Crato (CE): Fotossilêncio forma primeira turma

O primeiro grupo de fotógrafos surdos começa a se formar no Cariri. Os integrantes do Fotossilêncio, curso de fotografia específico para esses portadores de deficiência auditiva, são em sua maior parte do Crato, e outras cidades da região. Para eles, mais uma ponte de interação com o mundo e as pessoas. Alguns pensam até em fazer da arte um meio de vida, conseguir emprego e colocar a criatividade para funcionar.

O projeto nasceu a partir da sensibilidade do fotógrafo social Allan Bastos. Ele decidiu reunir um público que se dispusesse a buscar novas formas de pensar a fotografia. Já chegou a realizar trabalhos com pessoas com síndrome de Down. Para ele, foi uma tarefa difícil e confessa que tem sido estimulante a experiência. São as primeiras aulas, e as técnicas básicas estão sendo apresentadas ao grupo.

Para o curso Fotossilêncio acontecer, foi necessário a disponibilidade de um intérprete cedido pela Secretaria de Educação do Crato. O curso vem sendo realizado por meio da Secretaria de Cultura da cidade. É uma experiência pioneira no Ceará e Allan afirma que continua aberto para as pessoas surdas interessadas com formação inteiramente gratuita. As aulas estão acontecendo no prédio do Museu Histórico do Crato, todas as sextas-feiras à tarde, das 14 horas às 16 horas.

O desafio inicial foi reunir o público, mas desde o ano passado as tentativas vêm sendo empreendidas numa cidade onde há a presença, junto com Juazeiro do Norte, de cerca de 12 mil surdos. Dois intérpretes estão atuando neste papel de tradutores na linguagem de libras, Josilene Anastácio e Rodrigo Almeida.

Gosto
O fotógrafo Allan Bastos também apelou para o Conselho da Pessoa com Deficiência para desenvolver o trabalho. A integrante do Conselho, Sônia Sales, é surda. Ela gostou da ideia e se prontificou em mobilizar um grupo que conta com alunos até da cidade de Exu, em Pernambuco, além de Jardim e Juazeiro do Norte. A aluna também faz parte da Associação Cratense de Defesa da Pessoa Surda.

"Muitos procuravam esse curso e fui até o Senac (Serviço Nacional do Comércio), mas não havia algo mais específico para pessoas com esse tipo de deficiência", diz ela. Para Allan, o objetivo do trabalho é poder possibilitar aos integrantes mais uma via de expressão. "Vamos buscar na memória deles e estimular aquilo que querem contar, manifestar pela fotografia e para isso é necessário todo um processo de elaboração e um trabalho de técnica", afirma.

Para Josilene, o mais importante tem sido poder simplificar em libras para os participantes a linguagem técnica da fotografia. Mas há sinais que ela não consegue interpretar e vão buscando alternativas para se fazer entender. Para o vendedor de chapéus Ivanhoé da Silva, o objetivo ao terminar o curso é conseguir um emprego para fazer fotografias em estúdio, além de participar de eventos.

Sônia passou a admirar o trabalho de um fotógrafo surdo que encontrou em Brasília. Ele era um profissional e trabalhava em jornais para surdos. "Acho importante e significativo o Fotosilêncio para o Cariri. A ideia de Allan é maravilhosa e a primeira pessoa que se volta para essa área. Fiquei muito impressionada", afirma.

Atenção
O curso até já teve a doação de câmera fotográfica e está aberto para aquelas pessoas que queiram dar mais equipamentos, a exemplo de tripé. Dois participantes têm deficiência motora e sentem dificuldades na hora dos clicks. O fotógrafo Allan Bastos destaca que esse é um momento de aprendizado e trabalhou com portadores de deficiência mental, motora além da síndrome de Down. Também atuou em favelas de Recife, em Pernambuco. "Tem grupos que precisam de uma atenção. Abracei a causa e vou defender", diz ele.

Allan teve conhecimento de um trabalho com surdos, o FotoLibras, um projeto já de 10 anos e que ele considera muito bem sucedido. Pretende continuar com o grupo de fotógrafos que está sendo iniciado na região. Ele imagina o Fotossilêncio tomando uma dimensão maior, como acontece com grupos de fotografia em estados como São Paulo e Goiás. Os alunos têm a pretensão de seguirem atuando como fotógrafos e com isso se inserir no mercado de trabalho. "Temos a oportunidade de conquistarmos novos amigos e nos inserimos num universo poético e ao mesmo tempo profissional, reproduzindo o que temos em mente", diz Sônia Sales. Para ela, essa é também é uma oportunidade de interação com novos amigos. São pessoas de 14 a 50 anos.

O fotógrafo espera que esta seja uma forma de expressão que vai surpreender muita gente, pela visão aguçada. "Trará a poesia e a história deles", ressalta Allan. Para ele, o momento agora é de esperar pelos bons resultados. Para ele, será uma forma de alertar, trazendo a temática dos surdos e sua vivência em sociedade. O curso terá duração até o final do ano.

Mais informações
Secretaria Municipal de Cultura
Largo da Rffsa
Centro
Crato
Telefone (88): 3523.2365

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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