Crato (CE): Projeto de incentivo à leitura é finalista do Vivacultura 2014

A leitura que sai das bodegas do Crato chegou ao Ministério da Cultura (MinC), com o reconhecimento para os pontos de leitura da comunidade do Gesso, as Higinotecas. Criado neste ano pelos integrantes do projeto Coletivo Camaradas, que atuam por meio de um conjunto de ações na área carente da cidade, o projeto foi finalista do prêmio Vivacultura 2014, na categoria Práticas Continuadas de Leitura em Contextos e Espaços Diversos Desenvolvidos pela Sociedade.

O presidente do Coletivo, o artista plástico e educador, Alexandre Lucas, esteve em Brasília nesta semana para a solenidade premiação e espera receber a quantia de R$ 20 mil para fortalecer as ações do coletivo na área e dar impulso para a criação de projetos semelhantes na cidade. A entrega do prêmio foi realizada no Salão Nobre do Congresso Nacional, em Brasília, com os 20 finalistas nacionais do prêmio.

Alexandre destaca o reconhecimento nacional do trabalho do Coletivo Camaradas com a premiação nacional, pelas ações que o projeto vem desenvolvendo de incentivo à leitura na comunidade do Gesso, por meio do Cine-Gesso, Pontos de Leituras, doação de livros, contação de histórias e trabalhos lúdicos envolvendo a literatura infantil na brinquedoteca.

O prêmio é uma iniciativa do Ministério da Cultura (MinC), do Ministério da Educação (MEC) e da Organização dos Estados Ibero-americanos para Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), com o apoio do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), da União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e da Fundação Santillana. Integra as ações do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL). Depois do Ano Ibero-americano da Leitura comemorado em 2005, foi criado o Prêmio Vivaleitura, com o objetivo de estimular, fomentar e reconhecer as melhores experiências que promovam a leitura.

Para Alexandre, o prêmio representa uma possibilidade de novas parcerias. Ele destaca que o trabalho que vem sendo feito só é possível por conta da participação da comunidade e de articulações com os movimentos sociais, o Programa de Extensão Cidade Educadora da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Projeto Nova Vida e voluntários.

Criatividade
Lucas enfatiza que o projeto de incentivo à leitura na comunidade tem como meta ampliar a visão social de mundo dos moradores e contribuir com a organização comunitária, por meio de ações criativas.

Para isso, têm sido realizadas ações contínuas na área. Ele ressalta que o reconhecimento por meio do MinC envolve trabalhos relacionados à instituições públicas e organizações não governamentais, além de pessoas físicas, ampliando as oportunidades de reconhecimento de projetos dessa natureza.

Foram premiadas quatro categorias no Vivaleitura. Atualmente o projeto conta com oito pontos de leitura nas bodegas. Esses locais, segundo Alexandre, são de fluxo permanente de pessoas de todas as idades nos bairros, e dão uma contribuição essencial para o incentivo à leitura.

De acordo com o Coletivo, as bodegas estão entre os principais equipamentos culturais dos bairros, como pontos de informação e encontro da comunidade. "É um grande fomentador", frisa. O projeto tem exatamente procurado promover esse fomento na comunidade e pode auxiliar outros grupos a realizarem iniciativas do gênero, no processo de organização social.

O Coletivo, que recebe a sua segunda premiação, desde que foi iniciado, proporciona a integração comunitária também com o projeto da Trocaria do Gesso. Alexandre não tem uma estatística de pessoas que se beneficiam desse processo, mas há uma interação maior entre moradores dos bairros Pinto Madeira, e São Miguel, sede do Coletivo. A literatura de cordel do Cariri foi a beneficiada com o primeiro prêmio, que possibilitou a publicação de alguns livretos de autores da região. Com o prêmio recente, ele afirma que poderão ser gerados novos parceiros e outras iniciativas serem desenvolvidas, para que haja uma atuação em rede.

O espaço das Higinotecas, com os velhos caixotes de madeira transformados em mostruários para a comunidade, ganha a cada dia mais adeptos da leitura. A homenagem para criação do nome do projeto, veio do vendedor ambulante Antônio Higino de Oliveira, Seu Higino. Ele usa sua Kombi para a venda de produtos e também estimula na população a leitura dos cordéis por onde passa.

Daí a inspiração que tem sido animadora também para aos bodegueiros, que passam a ser agentes participativos na comunidade. O comerciante José Nival de Oliveira é um deles. No Gesso, e bem de frente aos trilhos, ele consegue dar visibilidade maior ao seu comércio como um ponto para a locação de livros. As pessoas vão lá e pegam o seu. Depois da leitura buscam outros títulos e isso poderá demorar até 15 dias ou mais. Após a exposição dos livros, que passou a chamar a atenção entre os seus produtos, ele ficou animado, com a adesão da freguesia. Se tornou mais um produto, agora para formação comunitária e ele diz que é importante ter mais livros, no intuito de levar a leitura à comunidade.

Comerciantes têm papel fundamental na Higinoteca
Crato. Para ter acesso aos livros nas bodegas, as pessoas preenchem uma ficha de catalogação. São cerca de 30 títulos em cada caixote. Essa é uma forma de reconhecer a relevância da educação popular, além do incentivo à leitura da literatura de cordel. Segundo o coordenador dos trabalhos, Alexandre Lucas, a meta é chegar às outras comunidades da cidade e levar às bodegas um produto diferenciado e gratuito para as pessoas terem acesso de forma democrática a uma biblioteca.

"Os comerciantes têm um papel fundamental, pois a ideia é que eles se tornem uma espécie de ativistas culturais e bibliotecários da comunidade", afirma Alexandre. Após receber os livros, passam a gerenciar a Higinoteca e, não só isso, mas são incentivadores do processo, além de conseguirem novos livros para o acervo. Acaba sendo uma forma de campanha que funciona com empréstimo e doação dos livros pela própria comunidade, multiplicando, com isso, a quantidade de leitores no bairro.

Segundo o coordenador, o trabalho maior da equipe do Coletivo Camaradas será de acompanhar o fluxo dos empréstimos e quais as demandas de leituras mais solicitadas. "Contar com o auxílio dos comerciantes para serem intermediários no processo é um dos grandes trunfos, para que possa ser encaminhado e ter um acompanhamento organizado", avalia. Dentre esses, inclui o "Seu" Higino, que inspirou o nome da ação cultural. O projeto conta com parceria institucionais, mesmo sem repasses financeiros, como a Universidade Federal do Cariri (UFCA), por meio do Programa de Extensão Paideia Cidade Educadora e secretarias municipais.

O funcionamento do que Alexandre também designa de 'bocas' de leitura começa a ser realizado justamente após um ano de realização do projeto Trocaria do Gesso, ponto de partida para todo o trabalho que vem sendo desenvolvido atualmente. A iniciativa visa proporcionar a oferta de produtos com a realização de uma espécie de escambo com a comunidade. Em torno das atividades foi iniciada uma ação voltada para a integração maior dos moradores, com oficinas de arte, ações em parceria com instituições públicas.

O Coletivo Camaradas já vem desenvolvendo trabalhos na comunidade desde 2008 e, a partir do ano passado, vem tendo uma atuação mais consistente, inclusive alugado uma sede na própria comunidade. "Os camaradas vêm se utilizando de processos criativos e lúdicos, visando contribuir com a organização dos moradores", diz. A leitura, com isso, passa a ser, para os integrantes do coletivo, uma dessas ferramentas para ampliar a visão de mundo. (E.S.)

Mais informações
Coletivo Camaradas
Comunidade do Gesso
Telefone: (88) 9661-6516

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



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