Crítica: Grotesco, 'A Entrevista' retrata ditador norte-coreano como bebê

Alvo de um grupo de hackers e ameaçado de cancelamento pelo próprio estúdio que o produziu, o filme "A Entrevista" transformou-se no longa imperdível do ano.

A história de dois jornalistas que tentam assassinar Kim Jong-un, ditador da Coreia do Norte, entrou em cartaz em cerca de 300 salas dos EUA nesta quinta-feira (25), e, no dia anterior, foi disponibilizado para aluguel e compra em diversas plataformas online –ainda não há previsão para estreia no Brasil, mas cópias piratas são facilmente encontradas pela internet.

Apesar do ódio norte-coreano em relação ao filme, Kim Jong-un teria ganhado mais sem toda a confusão. "A Entrevista" possui humor tão exageradamente grotesco que o retrato do "líder supremo" passaria como uma brincadeira de crianças de boca-suja.

A começar pela primeira cena, uma garotinha norte-coreana cantando um hino anti-americano: "Acima de tudo, desejamos que os Estados Unidos explodam em uma bola infernal/ Eles são arrogantes e gordos/ Estúpidos e malvados/ Morra, América, Morra". Não há nenhuma sátira política minimamente inteligente.

Ao mesmo tempo, não estamos falando de Jon Stewart, mas de Seth Rogen e Evan Goldberg, dupla que criou os sucessos aloprados "Superbad - É Hoje!" e "É o Fim". Na primeira menção direta a Kim Jong-un, apresentadores de TV o apelidam de "Hitler moderno" ao noticiar que o país oriental teria mísseis nucleares capazes de atingir a costa oeste dos EUA.

Ao descobrirem que o ditador é fã de seu programa de entrevistas (e da série "The Big Bang Theory"), Dave (James Franco) e o produtor Aaron (Rogen) conseguem armar uma entrevista com o político em Pyongyang, capital da Coreia do Norte.

A partir desse momento, a comédia entra no modo "zoeira total" contra Kim Jong-un. Visto como "um deus que não defeca ou urina", o ditador (Randall Park) é mostrado como um bebê chorão com sérios problemas de autoafirmação gerados pelo desprezo do pai, Kim Jong-il (1941-2011). "Ele me chamava de incompetente. Sabe o que é mais destrutivo que bombas nucleares? Palavras", confessa ele para o personagem de Franco.

Conheça os momentos mais controversos de "A Entrevista":

1) Ao conhecer o apresentador Dave Skylark (James Franco), Kim Jong-un é retratado como um moleque mimado: exibe sua coleção de carros importados, entre eles um tanque russo "doado por Stalin". Dentro do veículo, o ditador confessa ser fanático pela cantora pop Katy Perry (da Sony Music, parte do conglomerado de mídia que produziu o filme) e pergunta se "margaritas são gays?"

2) Aos 56 minutos, Jong-un joga basquete em uma quadra com cestas baixas e revela a Dave que "possui ânus e que ele está fazendo trabalho extra", desmentindo a imagem de deus passada para o povo da Coreia do Norte.

3) No meio de uma orgia regada a maconha, álcool e mulheres nuas, o ditador beija o personagem de Franco na boca.

4) A general do exército norte-coreano vira a casaca e questiona: "Kim Jong-un é cruel como o pai e o avô, mas muitas pessoas o veem como deus. Como você fala para 24 milhões de cidadãos que seu deus é um assassino e um mentiroso?"

5) Kim Jong-un aparece pelado preparando-se para a entrevista.

6) O ditador é morto em seu helicóptero, prestes a disparar foguetes contra os Estados Unidos. A cena já estava circulando na internet há algumas semanas e foi motivo de controvérsia até ser amenizada pelos cineastas.

7) Uma reportagem na TV fala do "começo de uma revolução" e das "primeiras eleições democráticas" na Coreia do Norte depois da morte de Kim Jong-un. Segundo a CIA, um grupo de rebeldes estaria disposto a abrir o país para o mundo.

Fonte: Folha.com



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