Semana Nacional do Forró reúne músicos sanfoneiros no Cariri

Um encontro inusitado no Cariri, durante esta Semana Nacional do Forró, foi realizado nas cidades de Crato e Juazeiro do Norte, com as novas e velhas gerações de tocadores de oito baixos. Uma troca de experiência. Desta vez, estiveram realizando apresentações no Cariri o músico Zé Calixto, da Paraíba, além dos integrantes da nova safra de tocadores de várias partes do Brasil e exterior, incluindo a francesa Milena Pastorelli. O evento foi realizado por meio da do Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBN), no Cariri, em parceria com outras instituições.

Neste dia 13 de dezembro, uma homenagem especial a um dos maiores nomes da música brasileira, que inspira o Dia Nacional do Forró. Luiz Gonzaga do Nascimento nasceu numa sexta-feira no dia 13 de dezembro de 1912, numa casa de barro batido na Fazenda Caiçara, povoado do Araripe, a 12km de Exu. A 69 quilômetros do Crato e próximo da Chapada, Gonzaga tinha uma relação especial com o Cariri. Juazeiro do 'meu padim', como dizia, e a voz que fez o romeiro olhar para o Horto em canção. O "Cratinho de Açúcar" também foi musicado pelo Rei do Baião. Ao sopé da Chapada do Araripe ele fez história, e decidiu viajar para o sul do Brasil, onde alcançou o sucesso nacional e até internacional. Mas antes, alegrou bailes, forrós e feiras do Cariri e do sertão pernambucano. Foi o maior representante da cultura nordestina.

O evento - realizado nos dias 12, no CCBN, e 13, no Centro Cultural do Araripe, em Crato - propiciou a reunião de pesquisadores, mas o público é o mais beneficiado com os acordes especiais. Na ocasião, foram relembrados músicos raros do Ceará, a exemplo de Chico Triunfo de Potengi, falecido recentemente.

Milena foi aluna do músico carioca Guilherme Maravilhas, Mará, desde os 9 anos de idade e, hoje, com 20 anos, demonstra sua grande habilidade com o instrumento de oito baixos. Ela reside atualmente em Crato, onde amplia os seus estudos relacionados ao instrumento de oito baixos. Já o mestre Zé Calixto traz a sua grande experiência com o instrumento. No de sete cordas, Walter Silva, o veterano músico, encanta os presentes com sua habilidade com o instrumento. Leo Rugero, de São Paulo, é cineasta, escritor e tocador de oito baixos, entre outros músicos.

O encontro também trouxe ao público com suas experiências com o instrumento, considerado dos mais difíceis de tocar, os músicos Mará e o mestre Chico Paes. Para os organizadores, a região do Cariri foi um dos lugares propícios para promover o encontro dos músicos de oito baixos. São poucos que tocam esse instrumento atualmente, mas a pesquisa já rendeu encontro com tocadores como Chico Triunfo de Potengi. O foco dos trabalhos está dentro da afinação nordestina.

Outro importante tocador identificado na região foi o mestre Virgínio, do Rancho Boeiro, em Barbalha. Ele deixou seis filhos e entre eles cinco são tocadores de oito baixos.

O mestre José Galvão de Oliveira possui 23 peças raras do famoso "pé de bode", um instrumento que ele calcula que em pouco mais de tempo poderá estar extinto, caso não haja um trabalho sério de resgate dessa memória. Ele toca no estilo da gaita de ponto.

Como o foco é no pé de bode, instrumento com afinação tipicamente nordestina, a pesquisa é dedicada a esse estilo do toque em oito baixos. Chico Paes, que vai completar 90 anos, dedica sua vida a esse instrumento. O encontro foi também uma homenagem ao forró pé-de-serra. Chico Paes percorreu o interior do Ceará para tocar em festas de casamento, batizado e festas de padroeiro, ao lado dos irmãos. Ao contrário de Patativa, que cantava por amor à poesia, Chico Paes fazia da arte musical uma fonte de renda.

O som dos oito baixos está nas mãos do mestre e do aprendiz. Quando se diz mestre, não é da boca pra fora. Mestre da cultura, seu Chico Paes carrega em seu currículo mais de 70 anos dedicados ao instrumento mais sertanejo do Nordeste: o pé-de-bode.

Por outro lado, o sanfoneiro Mará, com um currículo variado na área da música erudita, popular, do teatro e da dança, veio do Rio de Janeiro e está morando no Crato para se dedicar exclusivamente aos oito baixos e sua divulgação pelo Nordeste. Sua técnica está diretamente ligada ao toque de seu grande mestre, Zé Calixto, com quem tem uma grande amizade e já teve a honra de produzir seu CD - "Poeta da Sanfona", de 2007.

Mesmo com os grandes nomes reunidos, as atenções principais estavam voltadas para o fole de oito baixos e suas possibilidades na linguagem nordestina tradicional e contemporânea, além de homenagear um oito baixos: seu Chico Paes.

A região da Chapada do Araripe, historicamente, pode ser considerada como um dos berços do forró, símbolo musical da maior festividade nordestina, o São João. Retrato tão bem pintado por seu maior representante, Luiz Gonzaga, nascido em Exu, filho de Januário, exímio tocador de oito baixos, que sempre esteve tão presente na região sul cearense e foi responsável por alegrar as festas de todo cariri.

O próprio Gonzaga começou seus primeiros acordes numa sanfona de botões, assim como Dominguinhos, Sivuca, Hermeto Paschoal, entre tantos outros, que seguiam os passos dos seus pais. O fole de oito baixos é um instrumento que formatou grande parte da música nordestina e sempre esteve presente nas manifestações culturais como os reisados, as folias e as renovações.

O próprio termo, forró "pé-de-serra", tem sua origem na música de Gonzaga e Humberto Teixeira e se refere ao pé da serra da Chapada do Araripe, por onde o Rei do Baião tanto andou e se inspirou para suas músicas. Atualmente, a arte dos tocadores de oito baixos está a um passo de virar um patrimônio sem representatividade e poderá se tornar uma lembrança de tempos passados. Devido à sua difícil técnica de execução e com a popularidade do acordeon cromático, poucos se arriscam neste ofício. 

Mais informações
encontrocomos8baixos@gmail.com
Telefone: (88) 9344.0728

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



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