Juros sobem pela 7ª vez seguida e Selic chega a 14,25%, maior nível em 9 anos

Alexandre Tombini, presidente do BC
Uma semana depois de o governo anunciar uma redução substancial na sua meta de economia para o ano, o Banco Central elevou nesta quarta-feira (29) a taxa básica de juros, a Selic, em mais 0,5 ponto percentual, para 14,25% ao ano.

Foi a sétima alta consecutiva da Selic, que o maior patamar em nove anos —desde agosto de 2006, quando a taxa também estava em 14,25%. A decisão tomada por 8 dos 9 diretores do BC já esperada pelo mercado.

Em nota, o BC disse que os juros devem permanecer nesse novo patamar "por período suficientemente prolongado" para garantir a convergência da inflação para a meta no fim de 2016.

Em iniciativa inédita, o diretor de Assuntos Internacionais Tony Volpon, se absteve de participar da reunião que definiu a Selic depois que declarações feitas por ele na semana passada sobre os juros geraram polêmica.

Segundo noticiado pelo jornal "Valor", Volpon descartou em apresentação a investidores a possibilidade de votar por uma redução dos juros até que a projeção do BC aponte para uma inflação no centro da meta de 4,5%.

Alguns analistas de mercado e políticos avaliaram que o diretor teria antecipado o seu voto no Copom (Comitê de Política Monetária).

Nesta quarta-feira, o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) defendeu a demissão de Volpon.

Em nota, o BC informou que compreendeu a decisão do diretor de não participar da reunião e que já havia "acolhido" os esclarecimentos dados por ele sobre o caso.

Há duas semanas, parte dos economistas ainda cogitava a possibilidade de o BC reduzir o ritmo de aperto dos juros, optando por uma alta de 0,25 ponto após seis aumentos de 0,5 ponto, diante da retração da atividade econômica e da melhora gradual das expectativas de inflação para o próximo ano.

A decisão do governo de reduzir sua meta de superavit primário de 1,1% do PIB para no máximo 0,15% do PIB, com possibilidade de deficit, reforçou, no entanto, a expectativa de um aperto maior.

Quanto menor a economia feita pelo governo para o pagamento de juros da dívida maior o volume de recursos disponível na economia para consumo e investimento —combustível para o reajuste de preços em um cenário de inflação já elevada.

Em meio a preocupações dos investidores com a trajetória da dívida pública, a redução da meta de economia também alimentou uma alta do dólar, o que tem efeito inflacionário.

Essas mesmas preocupações contribuíram para que a agência de classificação de risco Standard & Poor´s indicasse nesta semana a possibilidade de reduzir a nota do Brasil para o grau especulativo em um futuro próximo.

Para este ano, em que a inflação sentiu o choque de reajustes das tarifas reguladas pelo governo, principalmente de energia, e também da alta do dólar, a expectativa é que o IPCA fique bem acima do teto da meta.

A projeção central mais recente dos economistas consultados pelo BC é que a inflação feche o ano em 9,23%, maior valor desde 2003. Para 2015, as estimativas são de um IPCA de 5,4%.

O descumprimento da meta neste ano, se confirmado, exigirá que o presidente do BC, Alexandre Tombini, encaminhe uma carta aberta ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, explicando os motivos que levaram o teto de 6,5% a ser superado.

Projeção
Para a próxima reunião do Copom, marcada para 1º e 2 de setembro, as previsões divergem sobre a possibilidade e a intensidade de uma nova alta de juros. Para José Pena, economista-chefe da Porto Seguros Investimentos, a decisão sobre a nova elevação vai depender fundamentalmente do comportamento de dólar e inflação até lá.

"Olhando para o cenário político, creio que o câmbio vá oscilar bastante. A chance de ficar estável nesse patamar é baixa, porque o Congresso retorna do recesso e vai colocar em pauta votações importantes", diz. Nesse cenário, haveria chance de aumento de 0,25 ponto percentual da Selic na reunião de setembro, afirma Pena. Em seguida, o BC encerraria seu ciclo de aperto monetário, deixando a Selic em 14,5% ao ano.

Por outro lado, complementa, caso o câmbio se comporte e a inflação desacelere, o BC poderia optar por encerrar o ciclo de altas na próxima reunião, o que deixaria a Selic em 14,25% ao ano -em linha com a expectativa dos economistas de instituições financeiras consultados pelo Banco Central no boletim Focus.

Há quem aposte que o Banco Central manterá o ritmo do aperto monetário e promoverá nova alta de 0,50 ponto percentual em setembro. Para Hegedus, da Lopes Filho, este é o cenário mais provável. "A elevação dos juros surte efeito apenas no médio e longo prazo", diz. "Como não há perspectiva clara para a política brasileira, o corte nos juros a partir do próximo ano também deve ocorrer de forma lenta, à medida que os resultados vierem."

A taxa de juros é o instrumento utilizado pelo BC (Banco Central) para manter a inflação sob controle ou para estimular a economia.

Se os juros caem muito, a população tem maior acesso ao crédito e, assim, pode consumir mais. Esse aumento da demanda pode pressionar os preços caso a indústria não esteja preparada para atender um consumo maior.

Por outro lado, se os juros sobem, a autoridade monetária inibe consumo e investimento —que ficam mais caros—, a economia se desacelera e evita-se que os preços subam, ou seja, que haja inflação.

Com o aumento da taxa básica de juros (Selic), o BC aumenta a atratividade das aplicações em títulos da dívida pública. Assim, começa a "faltar" dinheiro no mercado financeiro para viabilizar investimentos que tenham retorno maior que o pago pelo governo. Se a taxa cai, ocorre o inverso.

É por isso que os empresários pedem cortes nas taxas: para viabilizar investimentos, ainda mais em tempos de economia fraca, como agora. Nos mercados, reduções da taxa de juros viabilizam normalmente migração de recursos da renda fixa para a Bolsa de Valores.

Em um cenário normal, é também por esse motivo que as Bolsas sobem nos Estados Unidos ao menor sinal do Federal Reserve (BC dos EUA) de que os juros possam cair.

Quando o juro sobe, acontece o inverso. O investimento em dívida absorve o dinheiro que serviria para financiar o setor produtivo.

Fonte: Folha.com

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