Investimento e disciplina fizeram da Coreia do Sul uma campeã em educação

Há anos com fortes índices em rankings mundiais de educação, a Coreia do Sul é geralmente lembrada como exemplo de país cujo sistema educacional deu certo. Segundo o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2010, os alunos sul-coreanos ficaram em quinto lugar na prova que testou seus conhecimentos em matemática, ciências e leitura. Dados do Banco Mundial divulgados em 2011 apontaram que 98% dos jovens entre 25 e 34 anos completaram o ensino médio.

Esse patamar de qualidade e de acesso à educação foi atingido, segundo especialistas, graças a um maciço investimento em educação (em 2009, segundo o Banco Mundial, esse investimento foi de 5% do PIB, ou seja, US$ 47,1 bilhões) – principalmente na formação dos professores, no investimento em material de apoio e na melhoria da estrutura e funcionamento das escolas – combinado com a cultura asiática de disciplina e valorização do ensino. No Brasil, aumentar o valor destinado à educação é uma das metas do Plano Nacional da Educação, em tramitação no Congresso há dois anos. O governo também tenta, através de projeto de lei, aplicar os recursos dos royalties do petróleo na área.

O desenvolvimento da educação na Coreia do Sul foi motor do rápido crescimento econômico do país, ao qual precedeu. Para se ter uma ideia, até os anos 1960, a Coreia do Sul apresentava níveis sociais e econômicos comparáveis aos países mais pobres da Ásia. Logo após a Guerra da Coreia (1950-1953), que deixou quase 138 mil sul-coreanos mortos, o PIB per capita do país no período era de US$ 883, mais baixo do que em nações como Senegal e Moçambique. Em 2004, seu PIB ultrapassou US$ 1 trilhão e, atualmente, o país figura como a 15ª economia do mundo, exportadora de tecnologia de ponta.

Na Coreia do Sul, o sistema priorizou primeiramente a educação primária. Só quando esta se tornou universal, o governo passou a destinar recursos para o segundo e terceiro graus.

Além de um plano de carreira consolidado, os professores sul-coreanos recebem altos salários e há investimentos e valorização de seus meios de trabalhos. Ser professor na Coreia do Sul, de acordo com especialistas, é ter uma carreira de prestígio. Segundo afirmou ao iG o professor Paul Morris, do Instituto de Educação da Universidade de Londres, o status dos professores é resultado da relação que a sociedade possui com a educação.

"Professores são vistos pelas autoridades como cruciais para o projeto nacional e elas não costumam criticá-los publicamente, por exemplo. Eles também são extremamente capacitados mesmo antes de começar a ensinar", relatou.

Morris explicou que o sistema sul-coreano estimula a forte competição entre os jovens para a entrada nas melhores universidades e escolas. "Geralmente, os pais veem na educação um meio vital para determinar as oportunidades nas vidas de seus filhos e os encorajam e pressionam a trabalhar duro", disse.

Como outros países asiáticos, a Coreia do Sul usa exames públicos competitivos como um motor para a seleção e para a mobilidade social, com a entrada em uma boa escola ou universidade dependendo unicamente do desempenho nas provas. Por causa dessa pressão, o engajamento das famílias na educação das crianças na Coreia do Sul foi um elemento fundamental para que o país chegasse ao patamar atual.

A educadora brasileira Beatriz Cardoso, diretora executiva do Laboratório de Educação, passou dez dias na Coreia do Sul desenvolvendo um projeto que buscava desmitificar rankings como o Pisa. O projeto resultou no programa "Destino: Educação", transmitido pelo canal Futura em 2011.

Beatriz minimiza o impacto do investimento econômico no bom desempenho sul-coreano nos rankings mundiais. "Visitamos uma família na Coreia do Sul que vivia em uma casa menor que um dormitório. Nela, moravam três pessoas. A mãe era separada, e a família tinha uma situação financeira apertada. A dedicação número um para essa mãe, com todas as dificuldades da vida, era o ensino da filha."

Beatriz relata que as aulas das crianças na Coreia do Sul começam às 7h30 e terminam às 17h. Às 18h, todos vão para uma escola privada, paga por seus pais, nas quais há aulas até tarde da noite. "O governo recentemente decretou uma lei determinando que as escolas deveriam fechar à meia-noite, porque essas instituições às vezes ficavam abertas até as 2 horas."

Enquanto é uma das razões para o sucesso econômico sul-coreano, o alto grau de dedicação ao ensino também tem um aspecto negativo. Segundo dados do Ministério da Educação, 146 estudantes cometeram suicídio, incluindo 53 no ensino médio e três no fundamental, em 2010 no país. "As crianças na Coreia do Sul se queixam da privação de sono, da falta de tempo, da pressão. Embora tenham um resultado acadêmico elevado, o custo é altíssimo", opinou Beatriz.

Morris acrescentou que há preocupações de que um sistema como o da Coreia do Sul, muito concentrado no resultado de provas e testes, prejudique o pensamento crítico e a criatividade dos alunos. "Por exemplo, o Japão, que tinha um sistema parecido, costumava ter aulas de sábado, mas isso foi proibido em uma tentativa de reduzir a pressão sobre os estudantes e criar um ambiente mais relaxado de ensino."

Fonte: Último Segundo

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