Ceará tem 2 diagnósticos de Aids por dia

Deter a propagação do HIV/Aids, da malária e de outras doenças, como tuberculose e dengue, além de inverter o avanço no número de casos fazem parte da sexta Meta do Milênio. Embora o Ceará venha ampliando esforços na luta contra essas enfermidades, o objetivo não será alcançado.

No Estado, em média, duas pessoas por dia recebem a confirmação de que são vítimas da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, a Aids. Em 2014, foram 794 ocorrências, com 194 óbitos. O coeficiente da mortalidade é alto, chega a quatro por 100 mil habitantes. Entre as faixas de idade que geram preocupação, estão pessoas com 50 anos ou mais e adolescentes dos 15 aos 19 anos.

Em relação à tuberculose, o cenário também é de alerta. Em 2013, o Ceará teve 3.480 novos casos, com taxa de incidência de 40,4 para cada grupo de 100 mil habitantes. Em 2012, foram 3.450 comprovações, computando 40,1 para o mesmo número populacional. As ações de combate são persistentes, mas os resultados são considerados lentos. Em 2001, 3.509 cearense contraíram a doença.

A estratégia de redução da carga da doença, para o alcance da meta de eliminação da hanseníase, como problema de saúde pública, de pelo menos um caso para 10 mil habitantes até 2015, baseia-se no aumento da detecção precoce dos casos novos e na cura dos casos diagnosticados. No entanto, o caminho ainda é longo para o Ceará. No ano passado, a taxa de detecção era de 24 ocorrências para o mesmo número de pessoas.

A dengue, não obstante todas as campanhas e ações, ainda é um problema no Estado. Já são 4.648 registros confirmados por exame laboratorial. A cada 100 mil cearenses, 52 contraíram a enfermidade.

Controle
Apesar dos números altos, o avanço no tratamento da Aids fez com que a doença fosse considerada uma epidemia sob controle. "Muita gente está abrindo a guarda em relação à prevenção e creditando ao coquetel (de medicamentos) a solução caso se contaminem, o que é ilusão", aponta a supervisora do Núcleo de Prevenção e Controle de Doenças e Agravos (Nuprev), da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), Tânia Alves Martins.

Foi o que aconteceu com a dona de casa Maria Gilmara Santos. Ela conta que pegou o HIV do marido, Pedro Santos. "Ele não se preveniu, me traía, e eu contraí o vírus. Agora, quando ele tem que se internar no Hospital São José, eu venho também. É claro que nossa vida mudou e está mais difícil", diz.

Tânia Alves reconhece que o Ceará, como os demais estados, vem trabalhando para abrandar os dados. "Porém, sabemos que esta meta não será cumprida em 2015 e, desta forma, acredito que outros prazos serão pactuados pelos países membros, nestes, incluídos o Brasil", afirma.

Entre as ações levadas adiantes pela Sesa, ela ressalta investimento no diagnóstico e tratamento acessível aos infectados pelo vírus, além da promoção da atenção com qualidade para as pessoas vivendo com a moléstia. "Firmamos parceria com as secretarias de Saúde de todos os municípios, garantindo o acesso aos insumos de prevenção nas unidades de atenção primária e unidades da rede Sistema Único de Saúde (SUS)", relacionada.

O órgão ainda apoia projetos de organizações não-governamentais (ONGs) que atuam na luta contra a Aids com as populações chaves (homossexuais, profissionais do sexo e outras em situação de vulnerabilidade); parceria com a Secretaria de Justiça no trabalho com pessoas privadas de liberdade visando maior acesso aos preservativos, testagem de HIV e sífilis e assistência aos pacientes.

Alerta
Para o infectologista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) Anastácio Queiroz, um dos focos de alerta está na população com mais de 50 anos. "A questão do diagnóstico tardio é mais acentuada, pois são pessoas que iniciaram sua vida sexual sem a existência da doença", frisa. Para ele, a mudança no comportamento da sociedade, as drogas que surgiram para melhorar libido e desinformação motivam o aumento de casos nessa faixa etária.

Sobre as outras enfermidades, o médico considera que o medo, a desinformação e o preconceito levam ao silêncio, à fuga, à negativa por parte da maioria dos doentes. "A negligência é outro fator que potencializa o perigo maior à transmissão, o abandono do tratamento e o aumento da letalidade, como nos casos da tuberculose e hanseníase. Isso faz a diferença entre a vida e a morte", atesta.

Para a infectologista Jamila Monteiro, os desafios são a ampliação da rede de atendimento, a redução da transmissão vertical do HIV e sífilis, e das vulnerabilidades das pessoas que convivem com o HIV para garantir uma melhor adesão ao tratamento antirretroviral.

LÊDA GONÇALVES
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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