Juazeiro do Norte (CE): Espaço do Memorial está degradado

Um espaço dedicado à memória de Juazeiro do Norte e do Padre Cícero se encontra com sérios problemas de funcionamento. Inaugurado em 2008, o Memorial Padre Cícero, após passar por denúncias de desaparecimento de acervo, veiculadas em órgãos de imprensa nacionais, agora atravessa seu pior momento. Sem água, luz e climatização adequada, e ausência de condições para manter um espaço adequado para abrigar o seu acervo, ainda é um dos memoriais mais visitados da América Latina, recebendo a cada ano mais 60 mil pessoas, a maior parte delas romeiros e visitantes que vêm à terra do Padre Cícero. A Secretaria de Cultura admite que, em pelo menos duas semanas, um novo transformador será adquirido e a rede será restabelecida.

Fotos, objetos pessoais que pertenceram ao Padre Cícero, muitos materiais doados estão expostos praticamente no escuro. O sistema de ar-condicionado, bastante antigo, está sem funcionamento, e um transformador ligado ao espaço chegou a explodir e pegar fogo durante o mês passado, deixando o local sem condições de funcionamento, na parte do auditório com 350 assentos e que possui uma agenda intensa de eventos.

O espaço do Memorial Padre Cícero chegou a ser um dos mais privilegiados para eventos na região do Cariri. Foi sede de quatro simpósios de estudos relacionados ao sacerdote fundador de Juazeiro do Norte. Por pouco não sediou o quarto evento, realizado no começo de novembro, por falta de energia. Um gerador foi acionado de emergência para sediar a abertura.

Mudança
O pesquisador Daniel Walker, diante do quadro que se encontra o local, diz que existe apenas uma saída para os problemas crônicos do espaço, que é sair da tutela da prefeitura local e transformar o órgão numa fundação independente ou entregá-lo à administração da Universidade Federal do Cariri (UFCA). Ele cita essas alternativas, como acontece atualmente em várias cidades brasileiras. "É prática corrente e danosa os prefeitos não cuidarem bem das obras feitas pelos seus antecessores. Portanto, para quebrar esse costume melhor é tirar mesmo o Memorial da tutela municipal", enfatiza.

Uma pequena reforma chegou a ser realizada, durante a gestão passada, após passar por vários problemas de infiltração, central de ar-condicionados e as cadeiras do auditório, com 350 assentos. Apenas recuperadas, parte das cadeiras está quebrada e com madeira apodrecida. O local já passou por sucessivas administrações, por meio da Fundação Memorial Padre Cícero e, nos últimos anos, teve um trabalho de divulgação de parte do acervo, por meio de exposições realizadas em espaços como o Cariri Garden Shopping.

O que poderia ser um lugar de salvaguarda do memória do município, desde a sua fundação, acabou se tornando um local que ameaça a própria manutenção do acervo. Funcionários sofrem as limitações de poderem atuar com seus respectivos serviços. A biblioteca, por exemplo, praticamente não está recebendo visitantes em virtude da falta de ar-condicionado.

Sendo proibidas as fotografias com flashes, se torna quase impossível levar a lembrança de uma imagem focada no ambiente escuro. A ausência de manutenção fora do prédio também pode ser notada. Algumas colunas estão deterioradas ao ponto de o ferro estar exposto e paredes riscadas, pichadas, além de estarem sem cerâmicas em alguns pontos. O processo de degradação do Memorial tem sido contínuo ao longo dos últimos anos. Uma das caixas de fiações elétricas, logo na entrada da área administrativa, se encontra aberta, com os fios expostos. Um dos funcionários afirma que os eventos deixaram de ser marcados no auditório em função da falta de energia e um novo transformador deverá ser adquirido.

Doação
A maior parte do acervo do Memorial é doado. Lá podem ser encontrados desde paramentos do Padre Cícero, louças, como porcelanas e pratarias, um acervo fotográfico em exposição, baús da casa do sacerdote, além de um canhão usado na Guerra de 1914, na luta pela independência política de Juazeiro do Norte, usado pelos adversários. Quanto a um testamento do Padre Cícero, considerado um dos documentos mais importantes da cidade, há menos de cinco anos chegou a sofrer danos, por conta de uma infiltração no prédio. O material se encontra protegido por uma redoma.

O pesquisador Daniel Walker afirma que todo o acervo inicial do memorial, composto por livros, fotos, jornais, cordéis, xilogravura e documentos do Padre Cícero pertenciam a ele e ao pesquisador Renato Casimiro. "Fizemos uma estimativa de quanto gastamos para adquirir tudo e o prefeito da época, Manoel Salviano, fez o ressarcimento", disse. Ele destaca que foi um preço simbólico para a importância do material e lamenta que, ao longo do tempo, o rico acervo começou a ser dilapidado e assim foi perdida muita coisa, principalmente livros.

O acervo ainda possui uma reserva técnica sem condições para exposição, diante da situação de degradação do espaço, conforme reconhece a própria secretária de Cultura, Mali Bezerra. Ela afirma que os problemas que estão sendo enfrentados pela administração para recuperar o local têm sido imensos, já que foram administrações sucessivas em que houve esse processo e não foi feita a manutenção adequada do espaço. Quanto à falta de luz e energia, um dos dois transformadores que havia no local sumiu e o de menor potência acabou não resistindo e também está danificado. Sem o funcionamento do equipamento, há também a falta de água, já que o motor precisa de eletricidade para funcionar.

A secretária ainda destacou que o seu compromisso é deixar o local funcionando. Ela disse que os carpetes do memorial estão lá há mais de três décadas, representam risco à saúde das pessoas e serão substituídos. Os camarins, segundo ela, foram desocupados e estão em condições de funcionamento para as apresentações. A atual presidente, Solange Cruz, se encontra com problemas de saúde, desde o dia que resolveu organizar o memorial, conforme Marli. Ela não soube informar quanto será destinado à recuperação do equipamento.

Mais informações
Memorial Padre Cícero
Praça do Cinquentenário
Centro
Juazeiro do Norte
Telefone (88) 3511. 4040

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



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