaram a um trabalho que nos últimos meses tem sido uma verdadeira entrega. A música veio da inspiração do criador da Orquestra de Cabaças, Francisco Di Freitas, com cenografia de Geraldo Júnior e figurino de Ariane Morais, entre outros técnicos que vêm somando no trabalho de composição artística.

Para a bailarina Kelyenne Maia, o trabalho foi desafiador desde o começo e não sabia bem o que o diretor queria. Foram atividades, exercícios, para chegar ao momento dele revelar os caminhos que seriam seguidos a partir da nova etapa, ao mergulhar no universo da obra do artista plástico. "Começamos a ter uma imersão dentro das obras. Escrevemos o processo de cada dia, encontros com a Eneida, a esposa e a filha do Karimai, e foi muito prazeroso", disse.

Mais informações
Associação de Dança Cariri
Rua Conceição, 1391
Bairro São Miguel
Juazeiro do Norte
Telefone: (88) 9 9985-6324

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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