Juazeiro do Norte (CE): Cordéis raros podem ser vendidos

Orivaldo Batista é um escritor que sempre teve
o prazer de poder não apenas colecionar, mas é um
admirador da poesia libertadora. Alguns dos
 livretos raros, guardados ao longo do tempo,
 estão sendo avaliados por até R$ 15 mil
Uma das coleções de cordéis que pode ser classificada com das mais raras e antigas do Estado pode estar com os dias contados nas mãos do seu dono. São mais de 600 títulos guardados, para serem negociados principalmente com instituições. A que está mais próxima de adquirir pelo menos alguns desses folhetos é o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no Estado do Ceará. Representante do órgão esteve na região e viu de perto a coleção. Chegou, inclusive, a levar alguns deles para o Iphan, no intuito de preservá-los de forma adequada. Um dos cordéis data das primeiras edições publicadas no Brasil, de cerca de 115 anos.

Já são três anos de uma batalha para vender os seus cordéis. Orivaldo Batista é um escritor que sempre teve o prazer de poder não apenas colecionar, mas é um admirador da poesia libertadora. Ele fez parte da Sociedade dos Cordelistas Malditos, criada em Juazeiro do Norte. Mesmo de fora, diz que o grupo não acabou e que os escritores estão de plantão.

Os folhetos, que tiveram maior notabilidade no Brasil e principalmente no Nordeste brasileiro, nas primeiras décadas do século passado até os anos 1970, têm um valor sentimental agregado para ele. Mas é com a intenção de poder preservá-los que Orivaldo está procurando repassar para mãos adequadas. Ele afirma que cerca de 18 folhetos estão sendo avaliados pela historiadora do Iphan, Ítala Byanca Morais da Silva. "Será uma oportunidade de passar para o governo, que tem a condição de manter melhor esse material. Tanto que o mais antigo desses cordéis será acondicionado em material que possibilitará a maior preservação", diz ele.

Admiradora
Ele se refere ao cordel "Donzela Teodora", traduzido do Espanhol para o Português, mas sem autor divulgado. Data de 1900. A coleção que chegou às suas mãos vem sendo feita desde a sua avó, que, mesmo sem ser alfabetizada, era uma admiradora dos folhetos que circulavam com histórias pelo Nordeste e Brasil, levando a informação, o humor, a poesia, e uma comunicação atrativa e de fácil assimilação. Nas noites sertanejas, segundo Orivaldo, a sua avó convidava os vizinhos para ler os versos sextilhados à beira da fogueira, no interior de Pernambuco.

A família veio para Juazeiro do Norte. O prazer de ter em casa os livretos com os versos populares continuou com o a mãe do poeta Orivaldo e ele se apaixonou pelas letras poéticas do cordel, chegando ao ponto de também escrever os seus. Se tornou um poeta maldito, mas deixou a academia com o passar dos anos. Com as dificuldades que a vida impõe, decidiu então se desfazer do material.

Atualmente um dos locais que poderia estar com uma das maiores coleções, já deixou se perder no tempo a maioria dos cordéis raros do acervo. Da Lira Nordestina, gráfica hoje sob a administração da Universidade Regional do Cariri (Urca), restam algumas máquinas antigas. Cordelistas e xilógrafos, como José Lourenço, Cícero Lourenço, entre outros, buscam preservar e manter o espaço, num exercício de resistência, confeccionando xilogravuras.

Para ter um parâmetro maior em relação à sua coleção, Orivaldo Batista chegou a consultar o escritor, professor e pesquisador, Gilmar de Carvalho, que fez uma avaliação da importância de alguns desses cordéis, a exemplo dos mais antigos, e disse que estava dentro do orçamento de R$ 15 mil, realizado pelo próprio cordelista.

A antiga gráfica São Francisco, de José Bernardo da Silva, uma das mais importantes do Brasil, sediada em Juazeiro do Norte, hoje Lira Nordestina, nome dado pelo poeta Patativa do Assaré, deteve uma grande importância no auge das distribuições dos folhetos pelo Nordeste. O proprietário chegou a comprar os direitos autorais de títulos relevantes e publicou com sua assinatura alguns deles, mesmo não sendo poeta. Orivaldo possui cerca de oito deles em sua coleção, incluindo "A Mulher Roubada", da década de 1970.

O seu interesse maior, caso o material não seja adquirido totalmente pelo Iphan ou órgãos como museus e fundações, seja comprado por pessoas que atuam na área da pesquisa. Ele lembra do passado de glória do cordel, mas admite que não existe na região, atualmente, que já foi berço da literatura popular, uma coleção que possa ampliar o conhecimento sobre a importância histórica dessas publicações. "Podemos perceber que há um valor para o cordel, de acordo com a sua diversidade de linguagem e adequação aos tempos atuais", avalia.

Ele considera o momento de negociação com Iphan importante para que o órgão possa reconhecer a importância desse material à altura e preservar. Tanto que, no próximo mês, deverão ser levados mais folhetos antigos e avaliadas as formas mais adequadas para manter a conservação, tanto material como a digitalização das obras.

Dentro das suas possibilidades, Orivaldo procurou até hoje manter os cordéis preservados. Desde cedo percebeu a importância do material. Ele vê que, aos poucos, a sociedade tem relegado a história do cordel, por mero desconhecimento do seu papel e alcance social.

Mais informações
Orivaldo Batista
Colecionador de cordéis
Rua João Rodrigues, 137
Pedrinhas
Juazeiro do Norte 
Telefone (88) 8863- 4476

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



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