Livro conta drama de migrante em São Paulo

No início de 1990, dois jovens nordestinos invadiram um terreno e formaram uma favela na periferia da cidade de São Paulo. Três anos depois, sob forte ação de policiais militares, os moradores da comunidade acabaram sendo expulsos do local, por ordem da Justiça.

As histórias vivenciadas pelas personagens nordestinas, uma nascida em uma cidadezinha do interior do Estado da Bahia, e a outra de origem no município de Farias Brito, na região do Cariri cearense, num cenário que mescla o medo da convivência com a comercialização e o consumo de drogas ilícitas, e pobreza são contadas em um livro, recém-publicado, pelo também caririense Joilson Kariri Rodrigues, radicado há cerca de 30 anos na capital paulista.

Autor de teatro, com peças encenadas por atores consagrados no cenário nacional, Joilson Rodrigues também é compositor, fotógrafo, historiador e professor. As primeiras produções artísticas se deram por meio de sua atuação como ator, tendo encenado peças teatrais na década de 80 e participado de movimentos culturais promovidos pelo antigo jornal Folha de Piqui, na época editado no município do Crato.

Agora, enveredando pelo mundo da literatura, o artista trás a tona fatos reais narrados por quem precisou deixar para trás, além de seus familiares, as lembranças de dias difíceis, sob sol causticante e pouca comida na mesa, em busca do sonho de um trabalho certo na terra das oportunidades e de dinheiro no bolso, que serviria não apenas para a aquisição do alimento farto, mas, também, para auxiliar financeiramente, vez ou outra, aqueles que tinham ficado na terra de origem.

Penúria
Os sonhos de uma vida mais digna e menos sofrida, no entanto, para milhares de nordestinos, acabavam sendo apagados pela dura realidade imposta pelas deficiências sociais, falta de oportunidades de emprego, salários aquém da necessidade dos trabalhadores e a falta de moradia condizente as expectativas dos migrantes.

"Embora o livro trabalhe a realidade vivida por dois personagens, no caso o Júnior e o Dado, este trabalho também pode servir como base para que sejam conhecidos, sob todos os ângulos, as dores, dificuldades e sofrimentos que o povo migrante do nordeste precisou superar quando trocou sua terra de origem pela aventura de tentar crescer em São Paulo, durante as décadas de 70, 80 e meados de 90", observou o autor.

Orgulho
Conforme Joilson Rodrigues, durante as narrativas contadas a ele por Júnior e Dado, a única certeza que havia era de que, quase de maneira uníssona, o sofrimento atravessado pelos nordestinos em suas cidades natais era, drasticamente, inferior às agruras que atravessavam na cidade grande.

O orgulho de retornar de mãos vazias, no entanto, acabava falando mais alto e, mesmo sofrendo, era preferível continuar passando dificuldades em vez de voltar carregando internamente o sentimento do fracasso na busca por uma vida melhor.

"A maioria dos nordestinos passou inúmeras dificuldades naquele período. Muita gente não tinha dinheiro para comer. Alguns residiam em locais de muita carência, com esgotos correndo nas portas dos barracos, doenças de todos os tipos e, mesmo assim, preferiam permanecer onde estavam ao ter que voltar de mãos abanando", comenta o autor da obra.

A história narra um momento de extrema dificuldade dos personagens, quando toda a comunidade da favela é obrigada a deixar seus locais de moradia, em cumprimento a uma ordem judicial de despejo.

"E um momento de muita emoção narrado por quem realmente viveu aquele momento", avalia O livro, denominado "A Noite do Despejo", é comercializado por meio da Internet. O exemplar custa cerca de R$ 30.A partir desta semana, a obra também poderá ser encontrada nas lojas da Livraria Cultura, responsável pela segunda reimpressão do livro.

ROBERTO CRISPIM
COLABORADOR

Fonte: Diário do Nordeste



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