Tauá (CE): Aposentado faz 110 anos

Aposentado que ainda vivenciou situação de trabalho escravo no sertão cearense completa 110 anos hoje, nesta cidade, na região dos Inhamuns do Ceará. José Rodrigues Avelino, ‘Seu Zé Preto’, como é mais conhecido, nasceu em 1905, na localidade de Jurema, município de Independência, 17 anos após a abolição da escravatura, mas mesmo assim viveu durante a infância a condição de trabalho escravo em área rural do Estado.

O aposentado centenário é um homem humilde, trabalhador da roça que durante sua vida dedicou-se às atividades do campo, o trabalho de preparo de terra, plantio e colheita de grãos e de algodão. Lembra que o serviço começava cedo, às 5 horas da manhã. Conta que fumou durante vários anos e gostava de tomar conhaque. O almoço e jantar eram comidas típicas do sertanejo, “arroz, feijão e um pedaço de carne com osso”.

Até o início do ano passado, o idoso fazia caminhada para manter a boa saúde e a cada fim de mês ia receber o dinheiro da aposentadoria rural no banco, na companhia de um neto. Ao completar 110 anos, permanece lúcido, conversa pouco e não reclama de nenhum problema de saúde, de acordo com a filha, Francisca Rodrigues do Nascimento, 63 anos.

Atualmente, José Rodrigues Avelino mora no bairro Aldeota, nesta cidade. Até 1969 morava em Independência, quando se mudou para Tauá e foi morar na localidade de Merejo do Angico, distrito de Carrapateiras. Casado com Joaquina Dias da Silva, que morreu em abril de 2012, teve nove filhos (oito homens e uma mulher). São 40 netos, 77 bisnetos e 23 tataranetos.

Desde a morte da mulher, vive sozinho, recebe o cuidado dos filhos e leva uma vida normal apesar da avançada idade. De acordo com parentes, apresenta dificuldades para ouvir e enxergar. Recorda da chegada do trem em Crateús no início do século passado e das notícias no rádio sobre a Segunda Grande Guerra e a morte do presidente Getúlio Vargas. Naquele tempo, os acontecimentos nacionais tinham ampla repercussão e demoravam dias como assuntos principais.

O aposentado mantém uma rotina de acordar às 6h da manhã. Toma o café e gosta de ficar sentado na calçada da casa até as 10h30, observando o movimento da rua, o vai-e-vem das pessoas. Constantemente recebe visitas e ao longo da velhice sempre disse que o sucesso de uma longevidade está no trabalho, no cultivo às grandes amizades e no respeito ao próximo.

É a pessoa mais velha de Tauá e região dos Inhamuns. A pesquisa sobre sua história de vida foi realizada pelo professor Luiz Auci Oliveira. “Ele é uma memória viva de parte da nossa história”, disse. “Quando criança ainda viveu a situação de trabalho escravo, pois as mudanças nas relações de trabalho no campo, no Interior, foram lentas e chegaram tarde”.

HONÓRIO BARBOSA
REPORTAGEM E FOTO

Fonte: Diário do Nordeste



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